Colômbia

Aa
$.-
COLÔMBIA A maneira como o conflito armado está afetando a imprensa foi mais uma vez comprovada pelos fatos registrados nos últimos seis meses. A maior parte dos atos de violência contra jornalistas e meios foram realizados por algum dos atores armados desse conflito interno que criou um clima de intimidação e ameaça. Durante esse período, 14 jornalistas foram seqüestrados e cinco assassinados. Em alguns casos, ainda não se estabeleceu se essas mortes estão relacionadas ao exercício da profissão. Quatro comunicadores abandonaram o país devido a ameaças contra suas vidas. No campo jurídico-legal foram registrados fatos positivos, tais como os progressos da Procuradoria Geral em vários processos de assassinato de jornalistas e pronunciamentos do Tribunal Constitucional e do Conselho de Estado eliminando normas restritivas no rádio e na televisão. Seguem-se, em ordem cronológica, os principais fatos ocorridos no campo da liberdade de imprensa desde a Assembléia de Houston, realizada em outubro: 21 de outubro – O jornalista Roberto Julio Torres, redator do jornal Meridiano, de Sincelejo, e repórter de uma estação de rádio de Cartagena, foi assassinado por cinco indivíduos que o retiraram de sua residência em San Onofre, departamento de Sucre. Torres havia sido ameaçado um ano antes em panfletos anônimos que o vinculavam à guerrilha de Eln. Algumas versões afirmam que a morte de Torres poderia estar vinculada ao fato de que ele também cobria brigas de galo na região onde se fazem apostas em elevadas somas de dinheiro. O crime continua sem solução. 26 de outubro – O repórter gráfico da agência de notícias Reuters, Henry Romero, foi seqüestrado nas montanhas do Vale do Cauca por um grupo guerrilheiro do Eln. O jornalista estava no local para fazer a cobertura da libertação de um grupo de seqüestrados em uma igreja de Cali, em 30 de maio. O Eln ameaçou julgar Romero por ter publicado a foto de um dos chefes guerrilheiros. Depois do protesto nacional e internacional que suscitou tal ameaça, o fotógrafo da Reuters foi solto em 3 de novembro. 29 de outubro – Sete jornalistas de diferentes meios de comunicação foram seqüestrados por um grupo guerrilheiro das FARCs perto do porto petroleiro de Barrancabermeja. Os comunicadores haviam sido convidados por esse mesmo grupo para fazer a cobertura da retirada de camponeses da região por forças militares. O evento provocou marchas de protesto em diversas cidades e os jornalistas foram liberados em 2 de novembro. 4 de novembro – 27 meios de comunicação do país assinaram um “acordo de discrição” por meio do qual se comprometeram a ser responsáveis e moderados na cobertura de notícias violentas. O acordo inclui normas sobre linguagem e edição de imagens chocantes. 6 de novembro – Jorge Luis Utría, secretário de imprensa de um congressista do departamento de Cesar, foi seqüestrado junto com o parlamentar pela guerrilha do Eln no município de Curumaní. Ambos foram liberados em 12 de novembro com um comunicado do grupo subversivo, no qual se acusa políticos locais de “corrupção e roubo de fundos públicos”. 10 de novembro – Uma frente das FARCs seqüestrou um grupo de cinco comunicadores que se dirigia à Serra Nevada de Santa Marta para cobrir um suposto massacre realizado por um comando militar. Os guerrilheiros ameaçaram os jornalistas se divulgassem informações sobre as atividades paramilitares e os libertaram poucos dias depois. 14 de novembro – Uma bomba de vários quilos de dinamite destruiu parte das instalações e equipamento do jornal El Tiempo, em Cali, e feriu três funcionários do jornal. O atentado foi reivindicado por um grupo que se autodenomina “Resistência Patriótica Colombiana”, supostamente a serviço dos narcotraficantes. O atentado contra o El Tiempo ocorreu três dias depois de um carro bomba explodir em Bogotá deixando um saldo de seis mortos e 46 feridos, depois que o governo do presidente Pastrana anunciou sua intenção de extraditar vários narcotraficantes presos. 