Neste período, a liberdade de imprensa e de expressão continuou ameaçada pelo regime de Nicolás Maduro, com ataques diretos e fechamentos de meios de comunicação, bem como detenções arbitrárias e ataques a jornalistas durante a cobertura de manifestações públicas ou após suas denúncias de corrupção e críticas ao poder público.
Para todos estes tipos de ataques e agressões, o regime utiliza não só os instrumentos habituais de repressão, mas também métodos criativos de perseguição. Um deles ficou evidente com a prisão de Ana Belén Tovar, diretora da Venmedios Operations, uma empresa de clipping que coleta e distribuiu material jornalístico para a imprensa.
Apesar da falta do devido processo e do fato de não ser acusada de nenhum crime, Tovar continua presa na Direção Geral de Contrainteligência Militar. Ela é acusada de usar seu sistema de clipping para enviar informações do portal Entorno Inteligente que publicou matérias sobre irregularidades cometidas pelo ministro do Poder Popular para a Defesa, Vladimir Padrino López.
Outro caso emblemático da repressão do regime é o de Jesús Medina Ezaine, fotojornalista do site Dólar Hoje. Ele foi libertado em 6 de janeiro após 14 meses em uma prisão militar. O seu crime foi uma matéria sobre a crise hospitalar do país. Ele foi preso em 29 de agosto de 2018, acusado de cinco crimes infundados: lavagem de dinheiro, conspiração para cometer um crime, lucro indevido e associação criminosa. Ele foi libertado após intensas campanhas da ONU, da Foro Penal e da Human Rights Watch e continua tendo que apresentar relatórios regulares.
Outra tendência é o ataque sistemático a repórteres que têm suas câmeras fotográficas e filmadoras, telefones celulares, gravadores, e muitas vezes dinheiro e documentos roubados. São ataques perpetrados por oficiais, funcionários públicos, militares, policiais e paramilitares. A violência é mais evidente durante as manifestações públicas, quando os jornalistas estão mais expostos, e nas dependências oficiais onde estão proibidos de entrar. Os jornalistas são muitas vezes obrigados a apagar seu material para evitar ataques ou detenções arbitrárias, ou têm seus equipamentos quebrados ou confiscados.
Em 21 de outubro, quatro pessoas não identificadas agrediram e sequestraram o fotógrafo independente Julio César Rojas durante algumas horas em Acarigua, e roubaram seus equipamentos. Elas o acusaram de ter feito uma postagem no Instagram denunciando casos de corrupção.
Várias sedes de estações de rádio foram invadidas, saqueadas, e tiveram seus equipamentos de transmissão destruídos. Também estão sendo ameaçadas de destruição se não eliminarem programas com conteúdo que incomode o governo. Outro procedimento praticado pela CONATEL é esperar até que as licenças expirem para fechar as rádios e roubar seus equipamentos.
Em muitos casos, os meios de comunicação sofrem ataques tecnológicos, como o bloqueio de portais e websites, o bloqueio do serviço telefônico ou hacking de contas pessoais dos jornalistas e executivos. Segundo a Netblocks, empresa que monitora apagões gerais na rede, o regime de Maduro foi o mais ativo do mundo em 2019 em interrupção de serviços da internet.
Diosdado Cabello continua usando seu programa Con el mazo dando para ameaçar a mídia e os jornalistas. São frequentes seus insultos contra os proprietários e jornalistas do El Nacional. Ameaçou várias vezes de expropriar as instalações do jornal para criar ali uma escola de jornalismo bolivariano.
Algumas agressões neste período:
No dia 22 de outubro, quatro homens em uma van sequestraram Julio César Rojas, fotógrafo independente do estado da Portuguesa, durante várias horas. Eles o ligaram à conta "Acarigua City", onde são feitas acusações contra pessoas com negócios ligados ao Chavismo.
No dia 24 de outubro, apoiadores de Maduro roubaram o celular de Andrés Rodríguez, repórter da ElPitazoTV. O incidente ocorreu durante um protesto, enquanto Cabello estava terminando seu discurso no palanque. Eles também tentaram roubar sua câmara.
No dia 26 de outubro, José Rivas, prefeito de Tinaco, no estado de Cojedes, ameaçou o jornalista Eduardo González, da Ritmos 96.9: "Você inventa mentiras e temos que atacar isso. Estou dizendo para a Ritmos tomar medidas imediatas, e isso não é uma ameaça".
No dia 29 de outubro, a jornalista Sulay García e o cinegrafista Castor Rodríguez, da VPITV, no estado de Apure, foram agredidos por grupos pró-governamentais durante um ato de Maria Corina Machado, líder política.
Em 30 de outubro, no estado de Anzoátegui, ordenaram o encerramento do programa de rádio "Gente de Aquí" apresentado pela jornalista Ysbelsy Hernández, no circuito Unión Radio.
Em 5 de novembro, a Conatel apreendeu equipamentos e suspendeu as transmissões da Jet 95.3 FM, em Punto Fijo, estado de Falcón.
Em 19 de novembro, o Diario Primicia, do estado de Bolívar, denunciou que uma pessoa que se identificou como repórter do jornal não pertence à sua equipe.
Funcionários da DGCIM prenderam jornalistas que cobriam uma batida: Miguel Dasilva e Roger Castillo do Caraota Digital; e Andrea Espinoza, Jonathan Bello e Danger Zorrilla da VPITV. Eles foram libertados quatro horas depois, mas seus equipamentos de trabalho e telefones celulares não foram devolvidos.
No dia 20 de novembro, sob pressão da Conatel, a estação de rádio Dinámica 95.5FM, no estado de Bolívar, tirou do ar o programa "Polémica", apresentado por Solito Decán.
