O desaparecimento do repórter fotográfico Vladjimir Legagneur, ocorrido em meados de março deste ano, manteve-se no foco de interesse da imprensa haitiana, de representantes da mídia local e de organizações defensoras dos direitos humanos que continuam exigindo investigações mais eficientes das autoridades.
Por outro lado, a atenção nacional se concentrou na pior crise enfrentada pelo governo do presidente Jovenel Moïse devido ao aumento do preço dos combustíveis no início de julho. A medida gerou protestos e pilhagens, com a morte de uma dezena de pessoas, e provocou a renúncia do primeiro-ministro Jack Guy Lafontant.
Vladjimir Legagneur desapareceu em 14 de março em um bairro conhecido como Grand Ravine, no distrito pobre e perigoso de Martissant, na capital haitiana, segundo informou a esposa da vítima, Fleurette Guerrier. Ela denunciou a lenta reação da Polícia para investigar o caso. Legagneur, de 30 anos, trabalhou em vários meios de comunicação e realizava uma reportagem na região no momento de seu desaparecimento.
Poucos dias depois da ocorrência, o Defensor Público, Renan Hedouville, e organizações como a União de Repórteres Gráficos Haitianos, a Associação de Jornalistas Haitianos (siglas UJPH e AJH em francês) e a Associação Nacional de Meios Haitianos (ANMH) instaram as autoridades a "intensificar seus esforços" para encontrar o paradeiro de Legagneur. A Polícia somente informou sobre o encontro de um corpo na região onde houve a ocorrência, e que este seria submetido a testes de DNA.
No início de maio, o presidente da Associação de Meios Independentes do Haiti (AMIH), Georges Venel Remarais, solicitou um "acesso razoável às fontes", principalmente no tratamento de assuntos de interesse nacional. O presidente da Associação Nacional de Meios de Comunicação do Haiti (ANMH), Frantz Duval, advertiu sobre os "novos desafios e perigos inerentes à proliferação de meios e à chegada maciça de jornalistas quase sem controle", fenômeno este em que a "autorregulação é essencial".
O então ministro de Comunicação e Cultura, Guyler Delva, afirmou que a "autorregulação é fundamental para definir os limites da prática da profissão", visando evitar que as autoridades tenham desculpas para a elaboração de legislações contra a liberdade de imprensa.
A Câmara dos Deputados do Haiti engavetou, no semestre passado, um projeto de lei anti-difamação aprovado pelo Senado em março de 2017, amplamente questionado por impor duras penas aos jornalistas ou indivíduos considerados culpados de difamar funcionários públicos e policiais.
Em abril, se cumpriram dezoito anos do assassinato do jornalista Jean Leopold Dominique, cujo processo se encontra na Corte de Cassação (Suprema Corte de Justiça) sem nenhuma revisão nos últimos quatro anos, segundo a organização independente SOS Journalists. A entidade afirmou, no entanto, que o presidente Jovenel Moïse se comprometeu a interpor seus bons ofícios junto ao Senado para que complete o número de juízes do órgão judicial, o principal empecilho ao andamento do processo.
Dominique foi assassinado com vários tiros em 3 de abril de 2000, aos 69 anos, quando chegava ao seu trabalho na Rádio Haitï Inter. Jean Claude Louissaint, guarda de segurança da emissora, também morreu no atentado.
No início de 2014, o juiz Ivickel Dabrésil apresentou um relatório que envolvia 14 colaboradores do ex-presidente Jean Bertrand Aristide na morte de Dominique, entre eles a ex-senadora Mirlande Libérus Pavert, apontada como autora intelectual do crime.
A Corte de Cassação deve se pronunciar sobre um recurso impetrado pela ex-legisladora, radicada atualmente nos Estados Unidos.
Em quase duas décadas, cerca de 20 pessoas foram entrevistadas pela justiça, entre elas os ex-presidentes Jean Bertrand Aristide e René Préval. Várias pessoas foram detidas, algumas testemunhas ou envolvidos morreram ou foram assassinados e pelo menos 75% do arquivo físico desapareceram dos tribunais.