As ameaças aos jornalistas, somadas à perseguição judicial por meio de ações utilizadas como censura indireta compõem o cenário de dificuldades para o exercício da liberdade de imprensa.
Em novembro, a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados decidiu a favor do projeto de lei "Da proteção a jornalistas, comunicadores e defensores dos direitos humanos", apresentado pelas deputadas Roya Torres e Esmérita Sánchez (PLRA) e Rocío Abed (ANR) para fornecer aos profissionais da mídia uma estrutura jurídica adequada para sua profissão.
Destaca-se também, nesse semestre, o não cumprimento da Lei de Acesso à Informação Pública pela Itaipu Binacional.
Outro caso de ocultamento de informação ocorreu no Banco Central do Paraguai (BCP). O Senado solicitou ao banco documentações referentes a lavagem de dinheiro e empréstimos concedidos pelo ex-presidente Horacio Cartes envolvendo a quebra da Financiera Ara e Ramón González Daher. O banco forneceu um documento de mais de 100 páginas totalmente ilegível, com conteúdo rasurado.
Acontecimentos relevantes nesse período.
Em outubro, a juíza Olga Ruiz González declarou a extinção da ação movida pela empresa Green SA contra o jornalista do ABC Color, Juan Carlos Lezcano. A empresa o havia processado pelas matérias que escreveu sobre uma licitação que foi declarada irregular.
Em novembro, os advogados Raúl Prono e Arturo Daniel, representantes do jornal La Nación, denunciaram que pessoas não identificadas haviam utilizado o logotipo do jornal para difundir uma notícia falsa no Twitter. A investigação ficou a cargo de Irma Llano, promotora da Unidade de Crimes Informáticos da procuradoria.
Em dezembro, Flavio Acosta Riveros, um dos assassinos do jornalista do ABC Color, Pablo Medina, e de sua assistente, Antonia Almada, mortos em 16 de outubro de 2014 em Villa Ygatimí, departamento de Canindeyú, foi declarado culpado pelo Tribunal do Júri de Curitiba, Brasil, e condenado a 36 anos de prisão.
Em janeiro, o prefeito de Asunción, Óscar Rodríguez, em transmissão na rádio 650 AM, acusou a mídia de fazer uma campanha de desprestígio contra ele. Nos meses anteriores, havia publicado a mesma acusação nas suas redes sociais contra o ABC Color.
Em janeiro, a Itaipú Binacional enviou uma nota ao Supremo Tribunal de Justiça chamando de inconstitucional o recurso anteposto pelas deputadas Kattya González (PEN) e Édgar Acosta (PLRA) diante das repetidas recusas da entidade em fornecer informações públicas.
Em janeiro, o juiz criminal Agustín Delmás acolheu o recurso do jornalista do ABC Color, Juan Carlos Lezcano, e ordenou à Controladoria-Geral da República (CGR) que publicasse as declarações juramentadas de bens e rendimentos de todos os funcionários públicos para os anos de 2020 e 2021.
Em janeiro, Bruno César Benítez, apresentador do programa "Info Mañanero" na rádio La Voz FM em Capiibary, departamento de San Pedro, denunciou um atentado cometido por desconhecidos que atiraram contra seu carro enquanto ele trabalhava.
Em janeiro, o tribunal presidido pelo juiz Víctor Alfieri condenou o jornalista Marcos Velázquez a um ano e nove meses de prisão por difamação, calúnia e injúria contra Alejandro Domínguez, presidente da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), e impôs uma multa de 20 milhões de guaranis.
Um caso semelhante aconteceu em dezembro com o jornalista César Ávalos, que foi condenado a um ano e seis meses de prisão por calúnia e difamação contra o presidente da Conmebol, que o processou por uma publicação feita mais de dois anos atrás em sua conta no Twitter.
Em fevereiro, o julgamento da diretora do ABC Color, Natalia Zuccolillo, e do jornalista do ABC Color, Juan Carlos Lezcano, foi adiado. Os dois haviam sido processados em setembro de 2019 pela ex-vice-ministra de Tributação, Marta González, após matérias sobre irregularidades na sua administração. As matérias que motivaram a ação criminal são baseadas em dados públicos da Direção-Geral de Contratações Públicas do Ministério da Fazenda.
Em fevereiro completaram-se dois anos do assassinato do jornalista brasileiro Leo Veras, morto por homens armados em sua casa em Pedro Juan Caballero. O crime levou à criação do Comitê de Segurança Institucional para Jornalistas como uma tentativa de dar garantias aos jornalistas diante da ascensão da máfia da fronteira. O suposto autor do assassinato, Waldemar Pereira Rivas, deverá em breve enfrentar juízo oral e público.
Em março, durante a primeira sessão do ano da Câmara dos Deputados, a deputada Cristina Villalba (ANR) convocou um debate sobre o "narcojornalismo", apontando o jornalista Pablo Medina, do ABC Color, que foi assassinado em 2014, como "uma das vítimas". A deputada acrescentou a pergunta: "quanto era o salário de Pablo Medina, o que o obrigou a fazer parte de um sistema?", insinuando que o jornalista estava envolvido com o tráfico de drogas. Deve-se lembrar que, em 2014, dias após o assassinato de Medina e de sua assistente Antonia Almada, o promotor Javier Díaz Verón informou que a deputada Villalba lhe havia pedido para interceder pelo então prefeito da cidade de Ypehu, Vilmar Acosta, que foi condenado em 2017 a 39 anos de prisão pelo duplo homicídio, antes que um mandado de prisão fosse emitido para ele e se tornasse público que ele era um suspeito.
Em março, em audiência telemática perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), Ana Morra e Dante Leguizamón, viúva e filho do jornalista Santiago Leguizamón, assassinado em 1991, acusaram o general Andrés Rodríguez, ex-presidente do Paraguai, e o traficante de drogas Fahd Jamil Georges, atualmente preso no Brasil, de serem os autores morais do crime. A audiência é parte do processo pelo qual a CIDH definirá as medidas de reparação a serem tomadas pelo Estado paraguaio para o assassinato do jornalista. As partes devem apresentar seus argumentos finais até 25 de abril.