Em outubro passado, o novo governo que já completou seis meses, incorporou ao Ministério das Tecnologias de Informação e Comunicação a Secretaria de Informação e Comunicação (SICOM), a Secretaria Nacional de Tecnologias de Informação e Comunicação (SENATICS) e a COPACO, que regula o acesso à Internet, além da CONATEL, encarregada das licenças para as frequências de rádio e televisão. Existe a preocupação de que este agrupamento de vários setores do Estado afete somente o setor dos meios de comunicação, ao constituir um órgão de controle pelo Poder Executivo das atividades da imprensa, radiodifusão, televisão e Internet.
Isso se soma à preocupação levantada nos últimos meses pelo fechamento de meios de comunicação por questões aparentemente políticas. A criação deste novo Ministério foi precedida pelo fechamento em setembro da estação de rádio Crisol FM de María Auxiliadora, Itapúa, que deixou de operar por decisão da Comissão Nacional de Telecomunicações (CONATEL), em resposta à demanda de um político que é proprietário de outra emissora.
Em um caso positivo, em dezembro, o presidente Mario Abdo Benítez vetou um projeto de lei de regulamentação de pesquisas eleitorais, alegando violação da liberdade de expressão. O projeto de lei 6219/2018, que "regula a realização e divulgação de pesquisas eleitorais para cargos eletivos e referendos", foi vetado em novembro pelo Poder Executivo por violar as liberdades de expressão e de imprensa, consagradas no artigo 26 da Constituição. Em junho, o Senado havia aprovado preliminarmente o projeto de lei, ratificado pelos deputados em outubro.
Em outubro, oito jornalistas que cobrem diariamente as manifestações populares na cidade de Concepción foram incluídos na lista de manifestantes denunciados por três vereadores municipais cujas casas foram vandalizadas pelos manifestantes. Os vereadores, Enrique Paniagua, Javier Vergara (ANR) e Gustavo Bonzi (PLRA) apresentaram na delegacia do bairro San Antonio uma queixa por "perturbação da paz pública, grave coação e danos" contra 33 pessoas, entre as quais os oito jornalistas, inclusive dois correspondentes de meios de comunicação da capital.
Em outubro o senador Dionisio Amarilla, sob investigação por enriquecimento ilícito e tráfico de influência, reagiu contra algumas perguntas acusando o jornalista da ABC Cardinal 730 AM, Edgardo Romero, de receber tíquetes de combustível do deputado Édgar Acosta. O legislador se recusou a repetir ou manter a sua denúncia e, horas mais tarde, se retratou nas redes sociais em face ao repúdio dos usuários da Internet.
Em dezembro, a Justiça brasileira decidiu que Flavio Acosta Riveros fosse julgado por um tribunal popular (Tribunal do Júri) pela autoria material do homicídio do jornalista Pablo Medina do ABC Color, cujo quarto aniversário do assassinato ocorrera em outubro. Nessa ocasião, a investigação da procuradoria revelou que o autor intelectual foi o então prefeito de Ypejhú, Vilmar Acosta, que havia ameaçado repetidamente o jornalista por publicações que o ligavam ao tráfico de drogas, sendo os autores materiais o seu irmão Wilson Marques Acosta e o seu sobrinho Flavio Acosta Riveros.
Em dezembro, o Tribunal de Recursos de Canindeyú ratificou a sentença de 29 anos de prisão e 10 anos como medida de segurança para o ex-prefeito de Ypejhú, Vilmar Marques Acosta, considerado culpado de instigar o assassinato do jornalista Pablo Medina do ABC Color. Pelo Acórdão e Sentença Nº 86 de 19 de dezembro de 2018, os juízes membros do tribunal de recursos de Salto del Guairá Gustavo Brítez e Marta Romero se juntaram ao primeiro parecer de Carlos Domínguez, que votou a favor de ratificar a Sentença Definitiva Nº 113 de 19 de dezembro de 2017. O Tribunal de Sentenças, presidido por Ramón Trinidad Zelaya, concluiu então que o motivo do crime foram as publicações por Pablo Medina sobre o nexo causal entre o clã dos Acosta, o tráfico de drogas e os diversos crimes registrados na região.
Em novembro, Reinaldo Javier Cabaña, apelidado de Cucho, acusado de tráfico de drogas, associação criminosa e lavagem de dinheiro, entrou com um recurso de amparo constitucional para solicitar a proibição da publicação na imprensa dos áudios de suas conversas, realizados pelo jornal ABC Color. O juiz Gustavo Amarilla indeferiu a liminar contra o jornal ABC Color e todas as suas plataformas, apresentada por Filemón Meza, advogado de defesa de Cabaña.
Em dezembro, os vereadores da Câmara Municipal de San Ignacio, através do seu presidente Gerardo Delvalle (partidário do cartismo no ANR), proibiram os jornalistas dessa comunidade a ingressarem com uma sessão ordinária. Eles foram convidados a ir para uma sala preparada para a imprensa, sem sistema de áudio para ouvir as questões discutidas no plenário. Foram informados de que não poderiam também comparecer à sessão na semana seguinte, onde estava prevista a renovação das autoridades da Câmara Municipal.
Em fevereiro, a ministra Karina Gómez, titular da Secretaria Nacional de Administração de Bens Apreendidos e Confiscados (SENABICO), órgão encarregado de proteger e administrar os bens confiscados por lei, se recusou a fornecer à imprensa os dados solicitados sobre o aluguel da mansão de Javier Cabaña, apelidado de Cucho, processado por tráfico de drogas, violando a Lei 5282/14 de livre acesso do cidadão à informação pública e de transparência governamental. Após a publicação do caso no jornal ABC Color, a Secretaria Nacional Anticorrupção recomendou a publicação dos dados, incluindo o contrato de aluguel. Karina Gómez renunciou ao seu cargo no mesmo mês. Carolina Llanes, ex-interventora na Prefeitura de Ciudad del Este, concordou em assumir como nova chefe do SENABICO.
Um caso de corrupção envolvendo o senador Javier Zacarías Irún, ex-prefeito em Ciudad del Este (área da tríplice fronteira), sacode o país por suas ligações com o mundo do jornalismo. Este funcionário público já estava sob investigação por suposto enriquecimento ilícito e lavagem de dinheiro, quando a promotoria o acusou de praticar atos de falsidade ideológica. A denúncia do Procurador acusa Javier Zacarías Irún de usar empresas de fachada para pagar publicidade clandestina, divulgando imagens positivas. Segundo a mesma denúncia, foram pagas quantias milionárias a jornalistas, agências de publicidade, empresas de sinalização e meios de comunicação (oral, rádio e imprensa) para divulgar imagens positivas da família de Zacarías Irún (Javier Zacarías Irún, sua esposa Sandra McLeod e seu irmão Justo Zacarías Irún). A Procuradoria assegura que foi paga inclusive propaganda eleitoral em meio a campanhas eleitorais, até de um dos ex-candidatos a Presidente da República. A lista de pagamentos foi incluída na denúncia da procuradoria.