Em 26 de novembro, a estação de rádio 94.5FM circuito Stereo Plus de Calabozo, estado de Guárico, retirou de sua programação o segmento "Hablan las Parroquias".
Em 29 de novembro, a Conatel recolheu os equipamentos e fechou a rádio Imagination 94.1 FM em Elorza, do estado de Apure. Seu proprietário, José Galindo, foi detido por várias horas por oficiais da Guarda Nacional. A rádio estava no ar havia um mês e a sua documentação estava em ordem.
No dia 18 de dezembro, sete funcionários do Serviço Nacional de Inteligência Bolivariana (Sebin) invadiram as instalações do Canal Venepress, em Las Mercedes. Permitiram que os funcionários saíssem depois de duas horas, mas mantiveram um representante da mídia e dois advogados lá dentro.
O regime fechou os escritórios da Venepress, acusando-a de lavagem de dinheiro, terrorismo e associação criminosa.
No dia 18 de dezembro, o portal Merida Digital foi atacado e o acesso ao seu site bloqueado por três dias. O portal sofreu três hackings em 2019.
Em 21 de dezembro, o jornalista Víctor Hugas e um congressista foram detidos arbitrariamente por um guarda-costas de Maduro. Eles foram libertados no dia seguinte.
No dia 5 de janeiro, o regime de Maduro negou o credenciamento e o acesso dos meios de comunicação nacionais e internacionais à Assembleia Legislativa, onde tinha início um novo período de sessões. Por ordem do Minci (Ministério de Comunicação e Informação), os meios de comunicação afetados foram: Globovision, La Verdad de Vargas, VP, Caraota Digital, El Nacional, Unidad, El Diario, El Nuevo País, HispanoPost, ViceNews, DPA, 800 noticias, EvTv, AP, Tal Cual, Efecto Cocuyo, Efe, AFP, VPI, VOA, Univision, Te lo cuento, ABC, NTN24, El Pitazo, Venepress, RCN, Tv Venezuela, Blu Radio, CNV24, Crónica 1, Telemundo 51 e CNN.
No mesmo dia, funcionários com coletes à prova de balas se instalaram em frente à sede da TVVnoticias e VivoPlaynet, em La Florida, Caracas.
O repórter Jesús Medina foi libertado após ficar um ano e dois meses na prisão sob acusação de instigação e conspiração.
No dia 7 de janeiro, grupos armados atacaram, roubaram e agrediram fisicamente os jornalistas Francesco Manetto, do jornal espanhol El País, e Manuel Cobela, da Venevision. Seus equipamentos e documentos pessoais foram roubados.
No dia 13 de janeiro, o jornal de Monagas anunciou que deixará de circular por falta de insumos e porque não tem combustível para fazer a distribuição nos 13 municípios do estado.
Em 24 de janeiro, jornalistas da mídia nacional e internacional foram retirados da sede do Corpo de Investigações Científicas, Penais e Criminalísticas (Cicpc), no necrotério de Caña de Azúcar, no estado de Aragua, quando tentavam descobrir detalhes sobre as pessoas que morreram em Cagua. A equipe da VPITV foi proibida de entrar.
No dia 22 de janeiro, Cabello atacou o diretor do La Patilla, Alberto Ravell, afirmando que iria atrás de todos os "traidores" que, segundo eles, estavam convocando a invasão.
A Conatel ordenou o fechamento da emissora Aventura 91.3 FM em Maracaibo, Estado de Zulia, que é parte do grupo Noticiaaldia.com, alegando o vencimento da licença.
Em 29 de janeiro, o tenente coronel da Guarda Nacional, Malaguera Hernández, manteve a jornalista Mildred Manrique nos escritórios da vice-presidência da Assembleia Nacional depois que ela fez uma pergunta a Diosdado Cabello. O documento de identificação de Manrique foi retirada.
Em 1º de fevereiro, o portal puntodecorte.com foi bloqueado pela companhia telefônica estatal Cantv, depois de publicar uma matéria especial sobre as condições da empresa.
Em 11 de fevereiro, equipes da imprensa que aguardavam a chegada de Juan Guaidó ao Aeroporto Internacional Simon Bolívar foram assediadas por funcionários de Vargas e da Conviasa e pela tropa de choque de Catia La Mar. Fora do aeroporto, vários repórteres foram agredidos fisicamente. Os agressores portavam facas.
Andreina Ramos e seu cinegrafista, Rafael Riera, da VPITV do Estado de Lara, foram retirados do Hospital Central Antonio María Pineda, em Barquisimeto, depois de serem proibidos de fazer entrevistas no local e foram levados para a direção do centro de assistência.
A 29 de fevereiro, grupos armados atacaram jornalistas e profissionais da imprensa no estado de Lara. Os agressores tinham armas de fogo, dispararam tiros no ar e procuraram os repórteres nos locais onde se abrigavam.
No dia 5 de março, Cabello, através do canal do governo, criticou o jornalista Edward Rodriguez, diretor de comunicação da Assembleia Nacional e da presidência interina da República, acusando-o de fazer uma montagem com uma notícia sobre um suposto ataque a Juan Guaidó.
Em 12 de março, funcionários da DGCIM, da Corporação Eléctrica Nacional (Corpoelec) e outros grupos intimidaram o repórter José Gregorio Rojas e a cinegrafista Claudia García, da VPITV no estado de Mérida.
Os jornalistas Darvinson Rojas e Beatriz Rodríguez foram presos por matérias sobre as pessoas afetadas pela COVID-19. Rodríguez, do jornal La Verdad de Vargas, no estado de La Guaira, foi libertada depois de ter sido pressionada a revelar as suas fontes. Rojas, do Observatório de Monitoramento de Vítimas, está detido desde 21 de março e foi acusado de instigação pública e de incitar ao ódio.