Os meios de comunicação independentes continuam enfrentando sérias dificuldades pelas providências e decisões tomadas contra elas pelo governo do presidente Evo Morales, que lhes atribui o papel de opositores, em um ambiente onde a oposição política está debilitada. Empenhado em buscar a sua reeleição (algo que a Constituição não permite), é imprevisível a atitude que o chefe de Estado manterá em relação à mídia, frente ao lançamento antecipado da campanha eleitoral de 2014.
A Autoridade de Telecomunicações e Transporte (ATT) decidiu aumentar em 30% a quantidade de radioemissoras de frequência modulada nas principais cidades, supostamente para democratizar a comunicação. Em um espaço onde caberiam 40, agora haverá 65. A estratégia é tornar mais difícil a sua existência, já que precisarão competir muito mais em um mercado publicitário deficiente.
O discurso oficial beligerante se traduziu em uma ação judicial contra a Agência de Notícias Fides e os jornais El Diario e Página Siete. Foram acusados do crime de incitar o racismo por reproduzirem algumas expressões do presidente Morales em um ato público em agosto passado. Discursos incendiários questionando o trabalho dos jornalistas e da mídia converteram-se em uma convocação dos movimentos sociais que respaldam o presidente Morales, para ameaçar e/ou agredir os comunicadores.
Um relatório da Unidade de Monitoramento da Associação Nacional da Imprensa (ANP, em espanhol) assinalou que em 2012 foram registrados 33 incidentes violentos contra jornalistas. No final de outubro, pessoas encapuzadas atacaram com gasolina e coquetéis molotov o jornalista crítico Fernando Vidal, proprietário da Rádio Popular em Yacuiba, na fronteira com a Argentina. Vidal sofreu graves queimaduras em quase todo o corpo. Também foi agredida neste ataque a operadora da emissora Karen Delgado. O radialista vinha denunciando casos de corrupção das autoridades locais. Apesar da detenção de algumas pessoas, o caso ainda não foi esclarecido.
Em 12 de fevereiro, a repórter de televisão Hanalí Huaycho Hannover foi assassinada na cidade de El Alto, em La Paz, sendo acusado como suposto autor, de aparente motivação passional, o companheiro da vítima, o oficial de polícia Jorge Clavijo. Posteriormente, vários jornalistas que protestavam à frente dos tribunais foram agredidos pelas forças policiais.
Na segunda-feira, 11 de fevereiro, a correspondente Claudia Soruco do jornal El Día, de Santa Cruz, levou uma surra em um bairro residencial da cidade sede do governo, em uma ação que a agredida classificou como racista e atribuiu a um grupo de desconhecidos.
Em 22 de janeiro, durante mais de quatro horas ininterruptas, toda a mídia privada de rádio e televisão foi obrigada a transmitir integralmente a mensagem do presidente Morales, por ocasião do terceiro aniversário do Estado Plurinacional da Bolívia. No início do mês, o governo anunciou a abertura de processos contra pessoas físicas e jurídicas que utilizam meios de comunicação para divulgar críticas injustificadas contra o Instituto Nacional de Estatísticas (INE) e os resultados do Censo Populacional e Residencial de 2012. O governo anunciou que a população boliviana é de 10,3 milhões de pessoas e este dado deu origem a uma polêmica entre os analistas e líderes regionais que reclamam maior representação política legislativa e alocação de recursos para as regiões mais habitadas do país.
Madrid, Espanha