20 de novembro – O Conselho de Estado advertiu a Comissão Nacional de Televisão (CNTV) de que não pode tomar decisões que violem o princípio constitucional da liberdade de expressão. O pronunciamento do alto tribunal originou-se em uma resolução da CNTV de agosto de 1999, que ordenou a suspensão de um programa popular de televisão que abordava problemas de sexo e relacionamentos. 26 de novembro – O colunista e caricaturista do jornal El Nuevo Siglo, Alvaro Montoya Gómez, anunciou que renunciava a sua coluna semanal devido a ameaças de morte contra ele e sua família. 28 de novembro – O jornalista Luis Alberto Rincón e o cinegrafista Alberto Sánchez Tovar foram assassinados na área rural de El Playón (Santander) quando iam realizar uma gravação das eleições para prefeito nesse município, no qual se denunciou a presença de grupos paramilitares. Ainda não foram descobertos o motivo ou autores do crime. 5 de dezembro – Pablo Medina Motta, cinegrafista de um canal local de televisão, foi morto durante um ataque guerrilheiro à cidade de Gigante, no departamento de Hila. Medina havia ido até o local em companhia de um chefe de polícia. Seu veículo foi interceptado por guerrilheiros que atiraram várias vezes em sua cabeça. O policial conseguiu escapar do atentado. 9 de dezembro – Carlos Pulgarín, correspondente do El Tiempo em Montería, saiu do país após repetidas ameaças contra sua vida devido a informes sobre a ação do Exército nessa região do país. O jornalista afirmou que o subcomandante da Brigada militar da região o havia acusado de ser simpatizante da guerrilha. Pulgarín foi transferido pelo jornal para Barranquilla e Bucaramanga e continuou recebendo ameaças. O correspondente viajou então para Lima, Peru, onde foi acolhido pelo Instituto de Imprensa e Sociedade do Peru, e ali foi novamente ameaçado com chamadas telefônicas que o advertiam que mesmo que tentasse se esconder seria encontrado e morto. Ainda não se esclareceu a origem das ameaças, mas não restam dúvidas de que provêm das mesmas pessoas que obrigaram Pulagrín a se exilar. Um editorial do El Tiempo questionou seriamente o comportamento do comandante militar em questão. O jornalista encontra-se atualmente na Espanha e o jornal sustenta seu exílio nesse país. 22 de dezembro – O colunista do El Espectador, Eduardo Pizarro, foi ferido com vários disparos quando se dirigia à universidade na qual leciona. Supõe-se que o atentado tenha sido obra de alguns dos grupos armados, pois Pizarro criticava tanto a guerrilha quanto os paramilitares. Depois de se recuperar de seus ferimentos, Pizarro viajou para o exterior, onde continua escrevendo suas colunas. 12 de janeiro – O suposto assassino do jornalista e humorista Jaime Garzón, Juan Pablo Ortiz Agudelo, foi capturado em Medellín por agentes da procuradoria. Segundo a polícia, Ortiz Agudelo pertence a um grupo de pistoleiros a serviço de paramilitares e narcotraficantes. O assassinato de Garzón, em 13 de agosto de 1999, provocou uma das maiores manifestações de protesto já realizadas na Colômbia nos últimos anos. 15 de janeiro – A Procuradoria Geral divulgou um informe no qual apresenta os progressos obtidos pela unidade especial encarregada de investigar o assassinato de jornalistas e que foi criada depois da visita a Colômbia de uma missão da SIP. A procuradoria ativou 16 processos que estavam parados e informou que foram detidas 18 pessoas, entre elas, pela primeira vez, o suposto autor intelectual do assassinato de um jornalista: trata-se de um prefeito da cidade de El Blanco (departamento de Magdalena), acusado da morte do jornalista Hernando Rangel Moreno, morto em 11 de abril de 1999 nessa cidade. 