Jorge Canahuati - Discurso de encerramento e abertura

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77ª Assembleia Geral da SIP
22 de outubro de 2021
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Discurso de encerramento e abertura

Da 77ª Assembleia Geral da SIP

Jorge Canahuati

Presidente de saída e novo presidente da SIP (2020 – 2022)

22 de outubro de 2021

Existe um grupo na SIP formado por seus ex-presidentes. Eles têm uma tarefa específica: preservar a tradição e a sabedoria da organização. São eles também que nomeiam os dirigentes seguintes. Eu estava destinado a me juntar a esse grupo e desfrutar da minha merecida "aposentadoria" depois de muito trabalho, mas parece que eles ainda não me acham digno de estar com eles, ou eles não me querem, porque me forçaram a ser presidente por mais um ano.

Deixando as brincadeiras de lado, sinto-me honrado, mas acima de tudo lisonjeado e privilegiado por continuar à frente desta instituição. Muito obrigado por sua confiança. Aceito este novo desafio com o mesmo entusiasmo que tive no primeiro dia do meu mandato no ano passado, e espero poder utilizar bem toda a minha experiência nesse próximo ano.

A tarefa de promover o nosso setor é colossal. A pandemia desencadeou e agudizou uma crise que vinha afetando nosso setor há décadas.

Estamos diante de uma grande dicotomia. Nunca na história a mídia foi tão valorizada aos olhos do público e como um pilar da democracia, mas, ao mesmo tempo, está enfraquecida economicamente. Sabemos que qualquer estratégia de sustentabilidade depende, antes de mais nada, da qualidade do conteúdo e, em segundo lugar, da inovação e da forma como adotamos novas tecnologias. Este é o maior desafio e responsabilidade da mídia.

A fragilidade do setor exige a responsabilidade de todos os setores. Não somos os únicos que pedem por isso. Este ano, foi o secretário-geral da ONU, António Guterres. Ele pediu que a comunidade internacional buscasse soluções conjuntas para a mídia. Afirmou que estamos numa época perigosa, falou da "extinção da mídia", diante de uma perda estimada em 30 bilhões de dólares no último ano. Ele pediu que se garanta financiamento suficiente, tanto privado quanto público, para que a mídia possa continuar desempenhando seu papel essencial nas sociedades.

Esses quatro dias da 77ª Assembleia Geral da SIP foram um reflexo dessa dicotomia. Vimos como os meios utilizam a tecnologia, desde o Clarín até a Vocento, para encontrar novos públicos, ou como o The New York Times e o El País da Espanha têm a qualidade do conteúdo como principal foco para serem sustentáveis. Vimos o valor do jornalismo para a verdade e a democracia com as descobertas dos Pandora Papers, mas também como Daniel Ortega ou Nicolás Maduro atacam o La Prensa e El Nacional. E soubemos também, infelizmente, que o governo colombiano voltou atrás e não deu à mídia fundos para ajudá-la a superar a crise e a abraçar a transformação digital.

E também tivemos a oportunidade de falar sobre o poder imensurável das grandes plataformas digitais. Esse poder que elas podem usar para ajudar a mídia, mas também para continuar fazendo com que tenham perdas. As plataformas devem finalmente ver que elas são corresponsáveis pela crise do nosso setor. Elas absorveram entre 60 e 80 por cento da publicidade em nível global e continuam usando o conteúdo noticioso que nos custa muito trabalho e muito dinheiro, para continuar tendo lucros que não compartilham.

A este respeito, eu quero ser enfático. Continuaremos trabalhando com as outras associações regionais e globais de mídia, como fizemos este ano. Vamos traçar novas estratégias para continuar pedindo pagamento pelo conteúdo e observando o que está sendo feito na Austrália, Europa, EUA e Canadá por meio de acordos voluntários ou obrigatórios por lei. Isso não significa que não estejamos gratos por todos os programas que as grandes plataformas oferecem à mídia. Mas também não impede que continuemos a exigir acordos que devam ser justos, equitativos e universais.

Este ano, também quero enfatizar a necessidade de continuar buscando parcerias com diferentes setores, públicos e privados, que ajudem a mídia, como pediu Guterres. É por isso que vamos tentar continuar obtendo fundos por meio de mecanismos oficiais, mas sempre por meio de políticas que devem ser transparentes, não discriminatórias e que respeitem a independência editorial da mídia. Acredito que organizações como o Banco Centroamericano de Integração Econômica, que esteve representado nesta assembleia, ou o Banco Interamericano de Desenvolvimento, que esteve conosco em abril, e outras organizações como o Banco Mundial e a Corporação Andina de Fomento, possam ajudar diante da emergência que a mídia enfrenta.

