MÉXICO

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O assassinato de dois jornalistas dentro de um quadro de violência contra a imprensa, os ataques contra a mídia e a impunidade nos casos de crimes ocorridos em períodos anteriores representam a maior agressão à liberdade de imprensa neste semestre. Nem as diversas procuradorias instituídas nos Estados, nem a procuradoria especial na instância federal, estão dando resultados, muito menos o Mecanismo de Defesa dos Jornalistas, que até agora ainda não deu nenhum relatório satisfatório sobre eventuais progressos na proteção de repórteres e sobre a aplicação de seus recursos. Às agressões, somam-se as intimidações físicas ou legais, além de ataques cibernéticos. Invasões das páginas na Internet dos meios de comunicação, difamações por via eletrônica e de forma anônima, hacking das redes sociais, intimidações através de mensagens e até roubo de informações. Cada vez mais, os interessados em asfixiar a liberdade de expressão recorrem ao ciberespaço para esconder seus rostos usando todas as ferramentas tecnológicas possíveis para atacar a mídia. Neste campo também se aventuraram os cidadãos que contribuem com os trabalhos de notícias e que sofrem o mesmo destino que os jornalistas, como no caso de María del Rosario Fuentes, desaparecida desde outubro do ano passado pelas denúncias públicas de atos violentos em seu endereço no Facebook: "Valor por Tamaulipas". A esta situação se soma a falta de proteção dos comunicadores durante a cobertura, onde a autoridade permite que repórteres ou fotógrafos sejam agredidos por manifestantes e, ainda, que estas mesmas forças policiais se convertam em agressoras dos jornalistas, batendo ou prendendo, retendo as câmeras ou destruindo celulares. Fatos de destaque neste período: Em 22 de outubro, o corpo de Jesús Antonio Gambóa Urías, editor da revista Nueva Prensa, em Ahome, Sinaloa, foi encontrado morto, após seu desaparecimento em 10 de outubro, o que foi denunciado no dia 14 ao subprocurador regional de justiça em Sinaloa. O jornalista tinha denunciado problemas na administração do estado e no seu sistema de saúde no combate à epidemia de dengue. Em 27 de outubro, os canais de televisão Tv Azteca, 10 e 12 e a estação de rádio "La Tremenda" na cidade de Durango, ficaram sem transmitir durante cinco horas porque os alunos da Escola Normal Rural "José Guadalupe Aguilera" bloquearam o acesso principal às suas instalações, com protestos pelo desaparecimento dos 43 estudantes de Ayotzinapa. No início de novembro, um grupo de seis jornalistas espanhóis decidiu deixar o país após receber ameaças de sequestro e extorsão, enquanto estavam em Tapachula, Chiapas, filmando um documentário sobre migrantes intitulado "En la Tierra de Nadie". Em 5 de novembro, agentes federais confiscaram transmissores, antenas e equipamentos de computação das estações de rádio comunitárias "Radio Bola Lari" e "Estéreo Ranche Gubiña", no município de Unión Hidalgo, em Oaxaca. Também fizeram o mesmo em Santo Domingo Zanatepec com a "Radio Más 107.1" e "Sonito 106" e, no dia seguinte, em Juchitán, com a rádio comunitária "Órbita Digital". As operações fazem parte da nova lei de telecomunicações e de radiodifusão, o que permite confiscar os equipamentos das estações de rádio que transmitem sem concessão da Comissão Federal de Telecomunicações (Cofetel). Em 11 de novembro, Carlos Navarrete Romero, repórter do jornal El Sur; Sebastián Luna, fotógrafo do diário Vértice; Anwar Delgado Ramirez, fotógrafo do jornal El Universal, Rosario Garcia, do jornal El Financiero, José Antonio Belmont e Alejandro Cardona, do jornal Milenio; e Jesus Eduardo Guerrero Ramirez, fotógrafo do jornal La Jornada, de Guerrero, foram atacados por agentes amotinados da polícia estadual, enquanto cobriam as manifestações dos professores da Coordenação Estadual dos Trabalhadores em Educação em Guerrero (CETEG), em Chilpancingo. O diário digital Sin Embargo, da cidade do México, sofreu um novo ataque de hackers que impediu o acesso dos usuários ao seu portal na Internet durante todo o dia. Foi o segundo ataque digital em um mês. Em 13 de novembro, o jornal Presencia do município de Las Choapas, Veracruz, denunciou que dois homens tentaram entrar à força nas instalações do jornal, mas a segurança impediu com suas armas e conseguiu que eles se retirassem. Mas os dois homens ameaçaram voltar. O jornal Presencia recebeu mensagens nas redes sociais onde cinco jornalistas foram acusados de associação com o crime organizado, e foram ameaçados de morte. Cinco dias depois, a portal de notícias Puebla e-consulta também denunciou que sua página na Internet sofreu sabotagem, com danos ao seu banco de dados e negação de acesso aos usuários. O governo do estado de Puebla foi responsabilizado pelo ataque cibernético. Em dezembro, Verónica Galiza, integrante de uma estação de rádio no Distrito Federal, foi agredida por dois policiais à paisana que tentaram impedir que ela documentasse um protesto no primeiro dia desse mês no Paseo de la Reforma. Ela e os seus colegas