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É motivo de preocupação a impunidade nos casos de assassinatos de jornalistas no exercício da profissão, tendo ocorrido no período de 1º de outubro de 2012 a 7 de março de 2013 mais dois assassinatos de jornalistas. Preocupa também a recorrência de decisões judiciais proibindo previamente a divulgação de informações pelos meios de comunicação, como é o caso do jornal O Estado de S. Paulo, que continua proibido de divulgar informações sobre processo contra o filho do ex-presidente da República e do Senado, José Sarney. A censura prévia por via judicial aplicada em geral por magistrados de 1º grau, aumenta nos meses de campanha eleitoral. Há que se mencionar também, o destempero verbal do presidente do STF, Ministro Joaquim Barbosa, no dia 5 de março, que respondeu de forma ríspida à pergunta que lhe formulava o jornalista Felipe Redondo de O Estado de S. Paulo. Antes que completasse a pergunta, o Ministro disse “Me deixa em paz, rapaz. Vá chafurdar no lixo como você sempre faz”. Ao entrar em seu elevador ainda chamou o jornalista de palhaço. Em nota de sua Assessoria de Imprensa, o Ministro desculpou-se imediatamente, explicando que estava tomado pelo cansaço e por fortes dores, registrou que se tratara de um caso isolado que não voltaria a se repetir e reafirmou sua crença no importante papel desempenhado pela imprensa em uma democracia. Neste período, ocorreram: dois assassinatos, nove agressões, cinco casos de censuras, seis de ameaças, em um total de 22 casos. Em 18 de fevereiro, o radialista Wilson de Carvalho foi ameaçado de morte pelo policial militar aposentado e vice-prefeito de Aquidauana (MS), Sebastião Souza Alves, conhecido como Tião Sereia. Carvalho é editor-chefe do Portal Aquidauana News, no Mato Grosso do Sul. Após o termino de seu programa “A Bronca”, o radialista recebeu a ligação do político, que desferiu palavras de "baixo calão, xingamentos e ameaças". Tião Sereia foi enfático ao dizer que se Carvalho tocasse novamente em seu nome, algo de grave iria acontecer. O telefonema ocorreu por conta da reportagem “Aquidauana: bairro do vice-prefeito 'Tião Sereia' está abandonado", redigida e publicada no portal Aquidauana News e divulgada na FM 100,9, ambos sob o comando de Wilson de Carvalho. Em 18 de fevereiro, a estudante catarinense Isadora Faber, de 13 anos, autora da página Diário de Classe no Facebook, foi ameaçada de morte por meio do Facebook. Isadora compartilhou a mensagem, cheia de xingamentos, em sua página e com a ameaça de “meter bala bem na testa de suas mães e dos seus pais”. O pai da adolescente, Christian Faber, voltou a registrar ocorrência na 8ª Delegacia de Polícia Civil. Ele disse não suspeitar de quem fez as ameaças, tampouco o motivo. No dia 05 de novembro a avó da estudante foi atingida na cabeça por uma pedra. Em 2012, a menina havia criado a fan page para relatar os problemas pedagógicos e nas instalações de sua escola, a Escola Básica Maria Tomázia Coelho, em Florianópolis (SC). Pouco depois, a família da passou a sofrer intimidações. Em 05 de fevereiro, o vereador César Gelsi (PSDB-SP) ameaçou de morte o repórter Rodrigo Lima de o Diário da Região, durante sessão na Câmara dos Vereadores de São José do Rio Preto (SP). A discussão aconteceu no meio de uma entrevista gravada por outro repórter do jornal. Em meio a xingamentos e palavras de baixo calão o político teria dito a Lima frases como “se eu der no meio da tua cabeça seu cérebro vai abrir”. O vereador acrescentou que morrerá “sossegado no dia em que esse cara estiver azarado”. O repórter registrou boletim de ocorrência e admitiu estar angustiado com a situação. “Em 13 anos de Diário, isso nunca me aconteceu. Fico chateado e preocupado, porque ele [Gelsi] já avançou em outros vereadores”, contou ao site Comunique-se. Em 04 de fevereiro, o jornalista Bruno Sales da TV Band Bahia, foi agredido com chutes e empurrões durante uma abordagem policial no bairro da Federação, em Salvador (BA). Segundo o jornalista, ele seguia para casa de um amigo, com a esposa e o filho de apenas um ano quando três policiais o abordaram e apontaram as armas para sua cabeça. Bruno afirmou que entregou sua habilitação e o documento do carro aos policiais. Disse ainda não saber o motivo da abordagem e da agressão. 