As violações à liberdade de expressão se intensificaram durante esse período. Por enquanto, não se vê uma saída a curto prazo do regime em vigor. A oposição continua dividida entre aqueles que acreditam que a tirania de Nicolás Maduro pode ser resolvida através de um confronto e aqueles que afirmam que a saída é pressionar para realizar eleições livres e participar de todas as que forem realizadas, mesmo que sejam processos fraudulentos.
O fato de maior destaque foi a tomada das instalações do El Nacional pelas Forças Armadas. Com base na ação por difamação contra o El Nacional, movida por Diosdado Cabello, o Supremo Tribunal de Justiça ordenou que o jornal pagasse a Cabello 13 milhões de dólares por danos à sua honra, por ter reproduzido informações divulgadas por Leamsy Salazar (guarda-costas de Diosdado Cabello) no jornal espanhol ABC e no jornal norte-americano The Wall Street Journal. Essas informações foram publicadas por mais de 80 meios de comunicação e pelas principais agências internacionais, e implicam Cabello em atividades ilícitas.
Como resultado dessa sentença e sem qualquer tipo de procedimento legal, o Exército tomou conta do prédio do jornal, retirou as pessoas que estavam no local, inclusive as que tinham alugado espaços no prédio. Desde então, o Exército ocupa o local sem qualquer ordem judicial como respaldo. Nessas ações, foram cometidos todos os tipos de irregularidades processuais, alinhadas às ordens arbitrárias dadas por Cabello ao sistema judiciário, a começar pelo Tribunal Supremo de Justiça.
Miguel Henrique Otero, diretor do El Nacional, disse que "a manipulação do Judiciário de modo pessoal por Cabello" era um engodo. O El Nacional, que era uma empresa de 1.100 trabalhadores com uma grande variedade de seções e revistas, viu-se reduzido a uma centena de funcionários "limitados à web". O jornal tinha espaços alugados para fundações, algumas equipes da Cruz Vermelha e um laboratório clínico, que também foram despejados.
Otero disse que continuará sua luta nos tribunais venezuelanos e recorreu a organismos internacionais para registrar o abuso. O advogado do El Nacional, Juan Garanton, pediu ao "Ministério Público que iniciasse uma investigação imparcial sobre a tomada armada das instalações". O El Nacional, fundado em 1943, encerrou a circulação de sua versão impressa em dezembro de 2018.
Durante o regime de Maduro, 115 veículos de comunicação desapareceram entre 2013 e 2018, segundo um relatório do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Imprensa (SNTP). O jornal Panorama, de Maracaibo, não pode imprimir cópias devido às imposições do regime para o fornecimento de papel, e foi destituído de seu website.
Existem muitos meios de comunicação on-line independentes atuando na Venezuela, a maioria administrados do exterior e regularmente bloqueados por ordem do Poder Executivo às companhias telefônicas. É muito difícil para esses meios de comunicação e para os poucos que restam no país fazer seu trabalho porque seus jornalistas são frequentemente perseguidos. As forças repressivas e violentas conduzidas pelo regime estão à caça dos jornalistas que cobrem as notícias, especialmente aquelas relacionadas a protestos, Covid-19 e serviços. Eles são agredidos fisicamente e têm suas câmeras e telefones celulares confiscados.
Mais de 60% da população obtém notícias pelo canal do governo. Não há mídia independente, nem televisão nem rádio. Os meios de comunicação são do governo ou atuam por meio de autocensura. Jornais e revistas não podem imprimir seu material livremente porque não há acesso a papel jornal. A internet está sujeita a bloqueios por decisão das autoridades ou a grandes restrições de acesso, e o país, que ocupava o primeiro lugar em conexão com a internet na América Latina, agora ocupa o último.
A situação da mídia é catastrófica, e a promessa do Plano da Pátria, de instaurar a hegemonia comunicacional nos moldes cubanos, está quase se cumprindo.
Algumas das principais agressões contra jornalistas e a mídia nesse período:
Em 15 de abril, o SNTP denunciou que funcionários ligados ao gabinete do governador do estado de Aragua assediaram a jornalista, correspondente do portal Crónica Uno e delegada voluntária do SNTP, Gregoria Díaz, por uma matéria sobre a escassez de leitos para pacientes com Covid-19.
Em 27 de abril, funcionários da Guarda Nacional Bolivariana (GNB) detiveram por 40 minutos, despiram e apagaram o material dos jornalistas do estado de Zulia, Edwin Prieto e Lenin Danieri, que estavam cobrindo um confronto entre Yukpas e funcionários da GNB em La Villa del Rosario.
