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Retrocessos na democracia

Laura Chinchilla: "O autoritarismo avança quando a democracia não responde"

Na reunião de Meio Ano da SIP, a ex-presidenta conversou com o acadêmico Silvio Waisbord

24 de abril de 2025 - 17:55

Miami (24 de abril de 2025) — Em uma das sessões mais reflexivas da primeira jornada da Reunião Virtual de Meio Ano 2025 da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), a ex-presidenta da Costa Rica, Laura Chinchilla, manteve uma profunda conversa com o acadêmico argentino Silvio Waisbord sobre os desafios estruturais, sociais e políticos que ameaçam a sustentabilidade das democracias nas Américas.

Chinchilla, a primeira mulher a ocupar a presidência de seu país (2010–2014), alertou que “a democracia não pode ser dada como garantida”, observando que mesmo as democracias mais estáveis estão passando por um processo de deterioração, alimentado pelo desencanto da população, pela ineficácia do Estado e pelo avanço do autoritarismo. “Até as democracias mais consolidadas estão sofrendo retrocessos”, advertiu.

Segundo Chinchilla, as raízes da crise são profundas: “Quase 75% da população latino-americana acredita que os governos governam para as elites e não para a maioria. Mais de 50% se sentem inseguros no seu cotidiano, e um número crescente está disposto a aceitar um governo não democrático se isso resolver suas demandas.” Essa percepção de abandono, afirmou, levou a uma perda dramática de confiança nas instituições centrais do sistema democrático. “Apenas 13% confiam nos partidos políticos, 20% nos parlamentos e 25% no poder judiciário”, disse.

Waisbord, professor da Escola de Mídia e Assuntos Públicos da Universidade George Washington, concordou que a combinação de medo, incerteza e alienação política está sendo aproveitada por lideranças populistas que propõem soluções autoritárias, muitas vezes à custa de direitos e liberdades fundamentais.

Ambos concordaram que reverter essa tendência exige mais do que reformas políticas. “É necessária uma verdadeira reforma do Estado que dê aos governos instrumentos eficazes para responder de forma oportuna às necessidades da cidadania”, disse Chinchilla. E acrescentou: “O exemplo dos Estados Unidos, com uma democracia paralisada por uma vetocracia, mostra como a ineficiência institucional pode enfraquecer até as democracias mais antigas.”

A conversa também abordou a necessidade de repensar os sistemas de representação política e promover mecanismos participativos que reconstruam o vínculo entre cidadãos e instituições. “As pessoas se sentem afastadas do sistema. Quando conseguimos que participem, que fiscalizem, que tomem decisões, as instituições ganham legitimidade”, observou a ex-presidenta.

A sessão apresentou um diagnóstico lúcido e urgente sobre o declínio democrático na região, mas também uma proposta de reconstrução baseada em maior eficácia estatal, representação genuína e abertura a novas formas de participação.

Sobre os painelistas:

Laura Chinchilla foi presidenta da Costa Rica (2010–2014) e exerceu cargos importantes como ministra da Segurança Pública, ministra da Justiça, deputada e vice-presidenta. Atua como consultora internacional e acadêmica em instituições como a Universidade Georgetown, o Tecnológico de Monterrey e a Universidade de São Paulo.

Silvio Waisbord é professor na Escola de Mídia e Assuntos Públicos da Universidade George Washington, autor e editor de 20 livros sobre comunicação, política e mídia, e ex-presidente da Associação Internacional de Comunicação. É doutor em Sociologia pela Universidade da Califórnia em San Diego.

A SIP é uma organização sem fins lucrativos dedicada a defender e promover a liberdade de imprensa e a liberdade de expressão nas Américas. É composta por mais de 1.300 publicações no Hemisfério Ocidental e tem sede em Miami, Flórida, Estados Unidos.

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