23 de dezembro, o fotógrafo Janderson Nobre, da Folha da Boa Vista, foi expulso de evento organizado pelo governo do estado de Roraima. Segundo o jornal, o chefe da Casa Militar de Roraima, Edson Prola, agrediu o profissional e o retirou a força do local onde o governador Anchieta Junior distribuía brinquedos de Natal. Ainda conforme o jornal, o governador presenciou a agressão, mas nada fez para impedi-la e não se manifestou sobre o caso. 18 de dezembro, o jornalista Mauri König, repórter da Gazeta do Povo, de Curitiba e diretor da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) recebeu ameaça anônima informando que sua casa seria metralhada por policiais militares. Por segurança, ele e sua família deixaram a residência em Curitiba (PR) e se refugiaram em em endereço desconhecido, sob proteção constante de seguranças contratados pelo jornal. Além dessa ameaça específica, a redação do jornal recebeu vários telefonemas com ameaças diretas, além de alertas sobre ataques que estariam sendo planejados contra repórteres, sendo König citado nominalmente. Dias depois, König e a família foram enviados pelo jornal para o exterior. Em maio de 2012, ele coordenou uma série de reportagens publicada na Gazeta do Povo sob o título “Polícia Fora da Lei”. Os textos revelaram, entre outras coisas, que agentes usavam viaturas da corporação para compromissos pessoais, como visitas a casas de prostituição em horário de expediente. 13 de dezembro, o jornalista José Cristian Góes foi surpreendido com a notícia de que é réu de dois processos, movidos pelo desembargador do Tribunal de Justiça de Sergipe (TJ-SE), Edson Ulisses de Melo. O magistrado se sentiu prejudicado com um texto ficcional, publicado no portal Infonet em maio deste ano, intitulado de “Eu, o coronel em mim”. O texto é uma confissão em primeira pessoa, onde um personagem imaginário dos tempos de escravidão se vê obrigado a lidar com questões democráticas. De acordo com Góes, o artigo não tem nenhum nome, sobrenome, nem características de ninguém. Além disso não há qualquer citação de local, data, ou função que identifique o desembargador no texto. O desembargador é cunhado do governador de Sergipe, Marcelo Déda (PT), e interpretou o trecho “chamei um jagunço das leis, não por coincidência marido de minha irm㔠como críticas diretas a ele. 26 de novembro, por determinação do juiz James Hamilton de Oliveira Macedo, (1ª Vara Cível da Comarca de Campo Mourão) os veículos de comunicação Gazeta do Povo, Tribuna do Interior, TV Carajás, Rádio T, Rádio Colmeia, Rádio Humaitá e os sites Tásabendo.com e Coluna do Ely, do Paraná, foram proibidos de mencionar o nome de Regina Dubay, candidata eleita à prefeitura de Campo Mourão (PR), e da empresa de ônibus Expresso Nordeste, em matérias relacionadas as supostos crimes eleitorais durante á última campanha. O descumprimento pode gerar multa de R$30 mil. Dubay está sendo investigada pela Justiça Eleitoral por suspeita de ter se beneficiado na disputa à prefeitura pela distribuição irregular de passagens rodoviárias adquiridas em licitação pelo governo municipal. 