Desde que o governo estabeleceu, por decreto, a quarentena obrigatória a partir de 20 de março para combater os efeitos da COVID-19 e em meio a uma postura de unidade política de todos os setores poucas vezes vista, os jornalistas e os meios de comunicação realizaram seu trabalho sem obstáculos no que se refere às coberturas e à sua mobilidade.
Porém, com a crise da saúde pública provocada pela pandemia do coronavírus, o setor jornalístico, que já vinha enfrentando muitas dificuldades para se manter, encontra-se ameaçado diante de um cenário que prenuncia uma forte deterioração econômica e uma redução das receitas publicitárias. A circulação dos principais jornais nacionais e regionais caiu de 15 a 20% nos primeiros dias, enquanto a publicidade na mídia em geral caiu mais de 40%, em média.
Apesar disso, e diante da pandemia, a imprensa se concentra em combater a desinformação e encoraja a população a tomar medidas preventivas. Por outro lado, um anúncio "radical" do governo da província de Jujuy avisou a população para evitar consumir notícias na mídia para combater a ansiedade causada pelo coronavírus.
O novo governo de Alberto Fernández também está se concentrando na negociação da dívida pública. Assim, o governo atrasou a distribuição da publicidade oficial, e em seguida comunicou que a publicação de anúncios começaria a se normalizar por causa da crise na saúde.
Nos quatro meses do novo governo dissiparam-se parcialmente os temores de ataques à liberdade de imprensa que existiam durante o último governo "kirchnerista".
Algumas iniciativas e declarações têm levantado dúvidas sobre como será a relação entre o poder político e o jornalismo. Merece destacar um projeto de lei apresentado por cinco senadoras kirchneristas que permitiria eliminar a prisão preventiva nos casos de corrupção. O projeto mencionava "a publicação de conteúdos por um ou mais veículos da mídia que poderiam afetar a percepção do público com respeito ao princípio da presunção da inocência do acusado".
Este projeto de lei, que promove a autocensura e viola os princípios de liberdade de expressão, não foi aprovado pelo Congresso e não foi acompanhado de perto pelos mais altos representantes do kirchnerismo nem pelo presidente Fernández.
O kirchnerismo, que tem vários de seus líderes sob investigação judicial, apoia a tese de "lawfare", um conceito que sustenta a existência de uma teia de cumplicidade entre setores da justiça e do jornalismo para perseguir certos atores políticos. Em janeiro, os seus membros promoveram a criação de um tribunal para julgar os supostos casos de "lawfare". O candidato a presidente deste tribunal, que se autoinvestiu de autoridade moral para determinar quem é culpado, nomeou jornalistas conhecidos cujo trabalho estaria sujeito ao seu escrutínio.
Nos últimos meses, o governo fez uma série de reformas no campo judicial que poderiam impactar o equilíbrio dos poderes. São mudanças na estrutura do sistema de justiça criminal e no sistema de aposentadoria dos juízes, o que poderia levar à eliminação de certas áreas da justiça e à criação de vagas que poderiam ser preenchidas por juízes selecionados pelo governo.