Seis jornalistas foram assassinados nesse período. Em alguns casos, algumas pessoas foram detidas, mas sem que fossem divulgados os motivos dos crimes. Em outros casos, e como parece ser agora costume, as autoridades se apressaram em desacreditar as vítimas em vez de aprofundar as investigações.
Com o início de um novo governo, que tem o presidente Andrés Manuel López Obrador no comando, a relação com a mídia piorou consideravelmente.
Por um lado, tem-se a questão da publicidade oficial. O presidente Manuel López Obrador afirmou, desde sua campanha, que por motivos de austeridade reduziria as verbas das campanhas governamentais. Afirmou que a publicidade oficial servia apenas para se manter uma relação doentia entre o governo e os donos dos meios de comunicação.
No entanto, em dezembro de 2018, o novo governo apresentou o Projeto de Orçamento da Despesa para 2019, destinando 4,258 milhões de pesos para comunicação social, montante igual ao solicitado pelo governo anterior. Não se apresentou nenhuma justificativa para o cálculo desse montante ou sobre o plano ou estratégia de comunicação nos quais se baseou.
No dia 1º de janeiro, entrou em vigor a Lei Geral de Comunicação Social (LGCS), votada durante o governo do presidente Enrique Peña Nieto, que permite a discricionariedade no uso dos recursos públicos. Na época, a lei foi criticada por não conter controles suficientes em matéria de comunicação social, situação que encoraja a prática do proselitismo quanto às verbas públicas. Essa lei não foi revogada.
No dia 29 de janeiro, o Ministério Público publicou no Diário Oficial as diretrizes para o registro e autorização dos programas de comunicação, promoção e publicidade das agências e entidades da Administração Pública Federal para o ano fiscal de 2019.
O documento também não esclarece os critérios que o governo pretende utilizar para medir audiências, tiragens e penetração dos meios de comunicação de modo a distribuir a publicidade oficial, o que poderia permitir o uso indevido da discricionariedade.
A falta de clareza nessa matéria não é a única dificuldade. O jornal Reforma disse ter sido perseguido, por meio de uma auditoria fiscal, por sua postura crítica. Jornalistas que cobrem a coletiva de imprensa matinal e habitual do presidente são convencidos a evitar fazer perguntas inoportunas. Não houve pronunciamento oficial sobre os seis jornalistas assassinados desde que López Obrador assumiu o poder, embora uma de suas promessas tenha sido combater os crimes cometidos contra jornalistas.
Em 1º de dezembro, o corpo do jornalista Jesús Alejandro Márquez Jiménez foi encontrado à beira da estrada Tepic-Pantanal, no município de San Cayetano, Tepic. Ele era jornalista do gênero nota roja e colaborador de vários meios de comunicação em Nayarit.
Jesús Alejandro Márquez Jiménez trabalhou durante oito anos no jornal Crítica Nacional até que fundou seu próprio projeto, o website "Orión Informativo", onde realizava um trabalho extremamente crítico a funcionários e servidores públicos locais.
Algumas semanas depois do seu assassinato, três funcionários do Departamento Geral de Trânsito de Nayarit foram presos por suposta participação no assassinato: a diretora do departamento, Patricia Betancourt; o ex-diretor de informática, Santos Román Sánchez Muñoz, e Luis Alberto Hernández, que trabalhava no setor de licenças.
No dia 6 de dezembro, o jornalista Diego García Corona, repórter do semanário Morelos, foi assassinado enquanto circulava no estado de Ecatepec no seu carro. García, de 35 anos, foi interceptado na colônia Jardines de Morelos por um grupo de homens armados que atiraram contra ele na esquina da Rua Playa de Marquelia com a Avenida Jardines.
O jornalista Rafael Murúa Manríquez, diretor de uma rádio comunitária no estado de Baja California Sur, foi encontrado morto em 21 de janeiro de 2019, e seu corpo apresentava sinais de violência. Ele era diretor da Radio Kashana. Em 2018, Manríquez informou que estava recebendo ameaças pelo trabalho jornalístico que realizava e responsabilizou o governo do presidente municipal de Mulegé, Felipe Brado Batista, mas sem apontar ninguém especificamente.
Uma semana depois de sua morte, a Procuradoria-Geral da Justiça de Baja California Sur (PGJEBCS) anunciou a detenção de Héctor "N", suposto assassino do jornalista. O governador de Baja California Sur, Carlos Mendoza Davis, afirmou na sua conta no Twitter que a procuradoria está dando seguimento às investigações.