No dia 3 de maio, o jornalista David Rodríguez, repórter do site Caraota Digital, foi intimidado por grupos que atuam na paróquia de Caricuao, Caracas, após documentar um protesto num posto de gasolina.
Em 10 de maio, o SNTP acompanhou a jornalista Carlín Rodríguez em sua exigência por justiça, sete anos depois de ela ter sido baleada no rosto enquanto participava de um protesto em Lechería, estado de Anzoategui, quando era estudante de comunicação social. Ela acusa quatro policiais e afirma que mais de dez audiências foram adiadas porque eles não comparecem ao tribunal.
Em 24 de maio, oficiais da GNB ameaçaram confiscar os equipamentos de Made Palmar, da @EVTVMiami, e Edwin Prieto, do portal Noticias Todos Ahora, enquanto eles cobriam um protesto do movimento estudantil por vacinas antivírus para residentes do setor La Limpia no estado de Zulia
Em 28 de maio, o jornalista Martí Hurtado ficou desaparecido por mais de 12 horas depois que policiais não identificados invadiram sua casa na Rua Bolívia, em Punto Fijo, estado de Falcón.
Funcionários da Conatel fecharam a estação de rádio Zeta 103,5 FM em Ocumare del Tuy, estado de Miranda, e confiscaram seus equipamentos dizendo que se tratava de um procedimento administrativo.
Em 31 de maio, no estado de Lara, os jornalistas Naikarys Cordero e Eliagnis Mora e o fotógrafo Dani Sosa, do El Informador, foram intimidados por supostos integrantes das Faes que não usavam uniformes enquanto faziam uma cobertura no posto de gasolina San Luis del Este II em Barquisimeto. Eles foram obrigados a apagar as imagens que tinham capturado e ameaçados de prisão.
Em 9 de julho, o jornalista Joan Camargo, do site Noticias Todos Ahora, foi detido nas proximidades da Quinta Crespo. Ele estava cobrindo um confronto na região oeste de Caracas.
Em 13 de julho, em uma coletiva de imprensa transmitida pela Venezolana de Televisión, Jorge Rodríguez, presidente da Assembleia Nacional, do partido do governo, acusou os sites Efecto Cocuyo e AlbertoRodNews de serem parte de uma operação midiática contra Maduro.
No dia 4 de agosto, o programa de rádio Punto de Corte, transmitido pela Radio Fe y Alegría, foi retirado do ar por ordem da Conatel, órgão regulador. O programa era apresentado pelo jornalista Johan Álvarez.
No dia 8 de agosto, no estado de Bolívar, os jornalistas Jhoalys Siverio, do El Correo del Caroni e do site Crónica Uno, e Carlos Suniaga, do site El Pitazo TV, foram intimidados e forçados a apagar vídeos de seus telefones enquanto cobriam as eleições internas do PSUV.
Em 10 de agosto, equipes de pelo menos 10 veículos de comunicação e agências noticiosas foram impedidas de cobrir a chegada da delegação que participou dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 porque não tinham sido credenciadas pelo Ministério da Comunicação nem pelo Ministério do Esporte.
Em 19 de agosto, a antena de rádio que se conecta ao sistema da estação 620 AM da Radio Fe y Alegría Noticias em Guasdualito, estado de Apure, foi roubada. Com esse, são nove furtos das estações Radio Fe y Alegría Noticias em Maturín, El Tigre e Ciudad Guayana.
Em 6 de setembro, foi noticiado que o jornalista Roland Carreño, injustamente preso desde outubro de 2020, está com saúde precária. Além da crise de hipertensão, ele contraiu Covid-19 na prisão.
Em 10 de setembro, a 2ª Vara do estado de Nueva Esparta considerou o jornalista Braulio Jatar inocente. Na 26ª audiência, ele foi declarado inocente e libertado. Jatar foi classificado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos como um prisioneiro de consciência. Ele foi preso em 3 de setembro de 2016, após publicar em seu site um protesto contra Maduro na Ilha Margarita, e acusado de lavagem de dinheiro. Ele foi preso em quatro prisões. Em 2017 foi-lhe concedida prisão domiciliar.
No dia 3 de outubro, pessoas em uniformes da Polícia Nacional Bolivariana e numa motocicleta agrediram e atiraram contra o fotojornalista Ronald Enrique Peña, do portal de TV El Pitazo, em Caracas. Ele não foi ferido, mas sua motocicleta, seus documentos e telefone foram roubados.