México

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Durante esse período, a relação entre o presidente Andrés Manuel López Obrador e a mídia se deteriorou ainda mais, principalmente com a mídia impressa. O presidente mexicano dedica boa parte de suas coletivas de imprensa da manhã para se queixar da cobertura que os jornais fazem dos seus eventos e para reclamar das críticas dos colunistas, as quais, segundo ele, são, em sua maioria, injustas.

A violência contra os jornalistas continua e resultou na morte de seis profissionais da imprensa, inclusive de dois que viviam sob proteção.

María Elena Ferral, jornalista do Diario de Xalapa, foi assassinada em 30 de março. Ela cobria os municípios da serra de Papantla e da região norte do estado de Veracruz. Ela foi assassinada a tiros no centro do município de Papantla. Ferral denunciou que estava recebendo ameaças relacionadas ao seu trabalho como jornalista na serra de Papantla. Em 7 de maio, a Procuradoria-Geral de Vera Cruz confirmou que o assassinato estava relacionado às suas atividades profissionais e ordenou a prisão de 11 pessoas, entre elas um vereador e um repórter. Em 24 de maio, um grupo armado disparou contra o carro em que viajava a filha da jornalista assassinada. Agentes da Secretaria de Segurança Pública reagiram ao ataque. O caso ainda está sendo investigado.

A Procuradoria de Guerrero informou ter encontrado, no dia 8 de abril, o corpo do jornalista Víctor Fernando Álvarez Chávez, de 53 anos, que estava desaparecido desde 1º de abril. Ele era diretor do portal de notícias Punto por Punto e havia sido visto pela última vez em Ciudad Renacimiento, perto do porto de Acapulco.

Jorge Armenta Ávalos, diretor do jornal El Tiempo, Medios Obson, um dos jornais mais conhecidos da região sul de Sonora, e do semanário Última Palabra, foi assassinado em 17 de maio por um grupo armado. Ele era também locutor de rádio e promotor artístico. Ávalos estava sob proteção do Mecanismo Federal para a Proteção de Defensores de Direitos Humanos e Jornalistas. No momento do crime ele era escoltado por dois policiais municipais.

O fundador do portal de notícias Prioridade Máxima, José Castillo Osuna, de 55 anos, foi assassinado em 11 de junho, em Ciudad Obregón, Sonora. A Procuradoria-Geral disse que o jornalista foi atacado com arma branca em sua casa em El Campanario e que faleceu fora do imóvel enquanto buscava ajuda. Ele era repórter e fazia cobertura policial, e não se sabe se havia recebido alguma ameaça.

Pablo Morrugares foi assassinado em Iguala, estado de Guerrero, junto com o policial que o protegia, em 2 de agosto. Ele era diretor do portal PM Noticias e foi morto por vários homens que atiraram contra ele dentro de um bar. Morrugares denunciava que recebia ameaças de morte desde 2016. Ele havia sofrido um atentado junto com sua esposa, do qual os dois escaparam ilesos e, desde então, recebia proteção do Mecanismo de Proteção Federal. Cobria notícias sobre organizações criminosas na região. A Procuradoria-Geral de Guerrero informou que prendeu oito pessoas como parte das investigações do crime.

Em 9 de setembro, o corpo do jornalista Julio Valdivia foi encontrado na região de Tezonapa, que fica situada entre Veracruz e Oaxaca. Ele trabalhava para o jornal El Mundo de Córdoba. Os peritos confirmaram que ele foi decapitado e que seu corpo foi levado até os trilhos de trem. Valdivia não estava sob proteção especial e não se sabe se havia sido ameaçado.

Durante esse período, a Artículo 19 registrou 96 ameaças, sendo 40 ameaças de morte; 91 casos de intimidações e assédio, e 47 agressões físicas. Registrou também 61 casos de bloqueio informativo e alterações de conteúdo.

Em 2 de agosto, houve um ataque a tiros contra as instalações do jornal El Diario, de Iguala, em Guerrero. No local são impressos também o El Diario de la Tarde e Redes del Sur e, no momento do atentado, não havia nenhum funcionário presente.

Em 12 de maio, a Artículo 19 e o Signa Lab do ITESO publicaram a matéria intitulada "Diretora da Notimex ataca jornalistas e organiza campanhas de desprestígio nas redes sociais". Acusavam Sanjuana Martínez, diretora da agência de notícias do governo mexicano de pedir que alguns de seus subordinados atacassem com matérias negativas as jornalistas Dolía Estévez, Lydia Cacho, Marcela Turatti, Anabel Hernández, Blanche Petrich e Guadalupe Lizarraga. A diretora nega qualquer envolvimento.
No dia 20 de agosto, a Secretaria de Administração Pública (SFP, siglas em espanhol) proibiu que a editora Nexos Sociedad, Ciencia y Literatura celebre, num período de dois anos, qualquer contrato público ou receba publicidade oficial. Acusa a empresa de ter apresentado um documento falso do Infonavit em 2017. Os editores afirmam que se trata de censura indireta em represália por sua posição editorial.