Em 9 de fevereiro, Jesús Eugenio Ramos Rodríguez, locutor de um programa de notícias na rádio do estado de Tabasco, foi baleado e faleceu no município de Emiliano Zapata, enquanto tomava café da manhã com o dirigente do partido Morena nesse local, Carlos Enrique Campos, e o ex-prefeito, Armín Marín Sauri. A vítima recebeu oito tiros.
No dia seguinte, "Chuchín" completaria 56 anos. Ele apresentava de segunda a sexta-feira o noticiário "Nuestra Región HOY" ("Nossa Região HOJE"), na estação Oye 99.9 FM.
Em 15 de março, Santiago Barroso Alfaro foi assassinado em San Luis Río Colorado, Sonora. Ele apresentava o programa "Buenos Días San Luis"("Bom dia, San Luis") na rádio Río Digital, era diretor do jornal online "RED 653", colaborador do semanário Contraseña e catedrático da Universidade Tecnológica de San Luis Río Colorado. Ao abrir a porta de sua casa por volta das 21 horas, ele recebeu vários tiros que causaram sua morte. Santiago Barroso Alfaro tinha 47 anos e não havia registro de que houvesse recebido ameaças.
Em 25 de março, López Obrador apresentou em uma entrevista coletiva matinal, o Mecanismo de Proteção aos Defensores e Jornalistas de Direitos Humanos. No entanto, este é o mesmo sistema de proteção que operou nos últimos seis anos. O subsecretário do Interior, Alejandro Encinas, disse que há 790 pessoas sob o mecanismo de proteção, das quais 292 (37%) são jornalistas. O funcionário reconheceu falhas no mecanismo criado em 2012 e disse que ele deveria ser revisado.
O mecanismo em função contempla as seguintes características: medidas urgentes (evacuação, deslocalização temporária, escolta, proteção de edifícios e outras medidas necessárias para salvaguardar a vida, a integridade e a liberdade dos beneficiários) e medidas tecnológicas e de prevenção (entrega de botões de assistência com aplicação de localização, equipamento celular, telefonia por rádio ou satélite; instalação de câmeras, fechaduras, luzes ou outras medidas de segurança nas instalações de um grupo ou residência uma pessoa: coletes à prova de balas, detector de metais, carros, outros).
Envolve os donos de mídia na co-responsabilidade das tarefas de proteção em geral de seus jornalistas e trabalhadores. Jornalistas recentemente assassinados trabalharam independentemente em seus portais digitais ou em rádios comunitárias, fora da estrutura de uma mídia convencional.
Em 25 de março, o corpo do jornalista esportivo Omar Iván Camacho foi encontrado sob uma ponte no município de Salvador Alvarado, em Sinaloa. Camacho, 30 anos, desapareceu no domingo depois de participar da transmissão de um jogo de beisebol.
As autoridades não forneceram mais detalhes da situação. Camacho trabalhou para uma emissora de rádio local, além de ter uma página digital com conteúdo esportivo.
Durante este período houve vários meios de comunicação de todo o país fizeram vários cortes nos seus quadros de funcionários. Os motivos alegados pelos jornais, estações de rádio, emissoras de TV, websites e agências noticiosas são variados: os negócios jornalísticos não vão bem, há poucos anunciantes privados, a mudança do consumo de notícias das novas gerações está afetando seus negócios. Afirmam, sobretudo, que as empresas se deparam com muita incerteza quanto à anunciada redução da pauta publicitária do governo federal.
A venda de publicações impressas continua caindo, e a publicidade continua migrando para os websites e para o streaming, e o processo de monetização de plataformas como podcast, newsletters e redes sociais tem sido muito lento.
Outros fatos de destaque:
Daniel Blancas, jornalista do La Crónica de Hoy, foi preso por homens armados em 1º de fevereiro, em Hidalgo. Ele investigava os efeitos da estratégia de combate da extração ilegal de combustível na região e foi colocado em um carro, encapuzado, interrogado por meia hora e advertido de que seria assassinado se retornasse àquela região.
Durante o julgamento de Joaquín "Chapo" Guzmán em um tribunal de Nova York revelou-se que os filhos do chefão mexicano mataram o jornalista mexicano Javier Valdez porque ele insistiu em publicar uma entrevista com o traficante Dámaso Lópex Núñez, conhecido como "Licenciado" ou "Lic". López, testemunha no julgamento, disse que Valdez "desobedeceu as ordens e ameaças dos filhos do meu compadre e por isso o mataram".
Valdez, especialista em tráfico de drogas, cofundador do semanário de Riodoce de Sinaloa, região noroeste do México, e colaborador da AFP, foi assassinado a tiros em Culiacán, Sinaloa, em 15 de maio de 2017. Em 25 de janeiro, Griselda Triana, viúva do jornalista, exigiu justiça para esclarecer o assassinato de seu marido, durante uma conferência do presidente López Obrador.