Neste último semestre, uma grave ameaça à liberdade de imprensa em nosso país veio à luz devido a um escândalo de espionagem, interceptação e controle das comunicações telefônicas de uma jornalista do diário ABC Color pelas altas autoridades das Forças Armadas, sem permissão judicial e em flagrante violação de vários artigos da Constituição e do Código de Processo Penal.
Houve também novos atentados contra jornalistas e meios de comunicação. Vários comunicadores denunciaram ameaças de funcionários governamentais e autoridades políticas, e existem obstáculos para o cumprimento da Lei de Acesso à Informação Pública.
Em junho, manifestantes que apoiam a prefeita municipal de Ciudad del Este, Sandra McLeod de Zacarías, da Associação Nacional Republicana (ANR), Partido Colorado, e a ex-conselheira e presidente da seccional Aída Molinas da ANR, agrediram fisicamente o diretor do diário Vanguardia, Nelson Zapata. O jornalista sofreu lesões na cabeça, fratura em uma costela e denunciou a ocorrência ao Ministério Público de Ciudad del Este.
Em junho, o senador da ANR, Víctor Bogado, iniciou uma queixa-crime por suposta difamação, calúnia e injúria contra o diretor do diário ABC Color, Aldo Zuccolillo, reivindicando 500 milhões de guaranis (aproximadamente 90.000 dólares) para reparar danos com base em comentários feitos em maio em uma entrevista concedida ao diário La Nación quando o acusou de "agiota" e "vagabundo".
Dias antes Bogado foi denunciado à Unidade da Procuradoria de Crimes Econômicos e Combate à Corrupção pela Coordenadora de Advogados, que exigiu a abertura de uma investigação por cobrança indevida de honorários, enriquecimento ilícito e tráfico de influências com base em investigações publicadas no diário ABC Color sobre o salário de Cinthia Centurión Amarilla, empregada doméstica da família de Bogado que recebia salários como funcionária da Justiça Eleitoral. Bogado é conhecido pelo caso da "babá de ouro". Gabriela Quintana Venialgo tinha dois contratos, um como funcionária da Câmara dos Deputados e outro como funcionária da empresa binacional Itaipu e ganhava 17.000.000 de guaranis (cerca de 3.000 dólares americanos) por mês, embora fosse babá das filhas de Bogado. A Procuradoria apresentou sua acusação em outubro de 2013, mas o processo continua parado.
A equipe jurídica do diretor do ABC Color solicitou a cassação do senador para dar igualdade de condições ao litígio. A Câmara de Recursos ainda não se pronunciou sobre o caso.
Em julho, seguidores da prefeita municipal de Ciudad del Este, Sandra McLeod de Zacarías (ANR), agrediram fisicamente o fotógrafo do diário Vanguardia, Ever Portillo, quando captava imagens de uma briga na praça onde os seguidores de McLeod comemoravam o indeferimento do pedido de diversas organizações sociais, contrárias à intervenção da municipalidade.
Em setembro, desconhecidos lançaram uma granada que explodiu sobre o teto da Rádio Amambay, na cidade de Pedro Juan Caballero, departamento do Amambay, uma cidade situada a cerca de 500 quilômetros de Assunção. A emissora pertence à família do senador do Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA) e atual presidente do Senado, Robert Acevedo, e ao seu irmão, o prefeito local José Carlos Acevedo. Duas pessoas ficaram feridas no atentado, mas os seus autores não foram identificados.
Em setembro, dois desconhecidos em motocicletas dispararam contra o jornalista Mario Dante, da rádio San Luis FM da localidade de General Delgado, Itapúa. Mario Dante voltava para casa depois de divulgar uma gravação em que o deputado Édgar Ortiz, do Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA), manifestava que graças a ele a Municipalidade de General Delgado, cujo prefeito é o liberal Florentín Benítez, não sofreu intervenção.
