A epidemia que mais afeta o país é a repressão, que aumentou nos últimos seis meses e impôs penas severas para os muitos cidadãos que participaram dos protestos de 11 de julho de 2021.
Um novo Código Penal, tão retrógrado quanto o anterior e que fornece proteção exagerada aos governantes em detrimento dos cidadãos, logo entrará em vigor.
Um jornalista preso, um banido como condição para sua libertação, outro agredido por pessoas com habilidades em artes marciais e toda a imprensa independente sob vigilância, além de ameaças intermitentes (só restam em Cuba menos de cinquenta pessoas, entre diretores, fotógrafos e designers). Tudo isso demonstra a precariedade da liberdade de expressão em uma sociedade esgotada pela desvalorização da moeda e uma emigração compulsiva que já ultrapassou os números da Crise dos Balseiros da década de 1990.
Nos últimos meses, a maioria das pessoas envolvidas no trabalho da imprensa independente, assim como centenas de cubanos que postaram conteúdos críticos ao regime, sofreram várias ameaças de diversos tipos e assédio policial, sobretudo em meados de novembro, quando centenas de cubanos foram interrogados e ameaçados para que fossem impedidos de divulgar ou registrar o protesto nacional convocado para 15 de novembro ou de expressar simpatia a ele.
Continua bastante hostil o ambiente para a liberdade de imprensa, e o único aspecto positivo é o número cada vez maior de cubanos que se conectam à internet, que consomem e disseminam informações alternativas às informações oficiais. Além disso, a ETECSA, que detém o monopólio estatal das comunicações, continua sendo um instrumento de censura e cyberbullying, bloqueando websites de meios de comunicação e ONGs que criticam a ditadura, promovendo a vigilância cibernética, cobrando preços altos por serviços ruins e cortando seletivamente as comunicações de jornalistas e ativistas.
Lázaro Yuri Valle Roca, um dos dois jornalistas cubanos atualmente presos, é um exemplo de tudo o que a ditadura cubana persegue. Ele foi preso em 15 de junho de 2021 por filmar e divulgar o lançamento de folhetos com frases de ativistas pró-independência do século 19 em uma rua central de Havana. Desde então, ele só saiu da prisão para ser levado aos hospitais, devido a complicações de saúde. Ele enfrenta um pedido de seis anos de prisão pelos crimes de "propaganda inimiga" e "resistência".
O repórter Jorge Bello Domínguez foi condenado a 15 anos de prisão pelo crime de "desacato" depois de participar dos protestos de 11 de julho. Yoandi Montiel, ou "El Gato de Cuba", youtuber bastante conhecido, também foi condenado pelo mesmo crime e está preso há mais de um ano e meio após zombar do ditador Miguel Díaz-Canel em um vídeo.
O jornalista Esteban Rodríguez foi libertado em janeiro depois de passar mais de oito meses na prisão sem julgamento, mas teve que aceitar o exílio em troca de sua libertação. Ele havia sido preso por participar de um protesto em Havana. Além de Rodríguez, deixou também o país o jornalista Héctor Luis Valdés, que declarou que tinha aceitado o exílio como condição para que libertassem seu amigo Rodríguez. Este foi o primeiro caso, desde 2016, de colaboração repressiva entre Cuba e outro governo da região contra jornalistas, a Nicarágua, neste caso, cujas autoridades de imigração proibiram a entrada em Manágua, seu destino, deixando-os encalhados no aeroporto de San Salvador. Pouco tempo depois, o filho de Juan Manuel Moreno, editor de uma newsletter independente, sofreu o mesmo tratamento quando tentou ir de avião para a Nicarágua, o único país da região que não exige visto para os cubanos e de onde eles tentam chegar aos EUA por terra.
O projeto do novo Código Penal pode agravar a repressão. Ele impõe pesadas penas de prisão para qualquer pessoa envolvida no envio, transmissão ou recebimento de fundos a organizações não reconhecidas pelo Estado, inclusive a mídia independente e as ONGs que monitoram violações dos direitos humanos.
Além disso, mantém a pena de morte e formaliza as sentenças de prisão perpétua e a expulsão do país para cidadãos cubanos.
O capítulo sobre "Propaganda contra a ordem constitucional" prevê quatro anos de prisão para qualquer pessoa que "incitar contra a ordem social, a solidariedade internacional ou o Estado socialista reconhecidos na Constituição da República, por meio de propaganda oral ou escrita ou de qualquer outra forma". Aplica de três a oito anos de prisão a qualquer pessoa que "ataque a honra ou dignidade do chefe de um Estado estrangeiro", um escudo para ditadores estrangeiros amigos do regime.