Erick García e Eduardo Celestino foram espancados por policiais. Em 2 de janeiro, um grupo de pessoas armadas em três caminhonetes raptou Moisés Sánchez, repórter do jornal semanal La Unión, em Medellín, município da região metropolitana de Veracruz. Em 25 de janeiro, após denúncia e vários atos de protesto de colegas jornalistas, a procuradoria de justiça de Veracruz relatou a descoberta do corpo do jornalista, que tinha publicado informações sobre grupos criminosos que operam na área de Tejar, em Medellín de Bravo. Outra detenção ilegal ocorreu em 7 de janeiro, quando César Hernández Paredes, diretor do website de notícias Revolución 3.0 e Gustavo Aguado, da filial em Michoacán, quando tropas de choque do Distrito Federal impediram o trabalho dos jornalistas, enquanto documentavam uma demonstração em frente às instalações da Procuradoria Geral da República. Ambos foram espancados e detidos, sendo soltos logo em seguida sem nenhum pedido público de desculpas. Em 26 de janeiro, os repórteres do jornal El Debate denunciaram que agentes da Marinha Armada do México ameaçaram vários repórteres enquanto cobriam operações em Guasave, Sinaloa. Os marinheiros apontaram-lhes as armas e pediram que saíssem dali para não serem presos. Em Oaxaca, ao sul do país, neste mesmo dia, Alberto Méndez Cruz, fotógrafo do Diario Rotativo Tribuna de Oaxaca, e Rolando Jiménez López, fotógrafo do portal Paralelo20 Radio y TV, foram espancados por moradores de San Baltazar Chichicápam. Em 29 de janeiro, desconhecidos atiraram explosivos na fachada do jornal Heraldo de Córdoba, em Veracruz. Em 1o de fevereiro, Veronica Rocio Huerta Aburto, repórter de AVC Noticias, em Veracruz, denunciou o recebimento de ameaças de morte através de mensagens de texto para seu celular, onde se dizia que, após o assassinato do repórter Moisés Sánchez, seria a vez dela. A jornalista apresentou uma denúncia à Procuradoria Especial para Acompanhamento de Crimes contra Jornalistas. Ainda estão pendentes as medidas cautelares. Três dias depois, Enrique Juárez, diretor do jornal El Mañana, em Matamoros, foi tirado à força do seu escritório e levado em um veículo. Ele foi espancado e ameaçado por homens armados. A mensagem foi que parassem de publicar notícias sobre violência em Tamaulipas. Em 5 de fevereiro, a organização Artículo 19 denunciou que os sites para defesa dos jornalistas de Cobertura Segura, Derecho a la Verdad e Observatorio FEADLE foram atacados, sendo substituídos por páginas "espelho", ou seja, uma réplica dos sites, e por isso ficaram fora do ar vários dias. O fotógrafo Daniel García, de El Heraldo de Chihuahua, foi impedido de fazer o seu trabalho e detido a seguir pela polícia estadual, quando tirava fotos no local onde ocorreu um assassinato. O policial algemou o fotógrafo alegando proteger a cena do crime, que não estava cercada. Foi solto 20 minutos depois. Em 6 de fevereiro, as instalações da Televisa, em Matamoros, Tamaulipas, foram atacadas com uma granada lançada de um veículo em movimento, por indivíduos não identificados. Dois seguranças ficaram feridos. Esta é a quinta ocasião em que este prédio foi atacado. A primeira foi em 2010 e outras três entre março e outubro de 2012. Em 7 de fevereiro, policiais estaduais de Morelos bateram nos repórteres Pedro Oseguera e Fely Carnalla da TV Azteca-Morelos; Max Cerdio do semanário Conurbados, e Pedro Tonantzin Sánchez, correspondente da Excelsior e Cadena 3, que davam cobertura a uma manifestação de comerciantes no centro de Cuernavaca. Também nesse dia, começaram os ataques contra o jornal Reforma, na cidade do México. Primeiro foi a detenção de um repórter e um fotógrafo, que se recusaram a entregar seu material depois de tirar fotos de patrulhas da polícia de Naucalpan. Oito agentes do GERI (Grupo de Elite de Reação Imediata) os levaram perante um tribunal de instrução, mas a juíza decidiu que não havia nenhuma infração e soltou os repórteres. Em 8 de fevereiro, quando Daniel Orozco, repórter do jornal La Red de Coatzacoalcos, em Veracruz, denunciou uma tentativa de sequestro que ocorreu após receber mensagens ameaçadoras em seu celular, poucos dias depois de dar cobertura à descoberta de valas clandestinas nessa cidade. Orozco apresentou denúncia à Subprocuradoria Geral do Estado. Não se sabe se já foram concedidas medidas cautelares. Em 10 de fevereiro, a jornalista Lydia Cacho denunciou uma campanha de desmoralização contra ela através das redes sociais, usando várias contas para sua difamação, acusando-a de receber dinheiro de governos do PRD (Partido da Revolução Democrática). Ela acusou o governador do estado de Quintana Roo. Em 15 de fevereiro, foi baleado um caminhão para a distribuição do jornal Reforma, em Tlalnepantla, Estado de México, quando um vendedor ficou ferido com um tiro na cabeça. Esta situação ocorreu logo após uma série de investigações do jornal sobre o uso das patrulhas municipais de Naucalpan e Tlalnepantla sem placas, sobre a falta de placas oficiais e possível clonagem.

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