Declarações agressivas e estigmatizantes contra a imprensa feitas por líderes políticos durante a campanha eleitoral para a presidência e o Congresso, assim como ameaças e casos de assédio judicial contra jornalistas foram os acontecimentos de maior destaque contra a liberdade de imprensa.
A campanha política realizada num contexto de polarização ideológica produziu declarações condenáveis sobre jornalistas e veículos de comunicação por funcionários do governo e candidatos a cargos públicos.
De acordo com a Fundação para a Liberdade de Imprensa (FLIP), 13 casos de estigmatização da mídia foram registrados nos últimos três meses: sete por funcionários públicos e seis por candidatos ao Congresso e à presidência.
Um dos casos mais marcantes, por envolver um candidato à presidência, é o de Gustavo Petro, líder do movimento Pacto Histórico. Petro usou a expressão "neonazistas no RCN" no Twitter, aludindo a uma coluna que criticava sua proposta para aposentadorias.
Em outro incidente, o candidato à presidência Enrique Gómez Martínez disse no Twitter que "vários meios abraçaram as bandeiras do narcotráfico", fazendo referência às matérias publicadas em Vorágine, Cambio e El Espectador sobre questões relacionadas a uma operação do Exército que deixou 11 mortos. A FLIP repudiou essa acusação e disse que, além de ser infundada, procura deslegitimar o trabalho dos jornalistas, mas que sobretudo, os coloca em perigo.
Foi motivo de preocupação também o comportamento do prefeito de Medellín, Daniel Quintero, que usou suas redes para desqualificar o trabalho do jornal El Colombiano, de Medellín. No final de janeiro, ele postou na sua conta no Twitter, acompanhada de um comentário irônico, uma falsa primeira página do jornal sem esclarecer que estava reproduzindo material apócrifo.
Ameaças e ataques continuam sendo aspectos alarmantes para o exercício da liberdade de imprensa. Em 3 de abril, um carro funerário perseguiu o carro de Cecilia Orozco, diretora da Noticias Uno, por quatro quilômetros. O motorista do veículo foi abordado pela polícia e não deu explicações satisfatórias, e o incidente foi interpretado como um ato de intimidação.
Em 19 de janeiro, uma explosão de um carro-bomba atribuída a dissidentes das FARC destruiu as instalações do Trochando Sin Fronteras, veículo de comunicação impresso e digital, e da estação de rádio comunitária Sarare Stereo, em Saravena, departamento de Arauca. Dias antes, sete jornalistas haviam denunciado ter recebido ameaças dos dissidentes das FARC e do ELN - grupos que disputam o controle de aluguéis ilegais – que tentavam pressioná-los a fazer publicações alinhadas a seus interesses.
Em relação ao assédio judicial, prática cada vez mais frequente, quatro casos chamaram a atenção e serviram como alerta nesse período. As jornalistas Claudia Báez e Diana Salinas, do Cuestión Pública, foram intimadas numa ação movida contra elas pelo presidente do Senado, Juan Diego Gómez, por terem feito revelações que o comprometem e que foram publicadas no trabalho investigativo "Sabemos lo que hiciste en la legislatura pasada" ("Sabemos o que você fez na última legislatura").
Outro caso é o do jornalista Carlos Cortés, processado pelo advogado Abelardo de la Espriella por um tuíte contra ele. No seu tuíte, Cortés afirma que De la Espriella "promove e aumenta a desinformação na Colômbia". Por essa mesma mensagem, o advogado também moveu ação de responsabilidade civil contra o jornalista.
Outro caso envolve Gabriel Angarita, jornalista de Cúcuta, que foi intimado a comparecer para uma audiência de conciliação após uma queixa do empresário Victor Manuel Carillo, que já havia tentado dificultar seu trabalho através de uma ação de tutela.
