As liberdades de expressão e de imprensa enfrentam os mais graves riscos das últimas décadas. Medidas sem precedentes como a entrada de tropas na Assembleia Legislativa, ordenada pelo presidente Nayib Bukele, são mostras das ameaças e das violações dessas liberdades.
Durante esse período, começou a tomar forma um regime autocrático de governo que obstrui leis e suprime as críticas. O governo procura minar, desacreditar e intimidar os seus opositores, seja diretamente ou através de terceiros, pessoalmente ou através das redes sociais.
Em 9 de fevereiro, ocorreu um evento inédito na Assembleia Legislativa, quando 30 soldados armados com rifles entraram no local, assumiram o controle e cercaram as cadeiras dos congressistas à espera da entrada do presidente Bukele na sessão. Bukele sentou-se na cadeira do presidente da Assembleia e tocou a campainha para iniciar a sessão, um ato de irreverência e transgressão da separação de poderes, e uma atitude que foi amplamente condenada.
Membros do batalhão presidencial que portavam rifles intimidaram os jornalistas que cobriam os eventos. A Associação de Jornalistas de El Salvador (Asociación de Periodistas de El Salvador - APES) condenou esses ataques.
O conflito começou dois dias antes, quando o Conselho de Ministros do Executivo, que tem poderes para lidar com situações extremamente urgentes, convocou uma sessão plenária para aprovar a discussão de um empréstimo de 109 milhões de dólares para o setor de segurança. Vários deputados denunciaram que foram procurados em suas casas e que, logo depois, a polícia suspendeu sua segurança. Enquanto isso, os ministros de Defesa e da Segurança reafirmaram sua lealdade a Bukele.
A mídia enfrenta o aumento das barreiras para acesso a informações públicas em diferentes instituições. O governo nomeou um funcionário de sua confiança como diretor do Instituto de Acesso a Informações Públicas (IAIP) que foi forçado a se demitir depois de ser criticado.
O IAIP recusou mais pedidos de acesso a informações públicas e, em resposta a reclamações da mídia e dos cidadãos, buscou proteção nos tribunais, e serve de escudo para que as instituições governamentais continuem negando informações. O jornal Diario de Hoy e outros meios de comunicação independentes continuam sofrendo discriminação dos funcionários da presidência quando fazem perguntas em coletivas de imprensa do presidente.
Frequentemente a assessoria de imprensa do governo anota que meios de comunicação farão perguntas e, em alguns casos, quer que as perguntas sejam enviadas com antecedência. Eles dizem quem poderá fazer perguntas, mas durante a coletiva de imprensa só dão a palavra aos meios de comunicação que apoiam o governo, desprezando a mídia independente.
Apoiadores do governo continuam perseguindo e ameaçando nas redes sociais as pessoas que se atrevem a questionar o governo.
O jornal La Prensa Gráfica sofreu em pelo menos duas ocasiões a usurpação de seus logotipos, tipografia e paleta de cores por um website de fake news que se autodenomina "Lasprensasgráfica" e que é operado pelo website TV Channel. Em 3 de fevereiro o jornal denunciou o primeiro caso e em 1º de março denunciou que voltaram a cloná-lo e advertiu que se reservava o direito de processar o TV Channel.
O La Prensa Gráfica e o El Diario de Hoy já haviam tido seus websites clonados. Na ocasião, foram processados vários técnicos de uma empresa de informática ligada à prefeitura de San Salvador, quando o presidente Bukele era o prefeito. Os responsáveis foram a julgamento, mas foram absolvidos.
Uma das acusadas absolvidas no julgamento chamado "Troll Center", Sofia Medina, é a mais alta funcionária de comunicações do governo.
A prefeitura de San Salvador, cujo prefeito é Ernesto Muyshondt, assinou um contrato de serviços de vigilância por vídeo que incluem equipamentos e um sistema capaz de monitorar os movimentos dos cidadãos pela cidade. O contrato é de US$85 milhões por 15 anos. Vários meios de comunicação denunciaram irregularidades e possíveis violações da lei.
Uma análise realizada por Tord Lundström, diretor da seção técnica da fundação Qurium Media, que presta serviços de suporte técnico e de segurança cibernética para a mídia para garantir a liberdade de imprensa, revelou que um escaneamento abusivo havia sido feito a partir de uma universidade. As autoridades da universidade não se envolveram no caso, mas afirmaram ter descoberto que um dos seus técnicos tinha programas para essas operações informáticas.
O prefeito de San Salvador, Muyshondt, emitiu várias mensagens sobre não dar declarações ao El Diario de Hoy. O jornal questionou a concessão de um sistema de vigilância por vídeo para uma empresa sem que tenha sido aprovada ela Assembleia Legislativa. O prefeito se recusou a responder as perguntas de jornalistas do El Diario de Hoy e Factum, alegando que existe uma campanha contra ele. Existem quatro ações judiciais contra o IAIP, uma delas do El Diario de Hoy.
Em outubro, a Factum, plataforma digital de investigação, denunciou que um computador de uma universidade privada do leste do país estava envolvido no hacking dos seus servidores e um ataque DDOS, interrompendo o acesso ao site por uma semana. A Factum tem usado múltiplos servidores durante cinco anos para impedir os ataques do DDOS, de acordo com uma investigação forense da Procuradoria-Geral da República.
O jornalista Jorge Beltrán tem sido alvo de ameaças nas redes sociais desde que publicou matérias investigativas sobre irregularidades do Ministério da Defesa em relação a uma instalação militar que foi convertida em um "hotel militar".