Isto não implica que estejamos pedindo esmolas, subsídios ou que somos os novos mendigos da sociedade. Pelo contrário, como eu disse antes e reafirmo agora, deve haver uma responsabilidade social quanto à permanência da mídia. Em comunidades que ficaram sem veículos de comunicação ou com uma mídia enfraquecida, aumentaram as notícias falsas, a desinformação, as mentiras, teorias da conspiração, a injustiça e a corrupção.

A viabilidade e a permanência do jornalismo e da mídia independentes são essenciais para nações livres, justas e democráticas.

Nesse próximo ano, continuaremos trabalhando em parceria com organizações como a Alianza de Medios do México, a FLIP da Colômbia e o Grupo Robert Kennedy nos EUA para continuar lutando contra a impunidade que cerca a violência contra os jornalistas. Como soubemos ontem, de acordo com dados da UNESCO deste ano, sete em cada dez mulheres jornalistas sofreram violência on-line.

Portanto, é urgente tomar medidas para reduzir as desigualdades estruturais e culturais que afetam as mulheres e para reduzir as disparidades de gênero em nossas redações e especialmente nos quadros executivos da mídia. Durante esses dias, tivemos a oportunidade de ouvir mulheres líderes no jornalismo, como Gabriela Cañas, Pepa Bueno, Ana María Reyes, Martha Ramos, Camila Zuluaga, Antonia Urrejola, Argelia Perozo, María Elvira Domínguez, Estephanía Pérez, Erika Guevara, Gabriela Vivanco, Inés Aizpun, Maribel Pérez, Susana Mitchell, Leonor Mulero, Florencia Fernández, Emilia Díaz-Struck, Mónica Almeida, María Lorente, Ivett Chicas, Candela Martin de Cabiedes, Nohora Galán e María Cristina Capelo, para citar apenas algumas de vocês. Ouvimos vocês e sabemos que com seu exemplo e seus esforços criaremos meios de comunicação mais plurais e diversificados. Estamos também comprometidos em realizar mais eventos que destaquem a liderança das mulheres no nosso setor.

Com o passar das semanas, prometo a vocês que teremos definido os detalhes das novas estratégias para o trabalho deste ano. Primeiro eu vou ouvir a todos e especialmente às pessoas que pedi que me ajudassem nesta tarefa, que, quero enfatizar, terá como objetivo continuar apoiando nossos associados, para tornar a mídia sustentável e capaz de continuar contribuindo para a tarefa essencial de defender e promover a liberdade de imprensa e de expressão, conforme afirmam nossas declarações de Chapultepec e de Salta.

Pedi que se juntassem a mim neste novo ano, como presidentes de comissões:

Em Liberdade de Imprensa, Carlos Jornet, Argentina, a quem agradeço novamente pela liderança este ano e por saber que com você, Carlos, estaremos muito bem representados.

Nas subcomissões dessa comissão, pedi a Armando Castilla, México, que fosse responsável por Chapultepec; Juan Francisco Ealy Lanz-Duret, México, por Impunidade; e Laura Puertas, Panamá, por Salta.

Em Assuntos Internacionais, Miguel Otero, Venezuela;

em Prêmios, Leonor Mulero, Porto Rico;

em Finanças, María Eugenia Mohme, Peru;

em Auditoria, Pedro Rivero, Bolívia;

em Assuntos Jurídicos, Martín Etchevers, Argentina;

em Filiação, Gabriela Vivero, Argentina.

em Membros, Gabriela Vivanco, Equador

em Arrecadações e Investimentos, Sebastián Pastor, Honduras;

e para Internet, Martha Ramos, México

Sei também que continuarei a ser acompanhado pelos presidentes do Instituto de Prensa e Bolsas de Estudo: Ernesto Kraiselburd, Argentina e Gilberto Urdaneta, Venezuela, respectivamente. Assim como por José Roberto Dutriz, como presidente do Comitê Executivo, e, especialmente, continuarei a contar com o forte apoio de Michael Greenspon, EUA, como primeiro vice-presidente da SIP, e Roberto Rock, México, como segundo vice-presidente.

Agradeço a todos antecipadamente pelo trabalho que faremos no próximo ano, sempre em busca de cumprir a nossa missão e promover os interesses profissionais de nossos mais de 1.000 associados.

Quero agradecer todo o apoio da administração do escritório: Melba Jiménez, Martha Estrada, Paola Dirube, Ana María Pérez, Horacio Ruiz e Ricardo Trotti.

Desejo ardentemente que esse ano seja uma oportunidade para que a sociedade continue valorizando ainda mais a mídia e a nossa missão essencial, como SIP, de defender a liberdade de imprensa e ajudar a construir mais democracia, e prometo que trabalhei para que seja assim.

Obrigado.

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