El Salvador

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Reunião de Meio de Ano, 29 a 31 de março de 2019, Cartagena Colômbia

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A imprensa sofreu graves agressões nos últimos seis meses através de ataques armados, sendo impedida de fazer a cobertura das eleições, recebendo ameaças online de setores vinculadas às novas forças políticas pró-governo e com citações judiciais relacionadas à publicação de matérias sobre corrupção na esfera pública.

O Centro de Monitoramento de Agressões a Jornalistas da Associação de Jornalistas de El Salvador (APES, em espanhol) e a Procuradoria para a Defesa dos Direitos Humanos (PDDH) registaram 24 violações da liberdade de expressão e de imprensa durante as eleições de 3 de fevereiro passado. Os incidentes mais recorrentes foram o impedimento da entrada de jornalistas aos centros de votação (17 casos), uma agressão física, um ataque online, e outros incidentes menores. Os principais incidentes ocorreram nas Juntas Eleitorais Municipais (JEM) e nas Juntas de Recebimento de Votos, que foram denunciadas em 14 casos, e com a Polícia Nacional Civil, com três denúncias.

Jornalistas de diferentes meios de comunicação foram hostilizados por líderes ou membros de partidos políticos, que reagiram com agressividade e intolerância quando foram questionados sobre fatos variados. Em 7 de fevereiro, o diretor da Grande Aliança pela Unidade (GANA), Andrés Rovira, irritou-se com os jornalistas quando lhe perguntaram sobre a participação do seu partido no gabinete do governo de Nayib Bukele.

Em 17 de janeiro, o secretário-geral do partido Nuevas Ideas, Federico Ankiler, reagiu com raiva quando lhe perguntaram se os vigias das urnas seriam nomeados pelo seu grupo político ou pela GANA, partido pelo qual Bukele concorreu às eleições. Ankiler criticou a mídia por declarações de que Bukele havia copiado textos acadêmicos para apresentá-los em seu plano de governo.

Em 7 de dezembro, o jornal digital "El Faro" informou que uma de suas jornalistas e um jornalista do La Prensa Gráfica haviam sido intimidados por simpatizantes do Nuevas Ideas que se aproximaram de Ankiler para entrevistá-lo sobre a invasão de seus militantes às instalações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A jornalista Blanca Archila, do Diario El Mundo, denunciou que foi agredida pelos seguranças do ministro da Defesa, general David Munguía Payés, quando tentou abordá-lo em um centro de votação. Os guardas a afastaram aos empurrões.

La Prensa Gráfica e El Diario de Hoy continuaram recebendo ameaças digitais através das redes sociais por pessoas próximas ao novo governo. Erika Saldaña, colunista do El Diario de Hoy, denunciou que recebeu ameaças por se referir ao presidente eleito Nayib Bukele.

A partir da conta do Twitter lucas @chichontepec22 foram enviadas ameaças ao La Prensa Gráfica e El Diario de Hoy. As ameaças eram de "iniciar uma campanha de bloqueio de todas as suas plataformas digitais", pois "o povo escolheu Naiby Bukele democraticamente". Um dia depois da eleição de Bukele, outro site do Facebook vinculado ao presidente eleito, La Britany, escreveu que os dois meios de comunicação "se ajoelham diante de Nayib Bukele".

Turbas digitais conseguiram que o Facebook retirasse um editorial da Universidad Centroamericana José Simeón Cañas (UCA), que criticava Bukele. "A UCA entrou no Facebook em 2010. Há alguns dias, pela primeira vez desde então, um setor descontente com uma matéria de opinião eliminou o texto dessa rede social denunciando-o em massa com motivos falsos", denunciou a universidade no Twitter.

As turbas digitais de vez em quando também insultam líderes sindicais.

Esses fatos nos recordam dos ciberataques de que foram vítimas o La Prensa Gráfica e El Diario de Hoy em 2015 e realizados por um grupo ligado ao então prefeito de San Salvador, atual presidente eleito. Entre as principais provas contra eles estava um relatório do Departamento de Justiça dos Estados Unidos e especialistas técnicos que os vinculavam ao "contato Bukele". Um tribunal decidiu absolvê-los porque, segundo disse, só agiram a mando de alguém que não foi levado a julgamento. A sentença não é definitiva, interpôs-se recurso, e ela está sendo revisada.

Em dezembro passado, denunciou-se que dois membros daquele grupo, Sofía Medina e Andrés Ortiz Lara, foram ativos na campanha de Bukele. Os dois criaram um website que publica informações favoráveis a Bukele.

Como é prática habitual do poder Judiciário, ameaçou-se de prisão sete jornalistas da revista Factum caso não prestassem depoimento como testemunhas e revelassem suas fontes. Eles foram intimados pela Procuradoria-Geral a testemunhar sobre a divulgação de gravações de conversas entre o ex-presidente Mauricio Funes, sobre o suborno a deputados durante sua gestão. A Factum decidiu não comparecer, invocando o disposto na Constituição e no Código Penal e de Processo Penal que garante o sigilo das fontes.

Pelo menos cinco jornalistas ficaram feridos em 8 de novembro durante conflitos entre vendedores do centro de Santa Tecla e membros do Corpo de Agentes Metropolitanos. Ricardo Segura, repórter gráfico do jornal Co-Latino, foi ferido por uma bala e apresentou denúncia à Procuradoria Geral da República, mas se desconhece o resultado das investigações. O jornalista Óscar Machón, do Diario El Mundo, foi ferido por pedradas, e o fotojornalista René Estrada, do El Diario de Hoy, foi agredido e ameaçado por membros do Corpo de Agentes Metropolitanos (CAMST), que tentaram impedir que tirasse fotos.

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