20 de janeiro – O Tribunal Constitucional declarou inexeqüíveis várias normas do Estatuto de Radiodifusão que estabeleciam restrições sobre o decoro e o bom gosto no rádio. O Tribunal também declarou que os humoristas podem fazer piadas com a realidade nacional e imitar os personagens públicos sempre que não haja intenção de confundir a opinão pública. Determinou também que bruxos, cartomantes e médiuns podem anunciar seus serviços no rádio. 21 de janeiro – O empresário de comunicação e diretor do conselho editorial do noticiário de televisão “Hora Cero”, Guillermo Cortés, foi seqüestrado por uma frente das FARCs em sua casa de campo a 60 km de Bogotá. O seqüestro de Cortés fez com que os diretores de meios informativos do país deixassem de participar da instalação da Mesa de Diálogo do Governo com esta organização guerrilheira na área desmilitarizada de Caguán. Mesmo com os reiterados pedidos da impresa, Guillermo Cortés, de 73 anos, continua em poder das FARCs. 23 de janeiro – A Procuradoria anunciou que Fernando Bermúdez Ardila será levado a julgamento como suposto autor intelectual do assassinato do jornalista Nelson Carvajal, ocorrido em abril de 1998 na localidade de Pitalito (Huila). Carvajal dirigia um noticiário radial que se destacava por suas denúncias contra a corrupção administrativa e a violência guerrilheira nessa região do país. 26 de janeiro – A jornalista da RCN Televisión, Astrid Legarda, foi ferida no estômago com um estilhaço de granada durante um combate entre o Exército e as FARCs na cidade de Guayabetal (Cundinamarca). A jornalista foi atendida em um hospital do local e teve alta após 20 dias. 30 de janeiro – O chefe máximo do grupo guerrilheiro das FARCs, Manuel Marulanda, conhecido como Tirofijo, ameaçou os diretores dos meios de comunicação do país dizendo que “têm muitas dívidas conosco e isso lhes deve ser cobrado”. A declaração de Marulanda foi feita poucos dias depois de os diretores de meios se negarem a participar da cerimônia de instalação da mesa de diálogo entre o governo e esse movimento subversivo. 6 de fevereiro – Fabio Leonardo Moreno Abello, apresentador de rádio e televisão do canal local de Barrancabermeja, foi assassinado pelas FARCs junto com seu irmão, John Jairo, cinegrafista do mesmo canal. O fato ocorreu em Girón (Santander) quando os dois se encontravam com o chefe de um grupo guerrilheiro do Epc, com o qual as FARCs haviam tido sérios conflitos. 10 de fevereiro – O proprietário da emissora Ecos de la Sierra, Antonio Gómez Gómez, foi assassinado em sua residência no município de Ciénaga (Magdalena) por um grupo de homens encapuzados quando assistia televisão com sua família. Gómez era chefe comunitário em uma região na qual são freqüentes os confrontos entre guerrilheiros e paramilitares. Gómez também era proprietário de um negócio de rifas e loteria e algumas fontes sugerem que sua morte pode estar vinculada a esses negócios. O crime continua sem solução. 12 de fevereiro – Dois veículos das cadeias de rádio RCN e Caracol foram queimados por um grupo do Eln em San Luis. Os guerrilheiros informaram aos ocupantes dos dois veículos que o ato era resultado dos comunicados de imprensa que haviam sido emitidos pelo governo e o Exército. 6 de março – O mais antigo e popular apresentador da televisão colombiana, Fernando González Pacheco, disse que sairia do país devido a ameaças contra sua liberdade. O anúncio causou consternação nacional visto que ao longo de 40 anos na televisão González conquistou o coração dos colombianos. 11 de março – O chefe de redação do El Tiempo, Francisco Santos Calderon, abandonou o país depois de recebidas repetidas ameaças contra sua vida. Além de seu trabalho como jornalista, Santos converteu-se em um ativo líder de protestos contra a violência e o seqüestro. Os indícios revelam que as ameaças contra Calderon provém de um comando das FARCs.

Compartilhar

0