Nos últimos meses, os ataques à liberdade de expressão se ampliaram e se intensificaram. A isso se soma o fato de a mídia impressa estar impossibilitada pelo governo de adquirir papel jornal, o que forçou alguns meios a encerrar suas operações impressas e manter uma presença online. As rádios, por outro lado, tiveram recusadas suas tentativas de renovar suas licenças.
Os ataques não fazem distinção entre meios de pequeno ou grande porte ou jornalistas individuais. Membros do governo, órgãos policiais e militares estão fazendo uma ação conjunta para evitar a divulgação de notícias. Isso ocorre com mais frequência em relação a quatro temas: as longas filas para comprar comida e remédios, a crise dos serviços de utilidade pública, as manifestações públicas e a cobertura da violência relacionada à atividade criminosa.
Estas ações não se limitam às ameaças, prisões arbitrárias e agressões físicas. Alguns desses incidentes são altamente perigosos. Um repórter gráfico de Barinas ficou na mira de balas por filmar o cordão miliar que estava bloqueando a passagem de uma manifestação pacífica e legal. O jornalista chileno-venezuelano, Braulio Jatar, foi preso ilegalmente e transferido de uma prisão a outra, por um vídeo divulgado no seu portal sobre um protesto contra Nicolás Maduro. Quatro membros de uma equipe de produção foram detidos por fazer um vídeo para um partido político e outros jornalistas os acusaram de terroristas, apenas por exercerem sua profissão.
O governo de Maduro vem realizando uma campanha de perseguição contra os jornalistas: espancando-os brutalmente, roubando seus equipamentos e ameaçando-os se denunciam os incidentes. Esses ataques são frequentemente perpetrados por civis que atuam sob a proteção de agentes uniformizados. Os eventos dos últimos meses confirmaram os vínculos do governo com grupos criminosos e paramilitares.
Instalações dos meios de comunicação continuam sendo atacadas. Elas são alvo de disparos durante a noite. Lançam fezes contra elas, como aconteceu com o El Correo del Caroní e o El Nacional, e coquetéis Molotov são usados para provocar incêndios.
As instituições do governo não averiguam as denúncias. Não investigam. Permanecem caladas. Na verdade, são cúmplices desses incidentes, como no caso de um tribunal no estado de Barinas que, em 23 de agosto proibiu os três jornais dessa região de informar sobre as notícias que ligam Adán Chávez, irmão do ex-presidente Hugo Chávez, aos casos de corrupção. Outro exemplo é o necrotério de Caracas que ergueu uma cerca imensa para impedir a entrada dos jornalistas.
Vários funcionários do governo têm programas de televisão e rádio que usam para amedrontar, difamar e atacar a credibilidade dos jornalistas independentes. Esses funcionários públicos incluem o presidente Maduro, Diosdado Cabello, José Vicente Rangel e Francisco Ameliach, governador do estado de Carabobo.
A seguir, os fatos de maior destaque desse período:
Em 13 de abril, o repórter gráfico Miguel González foi agredido e roubado por simpatizantes do governo próximo ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE), após cobrir a entrega de mais de 2.000 assinaturas ao CNE pela Mesa da Unidade Democrática (MUD).
Em 19 de abril, o presidente da Venezolana de Televisión denunciou que a sede do canal estatal havia sido alvo de ataques.
Em 21 de abril, um grupo de jornalistas da Globovisión foi agredido por funcionários da Guarda Nacional Bolivariana (GNB) nas instalações do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) enquanto cobriam um grupo de deputados que se acorrentaram às escadas para exigir um referendum revogatório contra Maduro.
Em 22 de abril, a jornalista Mildred Manrique foi transferida para uma clínica depois de ser espancada por militares da Guarda Nacional Bolivariana na sede do Conselho Nacional Eleitoral.
Em 11 de maio, o jornalista Pedro Rojas, secretário de imprensa do vereador José Luis Calderón, foi ferido com balas de chumbo quando filmava o cordão de segurança da GNB que estava bloqueando uma manifestação de oposição que se dirigia para os escritórios regionais da CNE para exigir que se iniciasse o processo revogatório.
Disodado Cabello, ao falar no seu programa intitulado "Com el mazo dando" ("Fazendo a nossa parte") confirmou que manterá sua ação contra os proprietários do El Nacional, La Patilla, e Tal Cual, e também contra o Wall Street Journal por tê-lo descrito como traficante de drogas. Os jornais reproduziram essa descrição de uma matéria anterior do jornal espanhol ABC.
