A situação política, social e econômica se deteriorou e a liberdade de imprensa, assim como a situação de muitos jornalistas, é crítica.
Os jornalistas Miguel Mora, diretor do canal de televisão 100% Noticias, e sua diretora de imprensa, Lucía Pineda, continuam presos em condições desumanas. O canal foi e permanece fechado sob vigilância policial. Os dois jornalistas foram acusados de "provocação e conspiração para cometer atos de terrorismo", sendo que Mora havia recebido o Prêmio SIP de Liberdade de Imprensa representando o jornalismo independente na Nicarágua.
As prisões ocorreram depois de várias semanas em que foram colocados carros de polícia em frente às instalações do canal, detendo e interrogando qualquer pessoa que o visitasse. O julgamento de Mora e Pineda está previsto para 18 de abril. Também foram emitidos mandados de prisão para os jornalistas Luis Galeano e o comentarista político Jaime Arellano, diretor do programa matinal Jaime Arellano no La Nación. Os dois tinham programas no canal 100% Noticias e se asilaram na Costa Rica.
Um destino semelhante se abateu sobre os meios de comunicação Confidencial, Esta Semana e Esta Noche, dirigidos por Carlos Fernando Chamorro, filho de Pedro Joaquín Chamorro, assassinado em 1978. Os escritórios de Chamorro Barrios foram invadidos, com o confisco de todos os seus equipamentos e a proibição dos seus programas no canal 12, o único que o governo ainda não controla nem neutraliza. O jornalista Carlos Fernando Chamorro chegou à Central de Polícia acompanhado de sua esposa e vários jornalistas para entregar uma carta solicitando explicações sobre os fatos, mas uma tropa de choque recebeu-os, empurrando-os para a rua com seus escudos e obrigando-os a se retirarem.
O Canal 12 também deixou de transmitir o programa matinal de entrevistas Danilo Lacayo en Vivo, tendo o seu apresentador, Danilo Lacayo, que foi Secretário de Imprensa do governo de Violeta B. de Chamorro, se exilado na Costa Rica.
Carlos Fernando e sua equipe de jornalistas também foram obrigados a refugiar-se na Costa Rica, o país vizinho, e de lá continuam a informar através do YouTube.
A Fundação Violeta Barrios de Chamorro coletou uma lista de 62 jornalistas independentes que foram obrigados a deixar o país (lista em anexo). A própria Fundação compilou 712 ataques contra o livre exercício do jornalismo desde o início da repressão em 18 de abril de 2018.
Desde setembro do ano passado, a Direção Geral Aduaneira apreende todas as matérias primas necessárias para a impressão de jornais para La Prensa e El Nuevo Diario: papel, tinta, matrizes, solução de fonte, peças de reposição para a rotativa. O jornal La Prensa tem nove pedidos apreendidos no valor de mais de US$ 180.000,00. A Direção Aduaneira não responde, nem mesmo aos dois recursos submetidos a um tribunal especial para resolver questões aduaneiras. Os dois recursos foram favoráveis à La Prensa.
Os jornais em circulação no país optaram por reduzir o consumo de papel. O jornal La Prensa reduziu sua tiragem para 12 páginas e El Nuevo Diario suspendeu a publicação nos sábados e domingos. Quanto aos diários populares, Hoy de La Prensa também reduziu seu número de páginas e o Q'Hubo de El Nuevo Diario não circula mais. O embargo aduaneiro para os jornais escritos do país já dura 28 semanas.
Em janeiro, várias delegações estrangeiras visitaram o país, dois altos funcionários do Departamento de Estado dos EUA se reuniram com o presidente Daniel Ortega e com a vice-presidente e primeira-dama Rosario Murillo. As conversas foram privadas e não se deu nenhuma informação.
Além disso, uma delegação de deputados do Parlamento da União Europeia visitou o país em janeiro. A delegação falou com o governo e diversos setores sociais e da oposição. Permitiram que ela visitasse os presos políticos, incluindo Miguel Mora e Lucía Pineda. Os deputados comentaram que as condições carcerárias não eram adequadas. O chefe da delegação, Ramón Jáuregui, disse que Miguel Mora passou 35 dias em uma cela sem ver o sol, isolado, tendo pedido iluminação e uma Bíblia. A esposa de Mora declarou que havia levado uma Bíblia, mas soube que esta não lhe foi entregue.