28 de outubro, o repórter André Falcão e o cinegrafista Wagner Martins, da TV Gazeta, de Vitória (ES), foram agredidos por cabos eleitorais do candidato derrotado à prefeitura de Vila Velha (ES), Neucimar Fraga. Além dos ferimentos, um dos profissionais desmaiou e foi pisoteado pelas pessoas que estavam no local. Durante o confronto, várias pessoas foram agredidas e o cinegrafista, Lucas Barcelos, da TV Vitória teve seu equipamento quebrado pelos militantes. 26 de outubro, a jornalista Lisânia Ghisi denunciou estar sofrendo intimidações de um oficial da Polícia Militar, o capitão Eduardo Ticianel Paccola. Lisânia diz que as ameaças começaram no dia 19 de outubro, após a publicação de uma matéria sobre o assassinato de um policial no município de Várzea Grande. Segundo a jornalista, o capitão Paccola fez comentários agressivos sobre o ocorrido, em post numa rede social. No dia em que a matéria foi publicada, Paccola tirou uma foto da reportagem e postou em sua página do Facebook, insinuando que a sua forma de agir não mudaria após a publicação da matéria. A postagem teve muita repercussão, e nos comentários, diversas pessoas manifestaram apoio ao oficial. A jornalista optou por procurar o subcomandante da PM, que afirmou que Paccola seria chamado para prestar esclarecimentos. 09 de outubro, duas equipes de reportagem das Organizações Romulo Maiorana foram agredidas em frente ao comitê do ex-candidato à Prefeitura de Belém (PA), José Priante (PMDB), na tentativa de impedir a gravação de um protesto pelo pagamento de honorários de serviços prestados durante a campanha eleitoral. Correligionários do partido atacaram a equipe do Portal ORM, formada pelo repórter Bruno Magno e o motorista Bruno Macedo, junto com o repórter Evandro Flexa, de O Liberal, e o fotógrafo Tarso Sarraf. 08 de outubro, o repórter Márcio Rangel, da TV Correio, foi ameaçado e teve seu carro quebrado por um grupo de pessoas que comemoravam a vitória do candidato eleito à prefeitura de Lagoa Seca (PB), José Tadeu Sales (PSC). Cerca de 300 partidários do candidato pararam em frente à residência do repórter Márcio Rangel e fizeram ameaças contra ele e sua família. O motivo das agressões seria porque o jornalista trabalhou como assessor do candidato derrotado da oposição, Fábio Ramalho (PSD). Em 07 de outubro, o radialista Armando de Amorin Anache e sua família foram atacados por pessoas aliadas ao prefeito reeleito de Aquidauana (MS), Fauzi Suleiman (PMDB). Segundo Anache, “Depois da eleição, um carro parou em frente à minha casa e as pessoas que estavam nele dispararam rojões e bombas contra a varanda da casa e da rádio”, destacou. Anache é dono da rádio Independente e do Portal de Notícias na Internet, Pantanal News. Desde 1990, ele atua como jornalista investigativo, faz denúncias sobre a corrupção na política e o tráfico de drogas, o que gerou, agressões e ameaças de morte. No carro de onde as bombas foram lançadas, estavam a funcionária da prefeitura Tania M. Ferrari e a mãe do prefeito. 07 de outubro, o jornalista Rosinaldo Vieira foi agredido por correligionários do vereador reeleito para Câmara Municipal de Natal, Aquino Neto. O jornalista conta que realizava entrega de exemplares de um jornal comunitário da Cidade Satélite. O periódico mensal tinha como uma das reportagens de capa uma abordagem sobre os vereadores candidatos a reeleição envolvidos na Operação Impacto (operação conjunta do Ministério Público, Polícia Federal, Polícia Civil e Polícia Militar para coibir jogos de azar, tráfico de drogas e arma de fogo). Rosinaldo relatou que foi agredido com socos na orelha e no rosto, pontapés nas pernas, além de palavras grosseiras. 07 de outubro, o jornalista do Correio Mariliense, Félix Naveda, foi agredido por cinco pessoas enquanto fazia a cobertura de uma carreata política do candidato Ticiano Tóffoli (PT) no bairro Fragata, no centro de Marília (SP). Ele foi atingido por socos e chutes no momento em que tentava registrar uma confusão entre os cabos eleitorais. Naveda estava próximo da confusão e pegou o aparelho celular para registrar as cenas de violência. Percebendo que estavam sendo flagrados, cerca de cinco cabos eleitorais trajando camisetas vermelhas do PT, desistiram da briga com os cabos eleitorais do PSB e atacaram o jornalista. 