Estados Unidos

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ESTADOS UNIDOS Parece que a liberdade de imprensa nesse país voltou-se contra si mesma. A questão atual é saber se os meios são livres demais. Esse debate teve origem devido à reviravolta na cobertura dos detalhes da saga sexual de Monica Lewinsky e o que foi considerado como excesso na cobertura do julgamento de OJ. Simpson. Ao acompanhar a história do relacionamento de Lewinsky com o presidente Bill Clinton, os meios viram-se imersos em uma série de escândalos que revelaram lapsos éticos que abrangiam desde uma nota do CNN/Time Magazine que afirmava falsamente que as forças especiais dos Estados Unidos utilizaram gás asfixiante durante a guerra do Vietnã, até as afirmações do Cincinnati Enquirer que desautorizavam uma nota sobre as operações da companhia Ciquita Banana na América Central. Quase simultaneamente, vários jornalistas foram despedidos sucessivamente por inventar histórias enquanto trabalhavam para jornais de prestígio tais como o Boston Globe (que despediu dois de seus principais colunistas) e o The Wall Street Journal, enquanto a revista New Republic descobriu que um de seus redatores havia apresentado informações fictícias como corretas em praticamente todos os artigos que escreveu. Robert Giles, que dirige o Centro de Estudos em Nova York, observou: "Houve mais mea culpas este ano do que em qualquer outra época da história". Em contraste, Jonathan Broder foi destituído do cargo de chefe de escritório da Salon, uma revista on line, em Washington por contestar publicamente uma nota publicada em 16 de setembro que revelava que Henry Hyde, presidente da Comissão de Justiça da Câmara dos Representantes, responsável pelas investigações para o impeachment de Clinton, havia mantido uma relação extramarital. "Estamos vivendo na era da desconfiança pública dos meios", manifesta John Seigenthaler, fundador do First Amendment Center, que acrescenta que "existe uma grande hostilidade contra a Primeira Emenda" - que proíbe que o Congresso aprove leis que limitem a liberdade de imprensa e de expressão. Na conferência anual de subdiretores da Associated Press, realizada em outubro, as pesquisas realizadas pelo Centro de Estudos de Meios do Freedom Forum, mostraram que aproximadamente nove de cada 10 norte-americanos acreditam que os jornalistas recorrem a métodos ilegais ou contrários à ética. Por outro lado, uma pesquisa realizada em 8 de outubro revelou que o público tem uma opinião melhor sobre a cobertura realizada pelos meios do caso Lewinsky. A cobertura global foi considerada por 52% dos entrevistados como boa, em comparação com 32% em janeiro. Persistem, porém, as críticas públicas contra os meios. As pesquisas mostram que quase a metade dos norte-americanos pensam que os meios foram injustos com o presidente Clinton. O nível de credibilidade dos repórteres somente chega a 30%. Dentro desse contexto, a imprensa continua sua batalha contra as tentativas jurídicas para impedir que os repórteres entrevistem membros do júri e que os privilégios jornalísticos sejam cerceados. The New York Times, The Wall Street Journal, New York Daily News, Newsday e The New York Post uniram-se à NBC-TV na contestção de uma sentença emitida em setembro pelo Segundo Tribunal de Recursos de Nova York, a qual constitui uma ameaça ao direito de um jornalista de reter suas notas com base em confidencialidade. Em outubro, o Supremo Tribunal ratificou as decisões que negavam o acesso dos meios a processos judiciais e documentos relacionados a investigações do Tribunal de Investigação Preliminar sobre o relacionamento do presidente Clinton com Lewinsky. Jane Kirtley, diretora executiva da Comissão de Repórteres para a Liberdade de Imprensa, adverte que o Departamento de Justiça dos Estados Unidos "com freqüência infringe os direitos da Primeira Emenda ao perseguir jornalistas que abraçam causas impopulares". Kirtley mencionou uma investigação do FBI sobre James Sanders, um jornalista independente que sustenta que o vôo 800 da TWA foi derrubado por um míssil antiáereo. Em 30 de setembro, o governador da Califórnia Pete Wilson aprovou um projeto de lei que, segundo temem os especialistas em direito, restringirá os direitos dos jornalistas a receber notícias. Conhecida com a lei "stalkerazzi", foi introduzida devido à morte da Princesa Diana em um acidente automobilístico, quando seu carro foi perseguido por uma horda de paparazzi. Esta lei protegeria as celebridades do que o presidente da Associação de Atores Cinematográficos de Hollywood qualificou de "comportamento voyeurista". Um juiz federal do Tennessee determinou em 24 de setembro que o jornal alternativo Pumam Pit não obedecia os direitos da Primeira Emenda sobre registros computadorizados que mostrariam se os funcionários municipais encontravam-se pesquisando web sites de esportes, compras, entretenimento e até pornográficos ao invés de estar trabalhando. O jornal apresentará um recurso. Os jornais Los Angeles Times e The Washington Post abriram um processo em 28 de setembro, alegando que uma organização de direita chamada Free Republic estava violando os direitos autorais do jornal ao colocar seus artigos em seu web site. A Free Republic ridiculariza a cobertura dos jornais, alegando que estas tendem a favorecer o presidente Clinton. Em 9 de outubro, o Chicago Sun-Times, um de pelo menos uma dezena de jornais que estão na mira de um grupo racista branco, obteve uma ordem de restrição para impedir que os internautas sejam desviados de seu web site para outro que preconiza a supremacia branca. Em 21 de outubro, o Supremo Tribunal de Iowa ratificou uma decisão de um tribunal de segunda instância que rejeitou uma indenização de 2,4 milhões de dólares a um advogado que afirmava ter sido difamado quando um jornal informou erroneamente que ele havia declarado falência, por causa de uma confusão de nomes. O juiz declarou que o júri havia agido passionalmente ao castigar o jornal por seu erro. O Supremo Tribunal determinou que nem o advogado nem sua empresa foram prejudicados pelas informações erróneas. Em 2 de novembro, o Tribunal Superior da Califórnia confirmou uma indenização de US$1,17S milhão a Khalid Khawar por danos causados por uma notícia publicada em um tablóide que mostrava a fotografia de Khawar como se fosse a do assassino de Robert F. Kennedy. A foto apareceu originalmente em um livro obscuro que afirmava que Kennedy havia sido assassinado por um fotógrafo paquistanês. O tablóide The Globe argumentou que o artigo sobre o livro era uma "reportagem neutra". A Associated Press posicionou-se a favor do The Globe. A juíza Joyce Kennard determinou que as acusações contra cidadãos comuns não são protegidas pela Primeira Emenda. Richard Jewell, incorretamente mencionado como suspeito no atentado a bomba contra a vila olímpica em Atlanta, continua abrindo processos por difamação contra os meios de comunicação. Está atualmente processando o The New York Post e pedindo IS milh ões de dólares, assim como o Atlanta Joumal - Constitution. Jewell já fez um acordo com a NBC supostamente por SOO mil dólares e com a CNN por uma soma não revelada. O 4"Tribunal de Recursos de Richmond, Virginia, confirmou a ordem de um juiz de prender um repórter porque esse se recusou a revelar suas fontes. Cory Reiss, do Moming Star de Wilmington, Carolina do Norte, revelou detalhes sobre um acordo secreto, no valor de US$36 milhões entre a companhia de petróleo Conoco e os moradores de uma área contaminada. A companhia concordou em não exigir a prisão de Reiss enquanto o processo estiver na fase de apelação.

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