Vários eventos neste semestre voltaram a colocar a liberdade de imprensa no centro do debate.
O que teve maior repercussão foram as denúncias feitas por diversos comunicadores sobre graves anormalidades na Polícia Nacional, inclusive a existência de uma rede de prostituição masculina com tentáculos no Congresso e, acima de tudo, as perseguições praticadas por esta instituição contra os jornalistas que revelaram estes fatos.
Isto se insere em uma cadeia de indícios de possível espionagem da área de inteligência do Estado, especialmente a da polícia, contra os jornalistas.
Neste contexto, a estação La FM, dirigida por Vicky Dávila, publicou outro fato chocante. Trata-se de um vídeo em que um senador e um policial mantiveram uma conversa com grande conteúdo sexual, gerando um debate sobre a liberdade de informação e a fronteira que deve haver entre a esfera privada e as atuações públicas dos envolvidos.
Alguns dias mais tarde, Vicky Dávila renunciou. Embora usando termos respeitosos com a rádio RCN, em uma entrevista concedida a Daniel Coronell e publicado na revista Semana, disse que sua saída se deveu a pressões da Presidência da República.
O Presidente Juan Manuel Santos negou a pressão, mas foi infeliz ao perguntar retoricamente se a decisão de Vicky Dávila de expor a peça audiovisual foi ou não um exemplo de bom jornalismo.
Em outro caso, membros das Farc impediram a cobertura por jornalistas de um dos eventos em que seus líderes, vindo de Cuba, compareciam para promover os acordos no departamento de Cauca. Isto gerou confusão, já que o governo tinha se pronunciado fortemente contra a divulgação destas iniciativas, depois de que uma delas, ocorrida em La Guajira, despertou fortes críticas da oposição por sua natureza pública quando deveria ter sido privada. Este fato lembrou a negociação fracassada cujo epicentro foi o município de San Vicente de Caguán, durante o governo de Andrés Pastrana (1998-2002). O Poder Executivo esclareceu rapidamente que tais restrições somente atingem as Farc e que também não houve consenso sobre a necessidade de refinar protocolos que garantam a liberdade de imprensa sem comprometer o bom andamento do processo.
A impunidade continua em diversos casos de assassinatos de jornalistas. Houve duas prescrições neste período, nos casos de Ernesto Acero e Alfredo Antonio Matiz. E embora devamos destacar o importante progresso que representaram as condenações de dois agressores de Jineth Bedoya (vítima de sequestro, tortura e violência sexual em 2000 ao investigar a existência de uma rede de tráfico de armas na principal cadeia do país), o caso ainda não foi totalmente resolvido. Mario Mejia Jaimes, vulgo El Panadero, condenado a 28 anos de prisão, aceitou as acusações de abuso sexual e sequestro. Por esses mesmos atos, também foi condenado a 11 anos e cinco meses de prisão Alejandro Cárdenas Orozco, vulgo JJ, que aceitou as acusações de sequestro e tortura, mas rejeitou sua responsabilidade no crime de estupro.
Somente houve condenações em apenas 19 casos das 145 mortes ocorridas desde 1977. Além disso, não há nenhum registro, de acordo com a Fundação para a Liberdade de Imprensa (FLIP, em espanhol), de uma única condenação de alguém que tenha ameaçado algum jornalista.
Neste período, aconteceu a iniciativa "Pitalito sem censura", por ocasião do primeiro aniversário da morte da jornalista Flor Alba Núñez. Patrocinada pela FLIP, Andiarios e Colprensa, a campanha reuniu 14 jornais que divulgaram três reportagens resultantes do trabalho de oito jornalistas que vieram a Pitalito no departamento de Huila para dar uma mensagem contundente contra os mandantes do assassinato de Flor Alba Núñez. Os jornalistas investigaram diversos tipos de máfias, supostamente ligadas aos círculos locais de poder eventualmente relacionados com o crime. O executante já foi capturado, mas nada se sabe sobre os autores intelectuais.
O Direito ao Esquecimento é um tema que gera cada vez mais preocupação, pelo crescimento no número de pedidos para a mídia de exclusão dos nomes das pessoas em notícias que ainda permanecem em seus arquivos digitais. Uma recente decisão da Corte Suprema fez uma abertura preocupante ao propor que os jornais devem manter um controle em tempo real de seus arquivos, implicando em que, tão logo mude a situação jurídica de alguma pessoa mencionada em um trabalho jornalístico, isto deva ser refletido imediatamente no artigo, algo que é praticamente impossível.
Outros fatos relevantes.
O jornalista Dorancé Herrera foi assassinado em 23 de novembro em Caucasia, na Antioquia. Não há nenhuma evidência de que as causas do seu assassinato estejam relacionadas ao seu trabalho como comunicador.
O jornalista de El Espectador, Edinson Bolaños, foi alvo de graves ameaças após publicar um trabalho com sérias acusações sobre os interesses que estariam por trás de empresas de mineração aparentemente legais atualmente em conflito com os mineiros tradicionais em Buenos Aires, Cauca. As intimidações o obrigaram a fugir da região e se estabelecer em Bogotá.
Gerou preocupação um projeto de lei de reforma do Código de Processo Penal, promovido pela Procuradoria Geral da Nação, visando expandir o arbítrio dos juízes no estabelecimento dos limites do trabalho da mídia nas coberturas de processos penais. A motivação desta iniciativa decorre dos chamados "julgamentos midiáticos", ou seja, os processos que despertaram enorme interesse na opinião pública nos últimos tempos e sobre os quais se pretende diminuir a cobertura jornalística.
Uma sentença do Conselho de Estado responsabilizou e condenou o Estado colombiano pela morte do jornalista Efraín Varela, ocorrida em Arauca, em 28 de junho de 2002. Este tribunal superior reconheceu a cumplicidade de membros do Exército que facilitaram as ações do grupo paramilitar "Vencedores", responsável pelo crime.
A atitude hostil do prefeito de Yopal, Casanare, contra a imprensa local é preocupante. O funcionário está envolvido em um processo penal, já tendo aceitado acusações de urbanização ilegal e estando preso desde o início de março. Seus funcionários foram denunciados por obstruir o trabalho da imprensa.
Gerou inquietação a ação de tutela em que a diretora do Instituto Colombiano de Bem-estar Familiar, Cristina Plazas, pediu o encerramento da conta do jornalista Gonzalo Guillén no Twitter, na qual teria recebido fortes críticas.
O jornalista da Rádio Caracol, Pascual Gaviria, foi alvo de ameaças de morte em outubro. Mensagens ameaçadoras chegaram à sede da emissora assim que Pascual Gaviria manifestou opiniões sobre o processo de paz e denunciou práticas questionáveis para assegurar os votos de eleitores na campanha de Luis Pérez, então candidato ao governo de Antioquia.
Em dezembro, o Centro Nacional da Memória Histórica publicou: "A palavra e o silêncio. A violência contra os jornalistas na Colômbia 1977-2014", de Germán Rey. Foi considerado o trabalho mais completo sobre a violência contra o jornalismo durante o conflito armado.
Já se passaram 30 anos do assassinato de Guillermo Cano. Embora declarado crime contra a humanidade, não houve nenhum progresso na investigação deste caso.