Os deputados europeus declararam que a posição do governo de que teria havido uma tentativa de golpe de Estado, o que fundamentou todos os julgamentos, não era real nem digna de crédito. Segundo eles, o que houve foi um protesto em massa que foi brutalmente reprimido. A percepção deles é de que existem duas Nicaráguas. Por isso, para superar a situação, o povo deve ser consultado via eleições livres e imparciais, a serem acordadas mediante um diálogo inclusivo. Disseram que para isso deveriam soltar quem não foi acusado e colocar em prisão domiciliar os que ainda estão em julgamento. Acrescentaram que outra condição indispensável para a consulta popular seria a restauração das liberdades civis, da liberdade de imprensa e da liberdade de manifestação. Advertiram que, se isso não ocorresse, em poucos meses a Nicarágua seria excluída do acordo de livre comércio entre a América Central e a União Europeia.
Em 21 de fevereiro, em comemoração ao 85º aniversário do assassinato do General Augusto C. Sandino, o presidente Ortega convocou para uma negociação (não chamou isso de diálogo) a Aliança Cívica que reúne os grupos de oposição. Tudo começou em 27 de fevereiro. Ortega mandou libertar 100 presos políticos para ficarem sob regime de prisão domiciliar. Estima-se que existam entre 500 e 700 presos políticos, cujos mais destacados são os camponeses que lideraram a luta contra o canal interoceânico e participaram do diálogo nacional que fracassou no ano passado. Um deles, Medardo Mairena, foi condenado a 216 anos de prisão pela morte de vários policiais na sua região, embora Mairena estivesse em Manágua no dia dos assassinatos. Outro camponês condenado foi Pedro Mena. Uma das condenações que mais chamaram a atenção foi a de 15 anos de prisão imposta a um policial da tropa de choque que se recusou a atirar nos manifestantes. A Constituição da Nicarágua especifica que a pena máxima é de 30 anos de prisão.
O ex-juiz da Corte Suprema de Justiça da Nicarágua, Rafael Solís, principal assessor político e operador dos Ortega no Poder Judiciário, fugiu para o exílio na Costa Rica e, em uma carta pública, disse que os julgamentos são políticos e que os juízes recebem ordens diretas da Presidência, de modo que todos esses julgamentos deveriam ser declarados nulos. Isso ficou comprovado no dia em que 100 prisioneiros saíram no mesmo dia e hora, todos sujeitos às mesmas medidas cautelares de prisão domiciliar, mesmo quando julgados por juízes diferentes em tribunais distintos.
O diálogo ou negociação política começou sem mediadores. O governo não queria aceitar a Conferência Episcopal da Nicarágua, tendo convidado o Núncio Apostólico Stanislaw Waldemar Sommertag para iniciar as conversas e, em âmbito pessoal, o cardeal Leopoldo Brenes Solórzano, arcebispo de Manágua. Em 5 de março, após cinco sessões de negociações em que se aprovou o roteiro ou acordo processual, a delegação do governo aceitou como testemunhas o Núncio Waldemar Sommertag e seu secretário como assessor, além do Cardeal Brenes com dois bispos na condição de assessores; e o pastor evangélico Ulises Rivera Brenes, como testemunha e acompanhante nacional, com dois assessores. A agenda das negociações será definida em reuniões futuras. O bispo porta-voz da CEN, Monsenhor Abelardo Mata, disse que os bispos decidirão em colegiado se aceitarão o convite. O processo de negociação vai acabar em 28 de março.
Outros fatos importantes:
Em 30 de maio, La Prensa, devido à crise econômica grave sofrida em todo o país, cancelou o contrato de 99 funcionários, pagando-lhes os benefícios sociais de acordo com a legislação. A correspondente do Departamento de Nueva Segovia, Alina Lorío Lira, entrou com uma ação judicial quatro meses depois de receber sua quitação, quando a lei só permite essas ações judiciais um mês após o recebimento do pagamento. Ela invocou discriminação por motivos políticos, alegando perante a autoridade judicial que havia sido despedida por ser sandinista (do partido governista) e a juíza do trabalho de Estelí (capital de Nueva Segovia) emitiu uma sentença condenatória contra o La Prensa, resolvendo o seguinte: I) Aceita a exceção da prescrição da ação contestada por La Prensa ... III) Aceito o pedido de ação tutelar dos direitos fundamentais ... etc., e quanto ao pagamento por La Prensa de C$ 760.312,00 C (Setecentos e sessenta mil e trezentos e doze Córdobas), equivalentes a US$ 32.000,00. O jornal La Prensa recorreu, já que a sentença contraria expressamente a legislação, pois esta mesma lei especifica o prazo de um mês para requerer esse tipo de reivindicação. Além disso, Alina Lorío Lira não comprovou que sua demissão foi por razões políticas, sendo a sentença contraditória porque resultou em prescrição e, mesmo assim, ordenou o pagamento desta quantia por La Prensa. O recurso foi indeferido pelo Tribunal Nacional do Trabalho sem nenhuma justificativa.