Em 18 de maio, o líder do Partido Socialista Unido, Jorge Rodríguez, informou que moverá ação civil e penal contra o El Nacional (versão online), La Patilla, Noticias Venezuela, e Reporte Confidencial, entre outros, pela publicação de uma matéria sobre suposta denúncia de agressão de uma jovem mulher contra ele.
Em 19 de maio, durante a cobertura de um evento político da Mesa da Unidade Democrática (MUD), no estado de Vargas, Nadeska Noriega, jornalista do El Pitazo e do El Universal, foi agredida por um simpatizante do Partido Socialista da Venezuela (PSUV).
Em 19 de maio, o jornalista Rodrigo Lahoud e o repórter gráfico Mario Sánchez, da Falconiana TV, foram acusados de terrorismo pelo comandante do 13º Destacamento de Segurança Urbana enquanto fotogravam a sede da unidade.
Em 25 de maio, o jornalista colombiano César Flechas, enviado da Caracol Radio a Caracas, foi detido durante três horas por funcionários da Guarda Nacional Bolivariana (GNB) quando fazia a cobertura de uma fila para comprar produtos de primeira necessidade no mercado Abasto Bicentenario na Plaza Venezuela. Flechas foi acusado de ser paramilitar.
Em 2 de junho, as equipes jornalísticas da Vivo Play e NTN24 foram agredidas durante uma manifestação em Caracas. A jornalista Andrea Cedeño, o cinegrafista e o chofer foram retirados do seu veículo e colocados no chão, onde tiveram uma ama apontada contra eles enquanto seus equipamentos eram roubados.
Em 9 de junho, José Leonardo Valero, repórter gráfico de Noticias Digital, teve que fugir de civis armados e se refugiar em uma casa, em meio à cobertura de uma manifestação pela falta de comida realizada pelos moradores da avenida Universidad e o bairro La Vuelta de Lola, na cidade de Mérida.
Em 10 de junho, funcionários da Comissão Nacional de Telecomunicações (Conatel), escoltados pela GNB, fecharam a emissora La Barinesa, em Barinas, alegando que a licença da rádio havia vencido em 2014. Os jornalistas, porém, afirmam que o fechamento foi em retaliação pelas opiniões disseminadas pela rádio.
Em 14 de junho, a sede do jornal Correo del Caroní em Puerto Ordaz, estado de Bolívar, foi atacada por cinco pessoas não identificadas que jogaram sacos contendo fezes de animais contra o prédio.
Em 17 de junho, um ataque igual foi feito contra a sede do El Nacional.
Pableysa Ostos, correspondente do Correo del Caroní, informou que ela e outros dois jornalistas do estado de Bolívar (Jhon Buchelly, do El Diario de Guayana; e Yusbeyris Letidel de Primicia), foram agredidos verbalmente por funcionários da GNB quando investigavam a suposta prisão de quatro pessoas por militares na região.
Em 20 de junho, a sede do jornal El Aragüeño, em Maracay, estado de Aragua, foi atacada com um explosivo lançado por duas pessoas em uma moto.
Em 25 de junho, o Serviço de Inteligência Bolivariano (Sebin) interrogou três jornalistas: Román Camacho, do La Patilla e Yosselin Torres e Darvinson Rojas do El Pitazo. Eles queriam que os jornalistas revelassem suas fontes para um vídeo do Banco Central da Venezuela que havia sido vazado.
Em 30 de junho, em meio a saques em Tucupita, estado de Delta Amacuro, a Radio Fe y Alegria denunciou que "por ordens da governadora" a energia elétrica havia sido cortada, para que a estação não continuasse fazendo suas reportagens ao vivo.
Em 13 de julho, depois de se apresentar no Palácio de Justiça de Maracay, estado de Aragua, o jornalista e ativista político Alejando Ledo foi perseguido por pessoas que se identificaram como sendo da "segurança do Estado", mas não esclareceram a que entidade pertenciam. Eles o forçaram a entrar em um veículo e o mantiveram lá enquanto dirigiam pela zona norte de Maracay por cinco horas.
