As agressões e ameaças contra jornalistas e a mídia durante os dias de protestos sociais e vandalismo entre abril e junho, bem como o assassinato de um jornalista e intimidações foram os acontecimentos mais preocupantes neste período.
O Ministério de Tecnologias de Informação e Comunicações encerrou antes do previsto e sem beneficiários a convocação pública para os meios de comunicação que desejavam ter acesso aos recursos destinados para sua transformação digital. A iniciativa foi aprovada pelo Congresso no ano passado e tinha como objetivo incentivar a recuperação da mídia do impacto da pandemia.
A Associação Colombiana de Meios de Informação (AMI) lamentou a decisão, mas afirmou estar confiante que o governo e o Congresso vão trabalhar em políticas públicas para promover o fortalecimento da mídia.
O incidente mais grave ocorreu em 19 de setembro. O jornalista Marcos Efraín Montalvo foi assassinado em Tuluá, Valle del Cauca. Montalvo trabalhou para o diário El País, de Cali, para as estações de rádio Radio Reloj e La Cariñosa, no semanário El Tabloide e no jornal La Variante. De acordo com as autoridades, seu assassinato estaria diretamente relacionado ao seu trabalho jornalístico. O jornalista tinha feito reportagens com denúncias sobre corrupção. A Procuradoria-Geral priorizou seu caso, e as entidades regionais ofereceram recompensas para pistas sobre os criminosos.
A Fundação para a Liberdade de Imprensa (FLIP) registrou mais de 300 agressões à imprensa durante os protestos. Os jornalistas às vezes ficavam no fogo cruzado entre manifestantes e policiais. No entanto, a maioria das agressões foi proveniente do governo.
A FLIP registrou 181 incidentes contra a imprensa, incluindo agressão física, assédio, detenção ilegal, obstrução do trabalho jornalístico e ameaças. Também registrou 79 atos de danos à infraestrutura de meios de comunicação, meios de transporte, ameaças a jornalistas, assédio, estigmatização, agressões nas redes sociais e obstrução ao trabalho jornalístico.
Outros fatos relevantes:
Em 8 de junho, o jornalista Pincen Mora, da estação de rádio Extrema Noticias, foi o alvo de um atentado em Medellín, Antioquia. Oito homens armados atiraram em sua casa e na sede da estação de rádio, onde tentaram entrar. Mora havia denunciado irregularidades na venda de terrenos no seu bairro.
Entre 13 e 22 de junho, os jornalistas do departamento de Córdoba, Rafael Gómez, Édgar Astudillo, Organis Cuadrado e Rafael Moreno foram ameaçados de morte.
O jornalista Andrés Benavides, diretor da estação de rádio comunitária Paraíso Stereo em Puerres, Nariño, tem recebido intimidações. Em 1º de setembro ele foi interceptado numa estrada por três homens que o abordaram e o ameaçaram porque ele era o diretor da estação de rádio.
Em 24 de setembro, o jornalista Juan Pablo Barrientos foi notificado de sete ações de tutela movidas por vários padres do departamento de Meta, que estão tentando censurar seu livro Este é o cordero de Dios. As ações pedem que a reprodução, comercialização e venda do livro sejam suspensas e que Barrientos revele as fontes que ele utilizou para escrevê-lo. O livro conta a história de um sobrevivente de abuso sexual cometido por 38 padres da Arquidiocese de Villavicencio.
Em 31 de agosto, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) concedeu medidas cautelares aos jornalistas José Alberto Tejada e Jhonatan Buitrago do Canal 2 em Cali, considerando-os em situação de risco.
Um projeto de reforma do Código Eleitoral está sendo analisado pela Corte Constitucional, e várias organizações expressaram preocupação porque ele poderia afetar a liberdade de expressão nas redes sociais.
É igualmente preocupante o Projeto de Lei 600 de 2021, que exige que os provedores de serviços de internet e os meios de comunicação assumam a responsabilidade de proteger os direitos das crianças e adolescentes por conteúdos considerados prejudiciais.
Um aspecto positivo foi o Projeto de Lei 090 de 2021 que limita o uso do sistema judiciário como um mecanismo para intimidar a imprensa livre por meio de processos que carecem de base probatória e que não buscam reparação de danos.
Em dezembro, terminará o prazo prescricional para o assassinato do jornalista Álvaro Alonso, morto em 23 de dezembro de 2001 e que fazia matérias sobre corrupção no departamento de Magdalena. Escobar substituiu Hernando Rangel Moreno, que havia sido morto em 11 de abril de 1999, como editor do jornal Región. Édgar Ariel Córdoba Trujillo, ex-integrante do grupo de autodefesa, foi ligado ao seu assassinato, mas a justiça ainda não foi capaz de estabelecer quem foram os autores materiais.
A Corte Interamericana de Direitos Humanos condenou o Estado colombiano pela tortura, sequestro e estupro da jornalista Jineth Bedoya, em fatos ocorridos em 2000, quando ela realizava um trabalho de investigação na prisão La Modelo, de Bogotá.
A decisão questionou severamente a violação dos direitos da vítima às garantias judiciais, a ausência de proteção judicial e igualdade perante a lei devido à falta de diligência na condução das investigações sobre os fatos acima mencionados, a natureza discriminatória das investigações mencionadas com base no gênero e a violação do prazo razoável.
Da mesma forma, alertou para "indícios sérios, precisos e consistentes da participação do Estado nos eventos mencionados".
A corte também aceitou a alternativa do Estado para a criação do Centro Histórico de Memória "No es hora de callar", que será um lugar de memória e dignidade para todas as mulheres vítimas de violência sexual no contexto de conflitos armados e jornalismo investigativo, com reconhecimento específico do trabalho das mulheres jornalistas. "No es hora de calar" é o nome da campanha lançada por Bedoya, que atualmente trabalha como editora do jornal El Tiempo, para lutar contra todas as formas de abuso que afetam as mulheres.