Em setembro, a chefe de Relações Públicas da Polícia, a delegada Elisa Ledesma, apresentou a possibilidade de retirar total ou parcialmente os guarda-costas do jornalista e correspondente do diário ABC Color Cándido Figueredo em Pedro Juan Caballero, que recebe ameaças constantes e cujo escritório nesta cidade já foi alvo de tiros em várias ocasiões. Por mais de duas décadas, Figueredo viveu sob proteção policial 24 horas por dia, depois de anos recebendo ameaças de morte por sua cobertura sobre o crime organizado e o narcotráfico. Em 2015, recebeu o prêmio Internacional para a Liberdade de Imprensa do CPJ.
Em 2 de julho, começou a interceptação das comunicações do celular corporativo de uma jornalista do ABC Color que publicou uma série sobre a esposa do comandante das Forças Armadas, general Luis Gonzaga Garcete, que mostra como ela recebeu salário sem trabalhar. Os militares obtiveram todos os números telefônicos que a repórter chamou e das ligações que recebeu.
Para interceptar as comunicações da jornalista, o general Gonzaga Garcete enviou para Assunção equipamentos e funcionários destinados especificamente a lutar contra o grupo terrorista Exército do Povo Paraguaio (EPP). Com o enfraquecimento da unidade militar no norte da Região Oriental, em 27 de julho, ocorreu o sequestro do adolescente menonita Franz Wiebe pelo EPP, nesta região.
Realizou-se espionagem sem o conhecimento do Ministério Público, sem permissão judicial para interceptar legalmente as comunicações e em violação de vários artigos constitucionais e do Código de Processo Penal sobre a inviolabilidade das comunicações.
Diversas organizações públicas e privadas se pronunciaram em defesa da liberdade de imprensa e contra a espionagem com fins alheios às funções militares, usando equipamentos e pessoal da área de Inteligência.
Confirmou-se o fato de que, em 2 e 4 de julho, foram interceptados dados das chamadas feitas e recebidas pela jornalista do diário ABC Color que investigava a cúpula militar e que, em 30 de agosto, o Ministério Público declarou ilegal a operação por falta de mandado judicial. Em 12 de setembro, o ministro da Defesa, Diógenes Martínez, anunciou em coletiva de imprensa que colocaria toda a estrutura do Ministério da Defesa à disposição do Executivo para as investigações e comentou que a divulgação de certos documentos favorece a apresentação do processo à Justiça Militar.
Em setembro, o diário ABC Color publicou documentos que provam a presença de militares infiltrados na passeata estudantil de setembro de 2015, em passeatas do Partido Paraguay Pyahurã (PPP) e em atividades cívicas como as últimas eleições municipais realizadas em novembro de 2015. Em 8 de setembro, um grupo de 50 estudantes da Federação Nacional de Estudantes Secundários (Fenaes) se manifestou em frente à Mburuvicha Róga (residência oficial do Presidente da República) para protestar contra o presidente Horacio Cartes por haver ordenado a infiltração de efetivos das Forças Armadas (FF. AA.) em passeatas de organizações estudantis, de camponeses e de esquerda.
Em 16 de outubro deste ano fazem dois anos do assassinato do jornalista Pablo Medina, correspondente do ABC Color, quando também perdeu a vida a sua companheira Antonia Almada. O caso nem chegou a uma audiência preliminar -que é a etapa prévia ao julgamento oral e público – porque a Câmara de Recursos, integrada por Gustavo Brítez, Belén Agüero e Carlos Domínguez ainda não decidiu sobre as manobras meramente protelatórias da defesa.
Perante o indeferimento do Comando das Forças Armadas que declarou como "secreto e reservado" o currículo do General Luis Gonzaga Garcete, comandante das Forças Armadas, a jornalista do ABC Color, Mabel Rehnfeldt, apresentou recurso em 28 de setembro passado, Dia Internacional de Acesso à Informação Pública, solicitando mandato de segurança contra o chefe militar supracitado.
A ação, distribuída ao tribunal penal de garantias número cinco, a cargo do magistrado Alcides Corbeta, solicita conhecimento dos antecedentes do Gal. Garcete, considerando que não existe nenhuma lei da República que defina como secreta ou reservada a informação solicitada. O pedido de acesso ao currículo foi realizado no contexto de uma investigação jornalística sobre atos de corrupção.
Autoridades estatais, a sociedade civil e especialistas estrangeiros comemoraram em 28 de setembro passado o Dia Internacional do Direito de Acesso Universal à Informação.