O artigo 185 sobre "desacato" impede qualquer questionamento das autoridades e seus agentes. "Quem ameaçar, caluniar, difamar, insultar, proferir injúrias ou de qualquer forma ultrajar ou ofender, por palavra ou por escrito, em sua dignidade ou decoro, um funcionário público, autoridade ou seus agentes ou auxiliares, no exercício de suas funções" será punido com seis a doze meses de prisão e uma pesada multa. Se a ofensa for contra o presidente ou outras autoridades hierárquicas, a punição é de um a três anos.
Também é punível com um ano de prisão a "publicação clandestina", ou qualquer pessoa que "faça, divulgue ou circule, sob qualquer forma, publicações, sem indicar a impressora ou o local de impressão ou sem cumprir as regras estabelecidas para a identificação de seu autor ou sua origem, ou que as reproduza, armazene ou transporte".
Dezenas de pessoas receberam ameaças por acusações de "instigação para cometer um crime" antes de 15 de novembro por divulgarem a convocação para o protesto daquele dia nas redes sociais.
O artigo 270 do Código Penal também impõe penas de seis a doze meses e penas pesadas a qualquer pessoa que difame os heróis e mártires do regime.
Vários jornalistas cubanos no exterior, como Karla Pérez, estão proibidos de entrar na ilha. Vários jornalistas independentes também estão proibidos de deixar o país, incluindo Yoe Suárez, Rosalia Viñas, María Matienzo, Boris González Arenas, Camila Acosta, Rolando Rodríguez Lobaina, Claudia Montero, Fabio Corchado, Reinaldo Escobar, Luz Escobar, Iris Mariño, Henry Constantin, Mary Karla Ares, Juan Manuel Moreno e Yunier Gutiérrez, assim como a designer da revista Convivencia, Rosalia Viñas, e a diretora do La Hora de Cuba, Iris Mariño.
O caso de Yoan de la Cruz é emblemático, mas não o único, de uma pessoa condenada à prisão por transmitir ao vivo os protestos de 11 de julho nas mídias sociais. Ele foi condenado a seis anos de prisão.
Nesse período, mais pessoas foram multadas nos termos do Decreto 370, que regulamenta as redes sociais e permite o confisco de telefones celulares de usuários que critiquem o regime. Entre elas, Saily González e vários parentes de Jonatan Lópex, preso político, assim como Henry Constantin.
O acesso às informações oficiais é muito reduzido. O segredo de Estado continua em vigor. O governo publica estatísticas escassas, seus funcionários publicam mensagens elogiando o regime nas redes sociais, e a mídia oficial continua fazendo sua propaganda.
Durante este período, foram presos os seguintes jornalistas: Pedro Luis Hernández, Camila Rodríguez, Orlidia Barceló, Martha Sánchez, Alberto Corzo, Juan Manuel Moreno, Mabel Páez, Yanela Reyes, María Matienzo, Yadiris Luis, Yoe Suárez, Héctor Luis Valdés, Yoel Acosta, Rolando Rodríguez, Yanaisy Quezada, Flora Quiñones, Héctor Miguel Sierra, Yeris Curbelo, Niober García, Ariosmi Ramos, Reina Baños, Diznaikis Hernández, Ever Fonseca, Raúl Pérez, Frank Abel García, Melba González, Yunieski Ferrer, Laritza Contreras, Carlos Manuel Cárdenas, Dallan Calderín, Sheila Delgado, Israel López, Luisbel Piloto, Reisel Acosta, Fernando Donate, Orelvys Cabrera, Henry Constantin, Neife Rigau e Vladimir Turró.
Os mandados de prisão domiciliar afetaram os seguintes repórteres: Luz Escobar, Iris Mariño, Neife Rigau, Claudia Montero, Fabio Corchado, Reinaldo Escobar, Yoani Sánchez, Henry Constantin, Abraham Jiménez, Yadiris Luis, Flora Quiñones, Héctor Luis Valdés, Héctor Miguel Sierra, Yohandri Salas, Aimé Redondo, Amaury Sáenz, Josué Peraza, Yusleidy Romero, Rosaida Crespo, Moisés Corona, Daniel Tamayo, Onelcys Díaz Becerra, Jorge Luis Romero, María del Carmen Vergara, Jorge Enrique Rodríguez, Martha Liset Sánchez, Alberto Corzo, Pedro Luis Hernández, Ariosmi Ramos, Yaima Cabrera e Duznaikis Hernández.
Os seguintes profissionais da imprensa foram vítimas de ameaças e agressões psicológicas durante intimações ou prisões arbitrárias: Luis Cino, Yoe Suárez, María Matienzo, Sol García, Nachely Rivero, Henry Constantín, Yanela Reyes, Yadiris Luis, Orelvys Cabrera, Jorge Amado Robert, Mary Karla Ares, Yander Serra, Yeris Curbelo, Niober García, Yunieski Ferrer e Laritza Contreras.
Em 2 de fevereiro, durante a prisão dos repórteres Neife Rigau e Henry Constantín, a fala de um policial explicitou o sentimento do regime contra a imprensa independente: "Eu arrancaria os olhos dessas pessoas".