Este foi um dos períodos com a maior quantidade de agressões contra meios de comunicação e jornalistas e em que quatro deles foram assassinados: Moisés Dagdug Lutzow, Anabel Flores Salazar, Reinel Martínez Cerqueda e Marcos Hernández Bautista.
De acordo com registros da Comissão Nacional de Direitos Humanos (CNDH), desde 2000 até 31 de janeiro de 2016 ocorreram 109 homicídios de jornalistas; 20 jornalistas desapareceram desde 2005; e foram registrados 48 atentados contra os meios de comunicação desde 2006.
A cada 22 horas um jornalista ou meio foi agredido, e trata-se apenas do que pôde ser documentado, já que muitas agressões não são denunciadas por medo de represálias.
Entre agressões físicas, detenções arbitrárias e ameaças, houve 165 incidentes perpetrados por funcionários estaduais, municipais e, em menor medida, federais.
Cidade do México e Veracruz são os locais onde ocorreram mais agressões, com 67 cada uma, seguidas por Guerrero, com 56; Puebla, 38, e Oaxaca, 35. Cinco jurisdições do país concentram 66% das agressões.
A CNDH estima que 251 jornalistas tiveram de sair de seus locais de residência em decorrência de ameaças de morte. A maioria desses jornalistas se muda sem o apoio do governo federal, às vezes com a ajuda de outros jornalistas, porque o mecanismo de proteção do governo não tem credibilidade.
Em um clima de guerra como o que se tem em Veracruz, Guerrero, Tamaulipas, Coahuila e na maioria dos estados, o trabalho da imprensa incomoda muito os governos estaduais e municipais – que exercem o poder como verdadeiros vice-reis – e os chefões das drogas que precisam corromper e manipular essas mesmas autoridades.
Por isso aumentam as agressões, desaparecimentos e assassinatos de jornalistas, principalmente nos estados com grande presença do narcotráfico.
É evidente que quase todas as vítimas sofreram mutilação e tortura. Ou seja, não se trata só de eliminar alguém indesejado, mas também de mandar um recado, semear o terror, e manter a imprensa calada e sob controle.
Uma tendência preocupante é a violência contra mulheres jornalistas. Foram registrados 84 incidentes desse tipo durante 2015, de acordo com um relatório feito pela organização de direitos humanos Artigo 19. Depois de um incidente que ocorreu há apenas algumas semanas, o ex-prefeito e o ex-chefe de polícia do município de Silao, no estado de Guanajuato, foram presos por terem ordenado o violento ataque contra Karla Silva Gerrero, do El Heraldo, em 2014.
A internet se transformou em uma nova arma contra mulheres que trabalham como jornalistas e tem sido utilizada para atos de intimidação, assédio sexual, ameaças, campanhas de desprestígio com fortes conotações sexuais, fotomontagens difundidas com a intenção de estigmatizar a vítima e a publicação de fotografias e material privado sem consentimento.
Dos 30 ataques cibernéticos documentados em 2015 pela Artigo 19, 15 ocorreram no estado de Puebla; destes, 14 foram contra as versões digitais dos meios impressos, dez contra Centro e quatro contra La Jornada de Oriente.
Em Puebla, o governo comprou programas e software especificamente criados para vigilância ilegal e para espionar políticos, jornalistas e oponentes. O governo de Puebla foi identificado como um dos principais clientes da Hacking Team, empresa que desenvolve esse tipo de software.
Todos os casos documentados têm algo em comum: a falta de proteção e resposta do governo, seja devido a inação ou falta de transparência, somada ao fato de que a maioria dos perpetradores (135) são funcionários do governo, em comparação com 35 do crime organizado e 34 atribuídos a partidos políticos, em 2015.
Em nível internacional, o governo se vangloria das medidas que tomou para combater os ataques aos jornalistas: a criação da Promotoria Especial de Atenção a Crimes Cometidos contra a Liberdade de Expressão (FEADLE), do governo federal mexicano. Porém, a FEADLE não obteve nenhum resultado positivo em seis anos.
As principais agressões nesse período:
Em 22 de janeiro, Reinel Martínez Cerqueda, locutor de vários programas da rádio comunitária El Manantial, foi assassinado a tiros na cidade de Santiago Laollaga, Oaxaca.
Um dia antes, o repórter Marcos Hernández Bautista foi assassinado em San Andrés Huaxpaltepec, também em Oaxaca.