Em 7 de outubro, com maioria do partido do governo, Morena, deputados federais eliminaram 109 fundos, entre eles o Fundo para a Proteção de Defensores de Direitos Humanos e Jornalistas. Eles afirmaram que continuarão alocando verbas para o fundo, sem explicar como ou quando.

O presidente do México continua estigmatizando a mídia, os jornalistas e os colunistas que criticam sua gestão, e faz isso praticamente todas as manhãs, quando realiza sua coletiva de imprensa. Sempre que fala dos jornalistas, ele arremata dizendo que "embora se comportem mal", ele não vai censurar a mídia nem interferir nas suas linhas editoriais.

Algumas de suas críticas nos últimos meses foram ataques aos jornais El Universal e Reforma, e a jornalistas como Carlos Lloret de Mola, Raymundo Riva Palacio e Pablo Hiriart.

"Basta ver um jornal, El Universal, qualquer um, para ver suas muitas mentiras, sejamos claros, e isso não significa que serão censurados, mas apenas esclarecer bem as coisas. Não devemos facilitar para aqueles que se sentiam donos do México, que se dedicavam a saquear, a roubar, e agora estão irritados porque a corrupção está acabando, porque a impunidade está acabando."

"Não existem no México meios de comunicação profissionais nem independentes. Eles estão próximos ao poder e não defendem o povo. Não entenderam a nova realidade, continuaram com a mesma coisa e muitos optaram pela mentira."

"Nunca paguei para falarem bem de mim. Não tenho bots nas redes sociais."

"Se alguém está pensando ou dizendo que praticamos a censura, está mentindo, são uns mentirosos, uns falsários, hipócritas, porque essa é a característica principal do conservadorismo. A doutrina dos conservadores, na verdade, é a hipocrisia. Antes, sim, havia represália e censura, e tanto é assim que desde o presidente Madero não se ataca nenhum presidente quanto agora, eu sou o mais atacado de toda a história, e não se persegue ninguém, não há repressão, há liberdade para a livre expressão de ideias, e é importante que exista a oposição porque isso é democracia, são os contrapesos."

"O Financial Times é um jornal sem ética que deveria pedir desculpas por promover um modelo econômico neoliberal no México". Durante a coletiva matinal o presidente respondeu ao editorial do jornal britânico, que definiu López Obrador como o novo líder autoritário da América Latina. "Mesmo que não agrade o New York Times, o Washington Post, El País, The Economist e o Wall Street Journal, vamos seguir adiante com a nossa política".

O presidente chamou o La Reforma de "pasquim imundo" porque o jornal divulgou em setembro detalhes de uma fraude na prefeitura de Macuspana, estado de Tabasco, onde trabalha sua cunhada. E o criticou também por informar sobre os massacres durante seu governo, o que ele nega. Na coletiva de imprensa de 18 de setembro, exibiu a primeira página do jornal e riu-se dela.

O El Universal respondeu às críticas do presidente através do seu diretor executivo e presidente do conselho de administração, Juan Francisco Ealy Ortiz: "Não somos adversários, fazemos jornalismo".

Em junho, López Obrador havia insinuado que empresários, intelectuais e jornalistas formam um Bloco de Oposição Ampla (BOA) que quer atacá-lo. Tomou como base para essa acusação um suposto documento anônimo que "pessoas não identificadas" entregaram no Palácio Nacional.

No dia 17 de setembro, 650 intelectuais publicaram o documento "Contra a deriva autoritária e pela defesa da democracia". Pediam ao presidente que parasse de atacar a imprensa. Em resposta, López Obrador leu uma carta: "São vocês que têm que pedir desculpas. Ninguém foi pressionado ao silêncio. Vocês querem amordaçar o presidente". Imediatamente, milhares de bots com os hashtags #Yosoy2millones700mil e #650chillones contra intelectuais e a imprensa viraram tendência no Twitter.

Em 25 de setembro, na sua coletiva matinal, o presidente fez sua análise da cobertura negativa que recebe. Avaliou oito jornais e concluiu que, salvo o La Jornada, todos o criticam. "Como vai ser isso, se tenho 70% de popularidade nas pesquisas, e a mídia publica 80% de opiniões negativas. É um disparate."

A Artículo 19 denunciou que não existem regras claras nem transparência sobre a distribuição da publicidade oficial de nível federal na mídia. De acordo com o Sistema de Comunicação Social (Comsoc) da Secretaria de Administração Pública (SFP), em 2019 foram 5.212 milhões de pesos destinados à publicidade oficial, mas apenas 3.245 milhões de pesos foram utilizados. Esse montante é apenas um terço dos gastos durante o primeiro ano de Peña Nieto e pouco mais da metade do primeiro ano de Calderón.

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