A liberdade de imprensa está em franca deterioração como resultado das ações do governo, especialmente do Ministério Público e do Congresso.
O governo do presidente Alejandro Giammattei mantém uma relação tensa com a imprensa independente desde o início. Qualquer pessoa com opiniões diferentes é considerada um inimigo, adversário ou agitador.
Nesse clima de animosidade contra a imprensa, o Ministério Público (MP) tem atacado jornalistas proeminentes conhecidos por sua constante denúncia da corrupção pública. O caso mais flagrante é a prisão de José Rubén Zamora, presidente de elPeriódico, e Flora Silva, diretora financeira desse mesmo jornal que investiga e denuncia a corrupção. São também marcantes os casos de Juan Luis Font, do meio digital e televisivo "Con Criterio", e de Carlos Choc, da Prensa Comunitaria, contra quem um juiz declarou infundadas as acusações feitas contra ele como resultado de sua cobertura de uma manifestação contra uma mina em Izabal.
Os ataques contra a imprensa são uma reação a acusações de supostos crimes do Ministério Público ou de organizações como a "Fundação contra o Terrorismo" (FCT), do governo, lideradas pelos advogados Ricardo Méndez Ruiz e Raúl Falla, recentemente incluídos na Lista Engel dos EUA, acusados de obstrução à justiça. Os ataques também são feitos pelo atual promotor contra a impunidade, Rafael Curruchiche.
No último ano, a FCT moveu várias ações criminais contra profissionais de justiça independentes, a maioria juízes e ex-procuradores que investigaram casos de corrupção de grande impacto. Também apoiou oficiais militares acusados de violar direitos humanos e condenou o julgamento do ex-general Efraín Ríos Montt por genocídio.
A estratégia do Ministério Público para os casos de grande interesse público tem sido "mantê-los sob reserva", o que significa que não se divulga nenhuma informação a respeito nem confirma se o caso existe.
Em 29 de julho, o Ministério Público ordenou a prisão do presidente do elPeriódico, José Rubén Zamora, que permanece preso. Ele é acusado de lavagem de dinheiro, tráfico de influência e chantagem.
Zamora está sendo submetido às medidas típicas de atrasos nos processos judiciais: prisão na sexta-feira, apresentação perante um juiz no sábado, para que o preso permaneça em prisão preventiva - não são concedidas medidas alternativas - atraso da primeira audiência perante o juiz e imposição de um adiamento do julgamento de três a quatro meses, a fim de manter a pessoa na prisão.
Quando Zamora foi preso, invadiram também as instalações do elPeriódico. Os promotores e agentes da Polícia Nacional Civil (PNC) mantiveram no local oito funcionários durante 16 horas e impediram a entrada de funcionários da gráfica no jornal. O jornal só circulou no dia seguinte porque outros meios de comunicação imprimiram seus exemplares.
Em 20 de agosto, o Ministério Público também prendeu e acusou Flora Silva, diretora financeira do elPeriódico, de lavagem de dinheiro, implicando-a no caso Zamora.
Os meios de comunicação que fizeram a cobertura da batida policial e das prisões de Zamora e Silva mostraram a participação de veículos não identificados com placas tampadas nas operações. Os órgãos responsáveis disseram que não sabiam quem usou os veículos.
De acordo com jornalistas e com os parentes de Zamora, as provas do Ministério Público não têm fundamento. O caso perante o Ministério Público é baseado no testemunho de uma pessoa que foi acusada de lavagem de dinheiro em 2016 e 2017. A defesa de Zamora alega uma possível adulteração de provas pelo Ministério Público.
Em abril de 2022, o jornalista Juan Luis Font deixou o país em meio a rumores de que seria preso. Desde então, ele transmite seu programa de opinião "Con Criterio" de um local não revelado. Não se sabe de nenhuma informação ou ação contra ele. O jornalista afirma que teme por sua segurança física e jurídica.
Vários jornalistas continuam sendo acusados ou investigados pelo suposto crime de feminicídio. Este é o caso dos diretores do diário La Hora, Óscar Clemente Marroquín e Pedro Pablo Marroquín. Uma juíza ordenou que eles não podem "perturbar" Alejandra Carrillo, ex-deputada e atual diretora do Instituto da Vítima. O jornal publicou matérias questionando o trabalho de Carrillo por oferecer cargos para pessoas próximas a deputados. Carillo é a esposa do deputado Felipe Alejos, incluído na lista Engel dos EUA, acusado de favorecer elites corruptas.
Promotores do Ministério Público também ordenaram que vários jornalistas e meios de comunicação revelassem suas fontes de informação em casos em que juízes e promotores denunciaram ameaças e intimidações.
Em 29 de julho, a Associação de Jornalistas da Guatemala (APG) apresentou seu relatório semestral, no qual foram registradas 66 violações da liberdade de expressão. O relatório revela que os principais agressores são a presidência da República, o Judiciário e a polícia.
Durante esse período, aumentou o uso de netcenters que seriam administrados por pessoas próximas ao governo para desacreditar e atacar jornalistas. Os ataques são feitos nas redes sociais utilizando informações privadas dos jornalistas ou fotos de parentes próximos e cônjuges. Outra maneira de intimidar os jornalistas é colocar fotos suas nos seus perfis no momento em que estão trabalhando ou fazendo entrevistas.
As autoridades muitas vezes se recusam a fornecer informações aos jornalistas, seja evitando coletivas de imprensa ou impedindo acesso a informações. Houve casos também de pressão do governo sobre anunciantes privados para que retirassem ou reduzissem a publicidade em mídias que fazem críticas ao governo.
Este ano, um projeto de lei contra o crime cibernético, que teria permitido que funcionários públicos processassem qualquer pessoa que considerassem tê-los "ofendido" nas mídias sociais, foi arquivado. Um projeto de lei que autorizava a Polícia Nacional Civil e o exército a interromper violentamente as manifestações civis também foi arquivado.