Em 8 de fevereiro, o corpo da jornalista Anabel Flores Salazar, que havia sido sequestrada em Veracruz, foi encontrado. Com Flores, são 17 jornalistas de Veracruz assassinados no atual mandato de seis anos do governador Javier Duarte de Ochoa.
Poucas horas depois de saber do assassinato de Flores, Álvaro Delgado, jornalista do semanário Proceso, disse no Twitter que havia recebido mensagens e imagens ameaçadoras avisando que ele havia sido sentenciado e que já havia ordens para tomar medidas contra ele.
Um dia depois, o correspondente do mesmo semanário em Guerrero, Ezequiel Flores Contreras, denunciou ter sido ameaçado de morte pelo ex-deputado do PRD, Roger Arellano Sotelo, durante uma manifestação em frente ao Congresso em protesto ao assassinato de Anabel Flores.
Aranzazú Ayala, repórter para o Lado B, jornal online de Puebla, recebeu mensagens acompanhadas pelo hastag #AniquilaUnPeriodistaPor (#AniquilarUmJornalistaPor), nas quais a acusavam de ter vínculos com o narcotráfico. A conta @SoloSoykike, de onde foram enviados os tuítes, foi eliminada. O Lado B oferece seu apoio incondicional à sua jornalista.
Em 11 de fevereiro, pessoas armadas entraram na casa do jornalista do jornal Tabasco Hoy, Pedro Sala García, o ameaçaram com uma arma e o surraram com um cano.
O correspondente do jornal sobreviveu ao ataque e foi depois internado no hospital regional onde é mantido sob observação.
Em 21 de fevereiro, o jornalista e dono da estação de rádio XEVX em Tabasco, Moisés Dagdug Lutzow, foi encontrado esfaqueado e morto em sua casa. A procuradoria abriu investigações para identificar os responsáveis pelo crime.
O empresário era considerado como um dos locutores mais críticos nos últimos meses em temas sociais. Na última edição do seu programa "De Frente a Tabasco", que foi ao ar no rádio e na TV digital, ele falou sobre linchamentos e a falta de segurança na região.
Em 11 de março, Enrique Benjamín Solís Arzola, ex-prefeito de Silao, em Guanajuato, foi preso por ser o mandante do ataque à jornalista Karla Silva Guerrero, do El Herald, e sua companheira, Adriana Palacios, nos escritórios do jornal em 4 de setembro de 2014.
Em 30 de março, Nicasio Aguirre Guerrero, ex-chefe de polícia de Silao, também foi preso por ordenar o ataque a Silva Guerrero.
Houve denúncias de que em alguns casos de desaparecimento de jornalistas as procuradorias estaduais e a própria procuradoria-geral se negaram a fornecer às vítimas as informações que solicitaram, como no caso do jornalista Ramón Ángeles Zalpa, do jornal Cambio de Michoacán, desaparecido desde 6 de abril de 2010, e de Sergio Landa Rosado, do Diario Cardel de Veracruz, cujo paradeiro é desconhecido desde 22 de janeiro de 2013.
Entre outras falhas identificadas nas investigações oficiais do desaparecimento de jornalistas observa-se a lentidão para cumprir protocolos de busca, falta de coordenação entre autoridades, duplicação de atividades investigativas, falha em fornecer informações específicas, incerteza quanto à atividade investigativa, e tratamento das vítimas como se fossem criminosos.
Em fevereiro de 2016, o Instituto Nacional Eleitoral (INE) abriu inquérito depois que quatro jornalistas da TV Azteca e Televisa fizeram comentários "negativos" sobre a necessidade de interromper as transmissões ao vivo da visita do Papa Francisco para transmitir "spots" do INE, apesar de não ser época de eleições. O INE tentou obrigar as emissoras a silenciar seus jornalistas e impor censura prévia.
As mudanças nas leis eleitorais em 2007 e 2014 obrigam os concessionários de rádio e televisão a doarem tempo no ar para anúncios eleitorais, tempo que é administrado pelo INE, e proíbem a compra ou venda de publicidade no rádio ou televisão para fins eleitorais por partidos ou cidadãos. A lei também autoriza o INE a sancionar as opiniões expressas por jornalistas do rádio e televisão.
O caso chegou ao tribunal especial (Sala Especializada da Tribuna Especializada do Poder Judicial Federal – TEPJF), que decidiu a favor das emissoras de TV, e a investigação não teve prosseguimento. A Comissão Nacional de Direitos Humanos (CNDH) também emitiu um amicus curiae sobre o caso em apoio à liberdade de expressão dos jornalistas.