Em março, a apreensão das matérias primas do El Nuevo Diario completou seis meses. Foi uma medida ilegal da Direção Geral Aduaneira que provocou danos à impressão e à circulação da versão impressa do jornal. As importações apreendidas (papel, tinta e matrizes térmicas, etc.) equivalem a mais de US$ 150.000.
Em 3 de março, o fotógrafo do El Nuevo Diario, Oscar Sanchez, recebeu um telefonema com ameaças de pessoa anônima, acusando-o de atacar a polícia por meio de suas fotografias. "Cuidado, você está abusando e nós estamos de olho", disse a pessoa. Oscar já havia recebido ameaças telefônicas depois que publicou em 2018 uma sequência de fotos de um paramilitar atirando em uma passeata de cidadãos que protestavam contra o governo.
Em 28 de fevereiro, uma equipe do El Nuevo Diario, dirigido pelo jornalista Mauricio González, foi interceptada e ameaçada pela polícia enquanto cobria a prisão de um cidadão que dirigia em uma rua em Manágua vestindo camisa branca e bermuda azul (as cores da bandeira nacional, o que, para o governo, é um sinal de protesto).
Em 27 de fevereiro, uma equipe de reportagem do El Nuevo Diario foi detida pela polícia quando saía dos prédios da catedral de Manágua. O jornalista Lester Arcia foi retirado do veículo com as mãos para cima, enquanto um policial o examinava e acusava de ser golpista.
Em 30 de janeiro, a polícia foi duas vezes à casa do jornalista Gustavo Bermúdez, da Radio Corporación. Bermúdez, que não estava em casa, recebeu um aviso dos vizinhos e precisou se esconder em outro lugar.
Em 29 de janeiro, o jornalista Cárcamo Leo Herrera foi detido e algemado pela polícia na cidade de León, quando entrava na empresa onde trabalha há mais de 20 anos. Ele foi solto após três horas, sob ameaças. Em 3 de dezembro, todos os funcionários da rádio foram intimidados e ameaçados pela polícia, que cercava as suas instalações. Desde então, eles suspenderam os noticiários e programas de oposição ao governo, por medo de serem presos.
No entanto, continua impune o crime contra Ángel Gahona, ocorrido em 21 de abril de 2018.
Os jornalistas Miguel Mora e Lucia Pineda permanecem presos e isolados.
Vários meios de comunicação e jornalistas ainda estão sendo perseguidos e temem por sua integridade física, inclusive Carlos Fernando Chamorro e sua equipe dos jornais Confidencial, Esta Semana, Esta Noche e da Revista NIU.
A seguir, a lista dos jornalistas que fugiram para o exílio: Álvaro Montalván, Anagilmara Vílchez, Aníbal Toruño, Ariana MacGwire, Ariel Sotelo, Arlen Centeno, Arnulfo Peralta, Azucena Castillo, Bismark Lebrón, Camilo De Castro, Carlos Mikel Espinoza, Carlos Salina, Carlos Fernando Chamorro, Dino Andino, Eduardo Montenegro, Enma Amador, Engel Ariel Arce, Edith Pineda, Fabrice Le Lous, Francisco Cedeño, Francisco Espinoza, Gema Serrano, Gemima Estrada, Héctor Rosales, Helio Sevilla, Ileana Lacayo, lván Olivares, Jackson Orozco, Jaime Arellano, Jennifer Ortiz, Jordan Somarriba, José Denis Cruz, Josue Garay, Jessica Solis, José Denis Cruz, Karla Verónica Caceres, Leonardo Coca Palacios, Leticia Gaytán, Luis Galeano, Luis Murillo, Lester Juárez, Marfa Rebeca González, Marisol Montenegro, Marlon Caldera, Migueliut Sandoval, Martha Irene Sánchez, Noel Gallegos, Noel Marenco, Ricardo Somarriba, Roberto Collado, Sarina Villavicencio, Solange Saballos, Uriel Velásquez, Vanesa Cortés, Víctor Toruno, Winston Potosme, Wilfredo Miranda, Wendy Quintero, Ximena Castilblanco, Yamiek Mojica e Yelsin Espinoza.