Em 14 de julho, enquanto faziam a cobertura de uma manifestação convocada pela Mesa da Unidade Democrática (MUD) em Guaira, estado de Vargas, com a presença do governador do estado de Miranda, Henrique Capriles, e deputados de oposição, os repórteres Rafael Hernández de NTN24 e Ricardo Sánchez do portal RicarloLoDice foram agredidos por simpatizantes do governo.
Em 21 de julho, a jornalista Carolina Isava, correspondente da Radio Caracas, no estado de Sucre, foi perseguida e ameaçada por funcionários do Serviço de Inteligência Bolivariano (Sebin) em meio à cobertura de uma visita à região de deputados que pertenciam à Mesa da Unidade Democrática (MUD).
Em 11 de agosto, quatro jornalistas foram espancados durante uma operação especial do Centro de Investigações Científicas, Penais e Criminalísticas (CICPC) no Centro Comercial Cosmos, em Barquisimeto, Estado de Lara.
Em 12 agosto, durante a cobertura de um protesto de médicos no Hospital Central de Maracay, o repórter gráfico Luis Torres, do jornal El Siglo, foi agredido e roubado por um grupo de 12 pessoas que também espancaram os manifestantes, rasgaram faixas, e roubaram telefones celulares que as pessoas estavam usando para gravar o protesto.
Em 15 de agosto, um funcionário do Serviço de Inteligência Bolivariano (Sebin) intimidou o repórter gráfico Marcos De Gouveia, do jornal Periódico de Occidente, durante a cobertura de uma manifestação do setor de transporte em Acarigua. O funcionário, Nelvis Rea, forçou o repórter a apagar as fotografias que havia tirado.
Em 22 de agosto, dois homens armados entraram nos escritórios do portal digital Crónica Uno, dominaram duas pessoas e roubaram seus equipamentos de computação e codificadores.
Em 24 de agosto, duas pessoas armadas dispararam cerca de 30 vezes contra a porta principal do jornal Los Andes de Trujillo. O ataque não deixou feridos nem mortos, apenas danos materiais.
Em 31 de agosto, um grupo de pessoas mascaradas em uma caminhonete lançou coquetéis Molotov e fezes contra a sede principal do jornal El Nacional. Eles deixaram um panfleto endereçado ao editor do jornal, Miguel Henrique Otero, e assinado por uma organização identificada como "Chama o povo à luta" [a palavra "Chama" é uma combinação de "Chávez" e "Maduro"].
Em 1º de setembro, o governo impediu a entrada de jornalistas do jornal francês Le Monde, da rádio americana NPR e da rádio colombiana Caracol Radio, que haviam ido a Caracas para fazer a cobertura das manifestações contra o governo.
Na "tomada de Caracas" e outras mobilizações dos setores de oposição da Venezuela, a organização Espacio Público documentou 12 violações da liberdade de expressão envolvendo um total de 20 vítimas, inclusive jornalistas, fotógrafos, cinegrafistas, e meios de comunicação.
Em 3 de setembro, Braulio Jatar, chileno-venezuelano e editor do portal Reporte Confidencial, foi detido com outras 30 pessoas após uma altercação em Isla Margarita. Todos os detidos foram soltos durante o fim de semana, menos Jatar.
Em 5 de setembro, Alejando Puglia, diretor do Departamento de Monitoramento e Avaliação da Presidência da Assembleia Nacional, foi detido pela juíza Yesenia Maza, de Caracas. Seu crime: operar um drone durante a manifestação realizada em Caracas na quinta-feira, 1º de setembro.
Em 14 de setembro, a Organização das Nações Unidas e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos alertaram sobre uma deterioração da liberdade de imprensa na Venezuela. Os relatores sobre a liberdade de expressão – David Kaye, da ONU, e Edison Lanza, da CIDH – chamaram a atenção para o fato em um comunicado conjunto sobre prisões, interrogatórios e confisco de equipamentos de pelo menos sete jornalistas e funcionários da mídia recentemente.
Em 20 de setembro, funcionários da inteligência chegaram à casa de Andrés Eloy Moreno Febres com uma "suposta ordem de levá-lo preso", exibida em um celular, não em um documento impresso. Vários dias depois, seus familiares denunciaram o que consideraram ser uma "prisão arbitrária" do jovem por funcionários do Sebin. Moreno Febres participou, com Marco Trejo, César Cuellar e James Mathison da produção de um vídeo do partido Primero Justicia. Os quatro estão presos.