No último semestre ocorreram novos ataques e ameaças contra jornalistas que cobrem eventos de interesse público, o que evidencia a necessidade de fortalecer os mecanismos de alerta e proteção para jornalistas. Além disso, houve novos casos de assédio judicial contra jornalistas, com a aparente cumplicidade de membros do sistema judiciário. Em termos normativos, os mecanismos de proteção constitucional e a resposta oportuna de organizações da sociedade civil têm impedido o avanço de uma agenda legislativa "contra a imprensa".
Em um contexto onde o crime organizado, a delinquência comum e a corrupção ocupam as manchetes e em que os mecanismos de proteção de jornalistas mostram deficiências graves, o exercício da profissão é uma atividade de alto risco, especialmente em nível regional, onde continuam os casos de ataques físicos e ameaças como em San Martín e Madre de Dios, dominados pelas máfias tão poderosas como as que controlam a mineração ilegal e o tráfico humano e de drogas.
Em um contexto de elevada instabilidade política, que é consequência direta dos casos de corrupção que envolvem juízes, promotores, políticos e empresários no país, o papel da imprensa tem sido decisivo. Isso trouxe consequências, como, por exemplo, uma agenda legislativa "contra a imprensa", promovida pelo Parlamento, acompanhada de uma campanha de descrédito para desmoralizar os meios de comunicação e jornalistas independentes. Mesmo assim, estes efeitos foram atenuados pela reação da sociedade civil e pelo funcionamento dos mecanismos de proteção constitucional e controle político.
Ao mesmo tempo, falta vontade política em termos de transparência e acesso à informação pública. Com isso, foram encerrados projetos de lei para fortalecimento da Autoridade Nacional de Transparência.
Nos últimos meses surgiram novas ações judiciais contra jornalistas diretamente decorrentes do trabalho de investigação que realizam, sendo o mais notório o iniciado contra os jornalistas Paola Ugaz e Pedro Salinas pelo trabalho realizado sobre supostos casos de abuso perpetrados por membros do Sodalicio de Vida Cristiana.
Outros fatos importantes:
Em 9 de outubro a deputada Esther Saavedra, do partido Força Popular, agrediu Edgar Alarcón, jornalista do diário El Poder, em um tribunal na cidade de Tarapoto, na região de San Martín. Edgar Alarcón cobria a investigação judicial onde a congressista prestava testemunho em um inquérito pela apresentação de documentos supostamente falsos ao Congresso para fundamentar seus estudos.
Em um vídeo sobre a agressão, também são vistos vários policiais tentando deter o jornalista. Edgar Alarcón foi levado a um carro de polícia em meio a reclamações dos que exigiam a presença de um promotor para verificar as razões de sua detenção.
Em 20 de dezembro o jornalista Manuel Calloquispe, correspondente de Latina e El Comercio na região de Madre de Dios, foi ameaçado de morte por um parente de um suposto líder de uma quadrilha de criminosos, enquanto cobria uma audiência sobre prisão preventiva de membros da referida quadrilha.
O Bispo de Piura, José Antonio Eguren, processou por suposto crime de ofensa contra a honra com agravo os jornalistas Pedro Salinas e Paola Ugaz, que investigaram os abusos cometidos dentro do Sodalicio de Vida Cristiana. Em sua ação, ele solicita uma indenização de S/ 200.000 e uma pena de prisão não efetiva de três anos. Os jornalistas expressaram a sua preocupação pela possibilidade de não observância do devido processo por influência do bispo na região. O processo corre em Piura, onde está a diocese do bispo, embora o endereço dos jornalistas seja em Lima. A Corte Superior de Justiça de Piura se recusou a transferir a ação para Lima.
Desde o início da atual legislatura (2016-2021) surgiram projetos regulatórios que ameaçam a liberdade de imprensa. O caso mais emblemático foi o da chamada "Lei da Mordaça", que buscou proibir os órgãos públicos de contratar publicidade na mídia privada. Ela foi proposta em novembro de 2017 por iniciativa do deputado Mauricio Mulder, sendo aprovada por insistência no parlamento, apesar das objeções do Executivo, e da rejeição de organizações e da Relatoria Especial para a Liberdade de Expressão da CIDH, por considerá-la discriminatória.
Posteriormente, o Tribunal Constitucional emitiu sentença - com seis votos a favor e um contra - de inconstitucionalidade por violar direitos fundamentais, como o direito dos cidadãos de acesso às informações públicas.
Há um debate na Comissão dos Transportes e Comunicações do Congresso de outro projeto de lei para regulamentar a publicidade do governo. Em dezembro, a Comissão chamou representantes dos sindicatos e da sociedade civil para expressarem as suas opiniões.
Várias organizações da sociedade civil expressaram o seu apoio à proposta de legislação do Ministério da Justiça e Direitos Humanos que dá competência, autonomia e independência à Autoridade Nacional de Transparência para resolver disputas sobre o Acesso à Informação Pública e Proteção dos Dados Pessoais. A proposta também concede poderes para mudar a classificação de informações que permanecem indevidamente ocultas da opinião pública. Este normativo ainda não foi aprovado.
A Corte Suprema de Justiça do Peru vai decidir em última instância sobre o recurso de anulação da sentença de outubro que absolveu Daniel Urresti, um dos supostos autores diretos do assassinato do jornalista Hugo Bustíos Saavedra, perpetrado há 30 anos. Várias organizações exigem que o julgamento pondere as provas segundo os critérios das normas internacionais. O Ministério Público solicitou a revogação da sentença de absolvição favorável ao ex-ministro Daniel Urresti, que foi perdoado pela Câmara Penal Nacional. Seu pedido se fundamenta na existência de vícios processuais e na valoração inadequada das provas testemunhais que implicam Daniel Urresti no assassinato do jornalista. Nos depoimentos, Urresti foi identificado como sendo o "Capitão Arturo", presente na cena do crime.
O pedido de mandado de segurança impetrado por oito jornalistas em novembro de 2013 (Exp. 35583-2013 do 4o Juizado Constitucional de Lima), contra a Empresa Editora El Comercio e outros, sobre a suposta violação dos direitos à liberdade de expressão e à liberdade de acesso à pluralidade de informações; com base na sua aquisição das ações da Empresa Periodística Nacional (atualmente Prensmart); o processo ainda não foi resolvido na primeira instância pelo Poder Judiciário peruano; estando pronto para emissão de sentença desde outubro de 2018.
A este respeito, a SIP expressou em diversas resoluções a sua solicitação (assembleias gerais de 2013 e 2016), a sua exigência (assembleias de meio de ano de 2017 e 2018) e o seu pedido de urgência (assembleia geral de 2017); para que o Poder Judiciário resolva essa ação de tutela dos direitos constitucionais, cujo processamento, que deve ser preferencial segundo a lei, está sujeito a prazos muito apertados.