Um quarto caso é o do jornalista Juan Pablo Barrientos, autor de um livro no qual denuncia vários casos de abuso e assédio sexual de menores por padres. No final do ano passado, em apenas um mês, Barrientos teve que enfrentar sete ações de tutela que tentavam violar a confidencialidade da fonte e censurar a publicação de seu livro. Essas ações foram movidas por vários padres de Meta.
É motivo de preocupação a falta de respostas, de avanço nas investigações e de conclusões sobre as alegações de monitoramento ilegal e profiling de jornalistas por parte do setor de inteligência do exército.
Um tribunal de Bogotá condenou Ariel Ortega a 76 meses de prisão por fazer ameaças contra os jornalistas Julio César González Quiceno (cartunista conhecido como Matador), Daniel Samper Ospina e María Antonia García de la Torre. Entre março e abril de 2018, Ortega compartilhou várias mensagens de ameaça de morte em sua conta no Twitter nas quais aludia à falta que faziam as FARC para calar a imprensa.
Com relação a projetos de lei e normas regulamentares que coloquem em risco o livre exercício da imprensa, um artigo que facilitava a censura na lei anticorrupção não foi aprovado. O artigo sancionava, através do cancelamento do status legal, organizações comunitárias que fizessem denúncias consideradas infundadas contra funcionários públicos e ex-funcionários públicos.
Após a advertência do presidente Iván Duque de que ele se oporia à lei se ela fosse aprovada com o artigo em questão, o Congresso encontrou uma maneira de não o incluir no texto final da lei durante a fase final da conciliação. Duque declarou que a Colômbia, como signatária, a pedido da SIP, da Declaração de Chapultepec, não concorda com nenhuma "mordaça à liberdade de imprensa".
Por outro lado, é motivo de inquietação a possibilidade de os canais privados de televisão estarem sujeitos a novas regulamentações que aumentem sua desvantagem em relação às plataformas digitais. A preocupação é sobre o papel da Comissão Reguladora de Comunicações. Os canais reclamam que procuram limitar sua liberdade de programação e impor conteúdos no horário nobre. Esta situação os coloca em desvantagem competitiva, desencoraja os investimentos e pode cercear suas liberdades.
O projeto de lei 600 de 2021, que está sendo discutido na Câmara dos Deputados, continua sendo motivo de preocupação. Ele cria uma Comissão de Peritos desnecessária, dada a existência da Comissão Reguladora de Comunicações, e poderia se transformar numa forma de censura prévia, uma vez que teria o poder de controlar uma variedade de conteúdos que, de forma preliminar e genérica, fossem considerados como capazes de violar a integridade moral, psicológica ou física de crianças e adolescentes. O projeto de lei aguarda um segundo debate.
Outro caso é o da objeção presidencial ao projeto de lei 473, sobre a revogação da prorrogação dos prazos para responder aos pedidos de informação das autoridades. Para a FLIP, a objeção da presidência é uma grave violação do acesso à informação pública, que prejudica a liberdade de imprensa e a capacidade de investigação jornalística, uma vez que os jornalistas não podem acessar esse tipo de informações em tempo hábil. A questão será reexaminada na Câmara.
O projeto de lei 090 de 2021, que está entrando em seu segundo debate, visa eliminar o mecanismo de abuso do sistema jurídico para intimidar e censurar assuntos de interesse público.
Há a preocupação de que mais casos de jornalistas assassinados prescrevam em breve, somando-se aos 92 que chegaram a essa fase em 2021. Em 23 de janeiro prescreveu o assassinato de Marco Antonio Ayala, ocorrido em Cali em 2002. Entre abril e dezembro deste ano, os prazos prescricionais para os seguintes crimes ocorridos em 2002 terminarão: Walter López (Valle del Cauca), Héctor Sandoval (Valle del Cauca), Víctor Omar Acosta (Valle del Cauca), Efraín Varela Noriega (Arauca), Elizabeth Obando (Tolima), Mario Prada Díaz (Santander), Dennis Segundo Sánchez Lora (Carmen de Bolívar) e Gimbler Perdomo Zamora (Huila).