07 de outubro, a repórter Natália Oliver do Diário de Guarulhos foi agredida ao flagrar o diretor do Procon de Guarulhos, José Wilson, fazendo boca de urna para o atual presidente da Câmara e candidato a reeleição pelo PSD, Eduardo Soltur. A prática é crime, conforme a Lei Eleitoral. 06 de outubro, por determinação judicial, o Jornal do Povo, de Cachoeira do Sul (RS), foi obrigado a retirar do ar matéria que informava investigação do Ministério Público referente à compra de votos. O texto se referia à 150 vales-combustível apreendidos pela Polícia Civil, considerados provas de suposto crime eleitoral, e o possível envolvimento de determinada coligação que disputaria o pleito municipal. Os advogados do grupo político solicitaram à juíza que determinasse a exclusão da matéria, e assim foi feito. Cumprindo a ordem judicial, o JP alterou o texto, mas manteve o nome da coligação e foi notificado, novamente, no mesmo dia. 05 de outubro, o repórter fotográfico Moacyr Lopes Junior, da Folha de S.Paulo, foi vítima de agressão de um militante do PT durante caminhada do candidato a prefeito Fernando Haddad na tarde desta sexta-feira, no centro de São Paulo. Na Rua 7 de Abril, o jornalista tropeçou e caiu junto com um militante da campanha. Ao se levantar, foi segurado pelo pescoço e recebeu uma "gravata" enquanto tentava preservar seu equipamento profissional. O candidato manifestou solidariedade ao repórter após saber do incidente. 05 de outubro, a juíza Naira Neila Batista de Oliveira Norte, Juíza Coordenadora da Propaganda Eleitoral de Manaus/AM, determinou que o jornalista Ricardo Noblat retirasse de seu blog todas as fotos alusivas à senadora e candidata a prefeita de Manaus, Vanessa Grazziotin (PC do B). A decisão estava relacionada ao relato de uma agressão sofrida por Vanessa. Ao chegar para um debate de candidatos em Manaus, Vanessa foi atingida por uma cuspida. Após o debate, Vanessa voou a Brasília e fez discurso no Senado afirmando que fora vítima do arremesso de um ovo. Fotografias nas redes sociais e o testemunho de um assessor jurídico da própria candidata desmentiram o discurso feito no Congresso. O jornalista apenas relatou os fatos em seu blog. A senadora entrou na Justiça com um pedido de direito de resposta ao que foi postado sobre a falsa agressão a ovo sofrida por ela. O direito foi negado pelo juiz Alexandre Henrique Novaes de Araújo, Juiz Coordenador da Propaganda Eleitoral do Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas. Em 22 de fevereiro, foi morto o radialista Mafaldo Bezerra Goes, de 61 anos, em Jaguaribe (CE). Goes foi atingido quando seguia de casa para o trabalho, na Rádio Jaguaribe FM. Dois suspeitos em uma motocicleta fizeram cerca de cinco disparos contra o jornalista, causando morte imediata. Anteriormente, ele já havia recebido ameaças de morte. Goes apresentava um programa policial na rádio, e havia denunciado suspeitos de tráfico de drogas e homicídios. Em 8 de março, foi assassinado o jornalista Rodrigo Neto, repórter policial e locutor de um programa na Rádio Vanguarda, em Ipatinga, Minas Gerais. Ele foi morto por dois disparos efetuados por dois motociclistas não identificados quando entrava no seu carro. Uma semana antes de ser assassinado, Rodrigo Neto havia começado a trabalhar também como redator no jornal Vale do Aço. Havia recebido recentemente ameaças de morte e afirmado que estavam relacionadas ao seu trabalho como jornalista.

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